• thiago tanji
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Apesar das escassas informações oficiais sobre a queda do Boeing 777 da Malaysia Airlines, na Ucrânia, fontes do governo local afirmam que o avião foi atingido por um míssil lançado por separatistas aliados aos russos. A aeronave, que transportava 295 pessoas, perdeu contato com sua companhia aérea quando sobrevoava o leste do território ucraniano, a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Rússia.

As suspeitas de que a tragédia tenha sido causada por um ataque foram levantadas por conta da proximidade do local à Donetsk. A região  declarou independência da Ucrânia em abril deste ano, após a sequência de acontecimentos desencadeada pela deposição do ex-presidente Viktor Yanukovich, em fevereiro. Mas os separatistas seriam capazes de derrubar um Boeing 777 em pleno voo?

De acordo com análises preliminares, o avião voava a uma altura de 10 mil metros antes de sua queda. Especialistas afirmam que, a essa distância, seria impossível que o ataque fosse realizado por um lançador de mísseis portátil, operado por um único combatente.

Por conta disso, especula-se que a aeronave foi atingida por um projétil lançado a partir do sistema de defesa antiaéreo Buk, que é capaz de destruir alvos a um alcance de até 22 mil metros. Herança do poder militar da União Soviética, esses equipamentos começaram a ser operados em 1979, sendo capazes de interceptar aeronaves de combate e mísseis teleguiados de longa distância. Países como Venezuela e Síria operam o equipamento, além de outras nações do Leste Europeu, como Ucrânia e, obviamente, Rússia.

O modelo Buk-M2 (Foto: wikimedia commons)

O modelo Buk-M2 (Foto: wikimedia commons)

O sistema Buk passou por melhorias para continuar em operação. O modelo Buk-M2, por exemplo, conta com um sistema de deslocamento a partir de lagartas (similar às esteiras que fazem a função de 'rodas' em tanques de guerra), podendo atingir velocidade máxima de 65 km/h. Com quase oito metros de altura por nove metros de comprimento, o equipamento é capaz de carregar até quatro mísseis 9M317, com peso de 720 quilos cada um. 

Para ter ideia do potencial  de destruição dos projéteis, eles atingem uma velocidade superior a 3 mil km/h quando disparados, sendo guiados por um sistema de radar. Suas ogivas contam com 70 quilos de explosivos, que se fragmentam após o choque contra o alvo.

Em entrevista à rede americana NBC News, um especialista em segurança aérea afirmou que um avião comercial não receberia informações em seu radar a respeito da aproximação de um míssil. Mesmo assim, caso o avião não tenha explodido em pleno ar, os pilotos poderiam comunicar o ataque à torre de controle logo após o momento da colisão.

Fogo rebelde A Ucrânia, uma das repúblicas socialistas que fez parte da União Soviética até sua dissolução, em 1991, preserva parte do armamento do período da Guerra Fria e ainda utiliza a tecnologia militar russa. Por conta disso, a presença de um sistema antiaéreo de grande porte em uma área de conflito entre o governo ucraniano e os separatistas é bastante plausível. Resta saber se o Exército Rebelde conseguiu ter acesso a esse tipo de equipamento, como afirmam os representantes do governo ucraniano.

Nesta semana, um jornalista da agência Associated Press afirmou que avistou um sistema de mísseis Buk na cidade de Snizhne, localizada na região de Donetsk. Uma conta no Twitter ligada aos separatistas chegou a postar uma foto que exibia um dos armamentos de defesa antiaérea, dando a entender que os rebeldes pró-Rússia teriam um grande poder de fogo em mãos. Logo após as primeiras notícias sobre a queda da aeronave da Malaysia Airlines, a imagem foi apagada.

Os líderes da República Popular de Donetsk, nome dado ao território independente, afirmam que não contam com um sistema semelhante ao Buk. De acordo com eles, seu poder de fogo se restringe a equipamentos capazes de lançar mísseis a uma distância de, no máximo, 6 mil metros.

Especialistas em tecnologia militar levantaram outro ponto a respeito do possível ataque ao Boeing 777. De acordo com eles, apenas pessoas treinadas conseguiriam operar um sistema de defesa antiaérea como o Buk. A presença de militares experientes nas fileiras rebeldes é provável, mas também não foi confirmada pelos separatistas.

Outros incidentes deste tipo foram registrados nesta semana. O governo da Ucrânia afirmou nesta quinta-feira que um de seus aviões de guerra, um modelo Sukhoi Su-25, teria sido derrubado por militares russos. Na segunda-feira, outra aeronave teria sido atacada no leste do país.