• Vanessa Centamori
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Dubai, Emirados Árabes   O primeiro vagão do metrô de Dubai deu a Ryan Koopmans esta visão dos edifícios da cidade. A paleta de cores diversas chamou a atenção do fotógrafo.  (Foto: Ryan Koopmans)

Dubai, Emirados Árabes: o primeiro vagão do metrô de Dubai deu a Ryan Koopmans esta visão dos edifícios da cidade. A paleta de cores diversas chamou a atenção do fotógrafo. (Foto: Ryan Koopmans)

Ryan Koopmans já viveu altas aventuras — literalmente. Em suas viagens a cidades de todos os cantos do mundo, o fotógrafo holandês de 33 anos está sempre em busca do ponto mais alto possível. Tudo para retratar o cenário urbano com um olhar único.

Uma de suas maiores empreitadas aconteceu em 2015, quando ele convenceu a equipe que trabalhava em uma construção em Erbil, no Curdistão iraquiano (região do Iraque ocupada por povos Curdos), a amarrá-lo em uma corda presa a um guindaste. O objetivo: chegar ao topo de um prédio que ainda estava em construção, mas já era um dos mais altos da cidade. As imagens que registrou lá de cima fazem parte do ensaio Kurdistan Rising (Ascensão do Curdistão, em português), que mostra o contínuo desenvolvimento urbano e geométrico da maior metrópole do território e suas construções de concreto.


Mas o que Koopmans busca retratar vai além da simetria dos edifícios. Tem a ver com o que ele chama de “poesia da forma”. Os arranha-céus, que representam o caos em outros lugares do mundo, em Erbil são um oásis — ainda que urbano. A cidade fica a apenas 80 km de distância de uma área onde acontecem confrontos entre o exército iraquiano e o grupo fundamentalista Estado Islâmico.

Batumi, Geórgia O design ondulado do prédio impressiona por si só. Mas o olhar de Koopmans se voltou para os tecidos pendurados na varanda, quebrando a aparente monotonia de formas e cores do edifício.  (Foto: Ryan Koopmans)

Batumi, Geórgia: o design ondulado do prédio impressiona por si só. Mas o olhar de Koopmans se voltou para os tecidos pendurados na varanda, quebrando a aparente monotonia de formas e cores do edifício. (Foto: Ryan Koopmans)

Contextos políticos e socioculturais como esse estão sempre por trás das construções registradas pelo fotógrafo. “Acho que as cidades e as coisas que construímos são muito fascinantes”, declara Koopmans em entrevista à GALILEU. “Elas dizem muito sobre um local e sua cultura, e revelam uma transição de tempo e história.”

Hong Kong, China O hotel Ritz-Carlton de Hong Kong é o maior do mundo, com 118 andares e 490 metros de altura. O fotógrafo subiu até a cobertura para fazer este clique em que os prédios formam uma escada.   (Foto: Ryan Koopmans)

Hong Kong, China: o hotel Ritz-Carlton de Hong Kong é o maior do mundo, com 118 andares e 490 metros de altura. O fotógrafo subiu até a cobertura para fazer este clique em que os prédios formam uma escada. (Foto: Ryan Koopmans)


Alguns dos cliques mais simbólicos feitos pelo aficionado à fotografia arquitetônica estão no livro Vantage, lançado em setembro de 2019 no Reino Unido pela editora britânica Black Dog Press. As 256 páginas trazem fotos tiradas entre 2009 e 2019 — algumas estão nesta reportagem. As imagens foram feitas em 17 países, como Brasil, Estados Unidos, Emirados Árabes, Malásia e China.

Em Hong Kong, o holandês conseguiu alguns de seus registros mais impressionantes: em dezembro de 2018, ele visitou o topo do Ritz-Carlton, o hotel mais alto do mundo (são nada menos do que 490 metros de altura); no mesmo mês, escalou uma montanha para obter um ângulo inédito dos arranha-céus da cidade asiática. O resultado são imagens que brincam com a saturação e o formato dos prédios modernos. “Já existem fotos de todos os lugares imagináveis, então meu desafio como profissional é encontrar um ângulo ou algo que ainda não tenha sido muito fotografado”, comenta.

