• Redação Galileu
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Reparação histórica por racismo pode ter ajudado a diminuir a transmissão da Covid-19 nos EUA (Foto: Markus Spiske / Unsplash)

Reparação histórica por racismo pode ter ajudado a diminuir a transmissão da Covid-19 nos EUA (Foto: Markus Spiske / Unsplash)

Um novo estudo publicado na revista científica Social Science & Medicine sugere que reparações monetárias para os descendentes negros de pessoas escravizadas nos Estados Unidos poderiam ter reduzido a transmissão do Sars-CoV-2 e diminuído as taxas de Covid-19 tanto entre afrodescendentes quanto entre o restante da população norte-americana.

Os pesquisadores, liderados por uma equipe da Escola de Medicina da Universidade Harvard,  modelaram o impacto da doença e do racismo estrutural na transmissão do coronavírus no estado da Louisiana, um dos locais historicamente com maior segregação por raça do país. 

Em comparação a pessoas brancas, os cidadãos norte-americanos negros têm maior probabilidade de ser infectados pelo Sars-CoV-2, além de mais propensos a ser internados com Covid-19 e morrer devido à doença. E isso traz efeitos para todo mundo — não fossem tamanhas desigualdades, a disseminação do novo coronavírus poderia ter sido 68% menor, segundo o estudo.

Os autores sugerem que reparações aos descendentes de negros escravizados nos EUA também podem ter benefícios na saúde pública de toda a nação. "Embora existam argumentos morais e históricos convincentes para intervenções de injustiça racial, como reparações, nosso estudo demonstra que reparar os danos causados ​​pelo legado da escravidão e do racismo teria enormes benefícios para toda a população dos Estados Unidos", diz, em nota, Eugene Richardson, professor assistente de saúde global e medicina social no Instituto Blavatnik da Escola de Medicina de Harvard e autor sênior do estudo.

Abordar as desigualdades estruturais que estão na origem dessa disparidade por meio de reparações monetárias não apenas diminuiria radicalmente o impacto da Covid-19 entre as pessoas que receberam reparações, afirmam os autores, mas reduziria o alcance geral da doença em uma escala mais ampla, beneficiando toda a população.

"Se extrapolarmos esses resultados para todos os Estados Unidos, podemos imaginar que dezenas ou centenas de milhares de vidas teriam sido poupadas e toda a nação teria sido salva", reitera Richardson.

Para sondar como essas desigualdades estruturais afetam a transmissão do Sars-CoV-2, os pesquisadores examinaram as taxas de infecção ao longo do tempo durante os primeiros dois meses da epidemia. Durante a fase inicial do surto na Louisiana, cada pessoa infectada espalhou o vírus para 1,3 a 2,5 pessoas a mais do que um indivíduo infectado durante a mesma fase do surto na Coreia do Sul, por exemplo. O estudo também aponta que a Louisiana demorou mais do que o dobro do tempo para controlar a onda inicial da epidemia do que o país asiático.

Os cientistas também usaram matrizes de próxima geração para avaliar como a superlotação, a segregação e a diferença de riqueza entre negros e brancos na Louisiana poderiam ter causado taxas de infecção mais altas e como as reparações monetárias afetariam a transmissão viral.

O modelo mostrou que uma maior igualdade entre negros e brancos pode ter reduzido as taxas de transmissão de infecção em qualquer lugar de 31% a 68% para cada pessoa no estado. "Aumentar a igualdade teria enormes benefícios nas taxas de infecção para todos", enfatiza Momin Malik, coautor da pesquisa.