• Marília Marasciulo
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Como fazer um lockdown? Cientistas russos podem ter a resposta (Foto: Harry Gillen/Unsplash)

Como fazer um lockdown? Cientistas russos podem ter a resposta (Foto: Harry Gillen/Unsplash)

Impor um lockdown como estratégia de combate à pandemia é uma decisão que deve levar em conta tanto o número de infectados quanto os impactos econômicos. Conforme a economia dos países continua sendo prejudicada, os cidadãos passam a questionar seus governantes sobre a eficácia desse tipo de medida. Buscando a forma mais eficaz e menos danosa à atividade econômica, pesquisadores russos modificaram o modelo atual de predição da pandemia para incluir novas variáveis.

O modelo comportamental epidemiológico mais conhecido é o SIR (Suscetível, Infectado e Recuperado). Por essas três variáveis, ele descreve, matematicamente, o comportamento de transmissão de uma doença. Derivam dele outros modelos, como o SEIR (Suscetível, Exposto, Infectado e Recuperado), que conta com uma variável a mais nas projeções.

Um novo modelo
A cidade de São Petersburgo está na linha de frente no combate à Covid-19 na Rússia. Lá está localizada a sede da Universidade Politécnica de São Petersburgo Pedro, o Grande (SPBPU), onde pesquisadores desenvolveram um novo modelo de SIR voltado para a tomada de decisão por parte de líderes regionais. Descrito em um estudo publicado no periódico International Journal of Technology em dezembro de 2020, o modelo busca justamente balancear os impactos epidemiológicos e econômicos.

No artigo, os pesquisadores Aleksey Borovkov, Marina Bolsunovskaya, Aleksei Gintciak e Tatiana Kudryavtseva introduziram ao SEIR uma nova variável, correspondente aos indivíduos quarentenados.

“Essa modificação no SEIR permite que o número de indivíduos suscetíveis à infecção possa ser ajustado na modelagem dos dados de acordo com os cenários de isolamento. Isso significa que o modelo se torna mais preciso, uma vez que a redução de indivíduos em contato durante a pandemia é, objetivamente, algo presente na sociedade", escreveram os autores no artigo. "Além do mais, essa modificação cria a possibilidade de modelar cenários, o que dá acesso a consequências epidemiológicas das várias estratégias para conter a disseminação de uma doença infecciosa em determinada região.”

Resultados
Esse novo modelo foi testado em dados da cidade de São Petersburgo. Foram necessários seis experimentos para avaliar o impacto das medidas de quarentena. Os dados iniciais para cada experimento incluíram setores da economia em isolamento, o que possibilitou indicar o momento das medidas de lockdown.

Em um primeiro grupo de experimentos, os pesquisadores demonstraram que a dinâmica da disseminação do vírus tem uma dependência não-linear do número de trabalhadores empregados nos setores da economia em isolamento. Por exemplo, o isolamento de três setores, que correspondem a aproximadamente 42% do total de empregados, reduz o pico de pessoas infectadas em 6,2 vezes, e o total de pacientes em 4,83 vezes. Já o isolamento de seis setores, correspondentes a 80% dos empregados, reduz o pico de pessoas infectadas em 75 vezes e o total de pacientes em 56 vezes.

O segundo grupo de testes revelou que a introdução de medidas para isolar a economia e as atividades públicas nos estágios iniciais do contágio pode reduzir a incidência da doença e adiantar o fim da pandemia. Da mesma forma, uma introdução tardia das medidas de isolamento afeta a dinâmica do contágio e aumenta sua extensão. Com base nos resultados, concluiu-se que a melhor estratégia para conter a doença é decretar o isolamento total o mais cedo possível.