Kuala Lumpur, Malásia  Tirada durante o pôr do sol, a foto dá a ilusão de que as duas torres são um prédio só. A imagem é parte do ensaio Paradise Now, que mostra a relação do urbano com a natureza.  (Foto: Ryan Koopmans)

Kuala Lumpur, Malásia: tirada durante o pôr do sol, a foto dá a ilusão de que as duas torres são um prédio só. A imagem é parte do ensaio Paradise Now, que mostra a relação do urbano com a natureza. (Foto: Ryan Koopmans)

Antes do amor pela fotografia, porém, veio o interesse pela arquitetura. Aos 23 anos, logo após se formar em Psicologia, Geografia e História da Arte na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, Koopmans pensou em se tornar arquiteto. “Enquanto tentava entrar na faculdade de Arquitetura, meu pai me emprestou sua câmera para que eu acrescentasse fotos ao meu portfólio”, lembra o fotógrafo, que nasceu na Holanda, mas cresceu no Canadá, em Vancouver.

O desafio proposto por seu pai deu certo — quer dizer, em partes: ele desistiu da carreira de arquiteto e se aprofundou no universo das imagens. Desde então, alçou voos tão altos quanto os edifícios que fotografa.

O primeiro prêmio que recebeu foi o NY Photo Awards, em 2012. Três anos depois, conquistou o World Press Photo 2015. Foi indicado duas vezes ao Arcaid Image Awards e outras duas ao Architectural Photography Awards.

Hong kong, China  Às vezes, subir ao topo do prédio não basta: Koopmans fez esta imagem pilotando um drone no alto de um edifício. No clique se destaca o shopping center em forma de navio no distrito de Kowloon. (Foto: Ryan Koopmans)

Hong kong, China: às vezes, subir ao topo do prédio não basta: Koopmans fez esta imagem pilotando um drone no alto de um edifício. No clique se destaca o shopping center em forma de navio no distrito de Kowloon. (Foto: Ryan Koopmans)

Além de fazer fotos do universo da arquitetura, Koopmans já trabalhou em semanas de moda internacionais: Nova York, Paris, Moscou, Oslo e Kiev estão em seu currículo. Também produziu fotos para marcas de luxo e fez campanhas comerciais de montadoras de carros. “A fotografia automotiva é bem similar à arquitetônica por causa do formato, composição e equilíbrio dos carros, que também têm linhas, sutilezas e geometria”, observa.

Hong Kong, China  Nem sempre o melhor ângulo é obtido do alto de um prédio. O fotógrafo escalou uma montanha para registrar os arranha--céus, que fascinam pela geometria e pelas cores vivas e contrastantes. (Foto: Ryan Koopmans)

Hong Kong, China: nem sempre o melhor ângulo é obtido do alto de um prédio. O fotógrafo escalou uma montanha para registrar os arranha--céus, que fascinam pela geometria e pelas cores vivas e contrastantes. (Foto: Ryan Koopmans)

Mas o que mais agrada as lentes de Koopmans é, sem dúvida, o senso de escala que só as cidades proporcionam. Os prédios o atraem pela diferença de tamanho em relação a ele mesmo. Suas construções favoritas são edifícios de ex-repúblicas soviéticas, como Cazaquistão, Ucrânia e Geórgia.

Foi nesse último país, aliás, que Koopmans realizou, em 2018, um de seus projetos mais diferentes: o ensaio Sanatorium. Como o nome indica, o fotógrafo foi à cidade de Tskaltubo visitar sanatórios, clínicas dedicadas a cuidar de pessoas doentes. Em 1992, a guerra de independência da região autônoma da Abecásia, no norte da Geórgia, deixou 200 mil indivíduos desabrigados. Eles se refugiaram nos sanatórios de Tskaltubo — muitos homens, mulheres e famílias vivem lá até hoje.

Dubai, Emirados Árabes  Koopmans aproveitou o pôr do sol e a visão privilegiada de uma parte do trajeto do metrô de Dubai para fotografar o que ele considera o cenário de uma cidade futurística. (Foto: Ryan Koopmans)

Dubai, Emirados Árabes: Koopmans aproveitou o pôr do sol e a visão privilegiada de uma parte do trajeto do metrô de Dubai para fotografar o que ele considera o cenário de uma cidade futurística. (Foto: Ryan Koopmans)

Como é de seu costume, Koopmans chegou de fininho às ocupações. “Para mim, tirar a foto ideal é uma experiência privada”, explica. Está em seus planos voltar à Geórgia para registrar paisagens urbanas. Koopmans quer mostrar como a nação deixou seu passado de origem árabe na Idade Média para se tornar um país que, hoje, ergue prédios futurísticos.

Apesar da simpatia pela arquitetura, o holandês não busca vangloriar as construções de profissionais famosos do ramo. São as mensagens implícitas nas construções que o interessam. “Edifícios homogêneos às vezes parecem mais do mesmo, mas cada varanda é diferente”, ressalta o holandês. E complementa: “Há pequenos sinais individuais nessa enorme casca de concreto, que é como se fosse uma máquina cheia de vida”.