• Redação Galileu
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Pandemia de coronavírus pode aumentar trabalho escravo no mundo; entenda (Foto: Unsplash)

Pandemia de coronavírus pode aumentar trabalho escravo no mundo; entenda (Foto: Unsplash)

A interrupção econômica criada pela pandemia de Covid-19 pode aumentar consideravelmente o número de pessoas forçadas ao trabalho escravo em todo o mundo. Esta foi a conclusão de pesquisadores das Universidade de Sussex e de Nottingham, na Inglaterra, e de Kassel, na Alemanha, que conduziram um estudo sobre o tema. O artigo foi publicado na edição de junho do Journal of Risk Research.

Com a crise econômica acarretada pela disseminação do novo coronavírus, algumas empresas estão precisando agir (produzindo mais ou reduzindo custos). Além disso, o monitoramento de condições ilegais de trabalho foi em grande parte reduzido ou interrompido por conta da pandemia.

Segundo os cientistas, na pressa de responder às emergências econômicas, os governos também relaxaram as restrições criadas para limitar o risco da escravidão moderna. Exemplos incluem o governo do Reino Unido, que permitiu que os provedores de mão-de-obra forneçam temporariamente força de trabalho sem a licença usual necessária. Outro exemplo é o governo dos Estados Unidos, que suspendeu a proibição de importação de um fabricante malaio de luvas médicas acusado de usar trabalho forçado.

"A pandemia de Covid-19 destacou os problemas perversos que o gerenciamento sustentável da cadeia de suprimentos enfrenta", afirmou Martin Schleper, coautor da pesquisa, em comunicado. "Sabemos que as cadeias de suprimentos que priorizam as metas de eficiência a curto prazo são particularmente fracas para lidar com choques, o que as fazem tomar medidas não aprovadas com maiores riscos sociais, incluindo a escravidão moderna."

Entre as indústrias citadas na pesquisa que provavelmente tiveram um aumento no trabalho escravo estão a de vestuário e da agricultura. O documento alerta que o fracasso das marcas de roupas ocidentais causa dificuldades financeiras aos trabalhadores mal remunerados, deixando eles e suas famílias ainda mais vulneráveis ​​a práticas de emprego exploradoras no mesmo ou em outros setores.

Além disso, o fechamento de fronteiras e restrições de movimentação estão criando escassez de mão-de-obra em setores como a agricultura. Os governos nacionais têm lutado para preencher essas vagas com trabalhadores locais, o que abre precedente para a exploração de mais pessoas, à medida que as empresas querem evitar prejuízos.

“Nossa pesquisa identificou várias maneiras pelas quais o choque global de oferta e demanda resultante da Covid-19 aumentou a vulnerabilidade dos trabalhadores à escravidão moderna", disse Alexander Trautrims, coautor da pesquisa. "Isso inclui compradores, que com necessidade urgente de ampliar sua base de fornecedores, deixaram de avaliar [se as empresas de que compram financiam] a escravidão moderna."

Os pesquisadores também ressaltam que o distanciamento social e outras medidas de bloqueio tornaram muito mais difícil para as vítimas da escravidão encontrarem ajuda. Restrições de viagem e medidas de quarentena tornaram impossíveis as auditorias físicas de fornecedores e suas forças de trabalho.

Para Stefan Gold, que também participou do estudo, a crise também é uma oportunidade para empresas repensarem suas cadeias de suprimentos e relações comerciais. "Empresas com gerenciamento pró-ativo e valores (...) agora podem provar sua superioridade em comparação com outras abordagens à distância", afirmou o especialista.