História
Polinésios tiveram contato com povos sul-americanos antes dos europeus
Análise genética com moradores da Colômbia e da Polinésia Francesa sugere que povos se relacionaram por volta dos anos 1200
2 min de leitura![Polinésios tiveram contato com povos sul-americanos antes dos europeus (Foto: Ruben Ramos-Mendoza) Polinésios tiveram contato com povos sul-americanos antes dos europeus (Foto: Ruben Ramos-Mendoza)](https://cdn.statically.io/img/s2.glbimg.com/b3GPg0DX16tTJq7nBdrGLKJItmE=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2020/07/08/5f05bf51dece3.jpg)
Polinésios tiveram contato com povos sul-americanos antes dos europeus (Foto: Ruben Ramos-Mendoza)
Um estudo liderado pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, encontrou evidências científicas do contato entre os antigos polinésios e os nativos latino-americanos da região em que hoje é a Colômbia, por volta de 1200. A pesquisa, que corrobora uma teoria há muito especulada pelos historiadores, foi publicada nesta quarta-feira (8) na Nature.
A análise genética de mais de 800 habitantes ao longo da costa do México ao Chile, e de 17 ilhas da Polinésia Francesa revelou a ancestralidade comum entre os dois povos. Tendo como base alguns segmentos hereditários de DNA, os cientistas conseguiram rastrear assinaturas genéticas comuns às pessoas que datam de centenas de anos.
"A [ciência] genômica está em um estágio em que pode realmente dar contribuições úteis para responder algumas dessas questões [históricas] em aberto", disse Alexander Ioannidis, pós-doutorando de Stanford e coautor do artigo, em comunicado. "Acho realmente empolgante que nós, como cientistas de dados e geneticistas, possamos contribuir de maneira significativa para a nossa compreensão da história humana."
Uma pista inusitada
Originalmente domesticada nas Américas do Sul e Central, a batata-doce era cultivada em algumas partes da Oceania, incluindo a Polinésia, muito antes da colonização europeia. Quando os historiadores descobriram isso anos atrás, surgiu a hipótese de que os nativos dessas duas regiões do mundo teriam entrado em contato há muitos séculos.
"Além disso, a palavra 'batata-doce' nas línguas polinésias parece estar relacionada à palavra usada nas línguas indígenas latino-americanas dos Andes [para designar o mesmo elemento]", explicou Ioannidis. A sobreposição das culturas fez com que alguns arqueólogos e historiadores pensassem que não era apenas possível, mas provável, que a chegada da batata-doce à Polinésia fosse o resultado da mistura dos dois povos.
Os pesquisadores acreditam que foram os polinésios que chegaram ao que hoje é a Colômbia. Entretanto, como explicou Ioannidis, também é possível que um ou dois navios latino-americanos tenham saído de seu curso esperado e chegado à Polinésia.
Fato é que, até então, as evidências culturais e a presença de batata-doce na Oceania não foram suficientes para convencer os cientistas de que a hipótese estava correta. A nova análise, contudo, corrobora a ideia e lança luz à questão. "Com essa pesquisa, queríamos reconstruir as raízes ancestrais que moldaram a diversidade dessas populações e responder a perguntas profundas e antigas sobre o potencial contato entre os nativos americanos e as ilhas do Pacífico", disse Andrés Moreno-Estrada, coautor do estudo e chefe do serviço genômico do Laboratório Nacional de Genómica para Biodiversidade, no México.
Em contrapartida, outros pesquisadores acreditam que a evidência genética não deve ser tida como certeza do contato entre as duas populações — e é por isso que a história pré-colonial destas áreas precisa continuar sendo estudada. "Se você pensa em como a história deste período é contada, quase sempre é uma história da conquista europeia e você nunca sabe sobre mais ninguém", observou Ioannidis. "Acho que este trabalho ajuda a reunir as histórias não contadas — e o fato de poderem ser reveladas através da genética é muito emocionante."