• Tomás Mayer Petersen
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Pintura retrata a Guerra da Cisplatina (Foto: Wikimedia Commons)

Pintura retrata a Guerra da Cisplatina (Foto: Wikimedia Commons)

A Guerra da Cisplatina, conhecida na Argentina e no Uruguai como Guerra do Brasil, foi um conflito armado entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata que durou três anos, entre 1825 e 1828. Recém-independentes de seus colonizadores (Portugal e Espanha), os países disputaram o território conhecido como Banda Oriental, onde hoje se situam o Uruguai e parte do Rio Grande do Sul.

Entenda o conflito:

1. A origem de tudo

Em 1816, exércitos do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve invadiram a região da Banda Oriental. Entre os objetivos, estavam o domínio da riqueza rural da região e o uso irrestrito do Rio da Prata para a navegação. Depois da intervenção portuguesa, em 1822, o território, chamado agora de Província da Cisplatina, aceitou fazer parte do recém-independente Império Brasileiro.

Apesar disso, a anexação não era unanimidade na Província da Cisplatina. Durante os anos seguintes, o sentimento de revolta deu lugar a um movimento liderado por 33 rebeldes, os Trinta e Três Orientais. Eles tinham apoio militar e financeiro das Províncias Unidas do Rio da Prata (independentes da Espanha desde 1810), que buscavam retomar o território invadido pelo Brasil.

2. Início dos conflitos

As tensões deram lugar a conflitos em 1825. Em 19 de abril daquele ano, as tropas dos Trinta e Três Orientais desembarcaram na praia de La Agraciada, dando início a uma cruzada libertadora. O primeiro combate foi em 25 de junho, no arroio de Las Vacas. Acumulando vitórias, os rebeldes chegaram a Montevidéu em 8 de maio. E em 20 de agosto, um congresso declarou a independência da Província da Cisplatina do jugo imperial do Brasil.

O sucesso dos rebeldes fez com que as Províncias Unidas aprovassem a reintegração da Província Oriental ao seu território em 25 de outubro de 1825. No dia 10 de dezembro, o Brasil declarou guerra contra o país vizinho. A resposta oficial dos argentinos veio em 1º de janeiro do ano seguinte.

3. Guerra na terra

Embora o Brasil fosse mais populoso e financeiramente mais rico que as Províncias Unidas e a Província da Cisplatina, o país tinha dificuldades em montar um exército. As tropas eram formadas por pessoas alistadas obrigatoriamente e por mercenários alemães. Além disso, o processo de independência não resultou de eventos bélicos.

Por outro lado, as Províncias Unidas vinham de um sangrento processo de independência. Além da experiência, recebiam apoio e adesão da população, que tinha um sentimento nacional mais aflorado. Embora com menos recursos, os argentinos e uruguaios levaram vantagem nas batalhas em terra.

4. Guerra no mar

O trunfo do Brasil era a marinha recém-formada com a ajuda do inglês Lorde Cochrane. Ao contrário do exército, as forças navais brasileiras permaneceram intactas desde a independência. A superioridade em relação aos rivais das Províncias Unidas era gritante, tanto em números, quanto em experiência: eram 96 embarcações brasileiras contra 17 portenhas.

5. Empate técnico

Com tropas argentinas estabelecidas na Província da Cisplatina, coube ao Brasil impor um bloqueio naval aos portos de Buenos Aires e Montevidéu, estrangulando o comércio no Rio da Prata. Isso deu margem para a primeira ofensiva brasileira, no final de 1826. Mas, por terra, as tropas não conseguiram dar o xeque-mate.

Desmoralizado e perdendo apoio político, Dom Pedro I se deslocou pessoalmente ao fronte, demitiu oficiais e reorganizou as tropas. Mas teve que voltar rapidamente ao Rio de Janeiro devido à morte da Imperatriz Leopoldina.

Nos anos seguintes, a guerra continuou como um empate técnico: Brasil vencia no mar e as Províncias Unidas, na terra. Um desfecho definitivo estava longe. A guerra só representava desgaste político e financeiro. A melhor alternativa para as duas partes foi a negociação de um tratado de paz com mediação da França e da Grã-Bretanha. O acordo final foi assinado em 28 de agosto de 1828.

6. Consequências

Foram quatro as principais consequências da Guerra da Cisplatina. A primeira foi a independência do Uruguai, em 1825, o que levou às outras três: o Brasil perdeu o território da Província da Cisplatina, as Províncias Unidas perderam o território da Província Oriental e, por último, o Brasil conquistou a soberania da região das Missões Orientais (que hoje fazem parte do Rio Grande do Sul).

Além dos efeitos resultantes do acordo, o conflito teve grande influência na perda de prestígio político do imperador Dom Pedro I. Isso, junto a outras conjunturas políticas, levaram-no a abdicar do poder em 1831, dando lugar a seu filho Dom Pedro II.