• Anita M. Elias*
  • The Conversation
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Vaginismo é uma das principais causas de dor durante o sexo (Foto: Sharon McCutcheon/Unsplash)

Vaginismo é uma das principais causas de dor durante o sexo (Foto: Sharon McCutcheon/Unsplash)

O que aprendemos social e culturalmente sobre sexo nos dá a impressão de que todos estão fazendo, e é sempre divertido e agradável. Mas, para muitas pessoas, ter relações sexuais é extremamente doloroso ou até mesmo impossível. E uma das principais causas de sexo doloroso é o vaginismo.

Vaginismo é uma condição extremamente comum, que pode ter um grande impacto nas mulheres, seus parceiros e relacionamentos. No entanto, muitas pessoas se sentem sozinhas e sem esperança, afinal o assunto é pouco discutido.

Mas a boa notícia é que não é preciso conviver por muito tempo com isso — o diagnóstico é fácil e os sintomas, tratáveis.

Sexo doloroso

Uma pesquisa australiana demonstra que cerca de 20% das mulheres e 2% dos homens experienciam sexo doloroso. Os problemas sexuais masculinos, como por exemplo disfunção erétil, têm estado na consciência pública desde a chegada da “pílula azul”, o Viagra. Mas as dificuldades sexuais das mulheres estão ausentes em nossa história.

Cerca de 175 milhões de mulheres vivem com endometriose ao redor do mundo (Foto: Kat Jayne/Pexels)

Ansiedade e depressão estão entre as causas do vaginismo (Foto: Kat Jayne/Pexels)

Sem o impulso das indústrias farmacêuticas, a consciência e o conhecimento sobre as dificuldades sexuais das mulheres (ou pessoas com vagina que não se identificam como mulheres) não avançaram da mesma forma que para os homens.

Um estudo recente revelou que, em 2019, 57% das pacientes que frequentaram a clínica de Medicina e Terapia Sexual Monash Health [na Austrália] buscaram ajuda por causa do sexo doloroso. Desse total, 60% tinham vaginismo. Quase metade dessas mulheres teve vaginismo durante mais de cinco anos, e 20% delas teve vaginismo por dez anos ou mais.

O que é vaginismo?

O vaginismo acontece quando alguém tem dificuldades persistentes ou recorrentes em permitir a entrada vaginal de um pênis, dedo ou qualquer objeto, apesar de seu desejo.

Algumas mulheres sentem medo, dificuldades ou dor desde a primeira vez que tentam inserir algo na vagina e, em vez de melhorar, pode piorar com o tempo. Isso é chamado de “vaginismo primário”. Outras podem ficar bem por anos e desenvolver a dor posteriormente. Esse é o “vaginismo secundário”.

O vaginismo pode ser leve, moderado ou grave. A dor costuma ser descrita como queimação, cãibras ou sensação de aperto. E, para algumas pessoas, nada pode entrar na vagina. As pacientes descrevem que a sensação é como bater em uma parede de tijolos.

O impacto do vaginismo

Pessoas com vaginismo não diagnosticado podem se sentir envergonhadas ou anormais, e isso pode impedi-las de procurar ajuda. O vaginismo não diagnosticado pode ter um impacto significativo na autoestima e levar a ansiedade ou depressão.

Pessoas com vaginismo podem evitar ter vida sexual ativa, visto a possibilidade de ser uma experiência muito dolorosa. Elas também podem evitar qualquer intimidade por medo de que possa levar ao sexo. Isso pode impactar significativamente os relacionamentos, levando a distância e conflitos.

O vaginismo também pode inibir pessoas solteiras de iniciar relacionamentos. Elas podem evitar socializar, namorar e conhecer novos parceiros/as, sentindo-se sobrecarregadas por causa de um “segredo que causa vergonha”.

Causas

Quando falamos sobre sexo — e vida —, não é possível separar a mente e o corpo. O vaginismo não é exceção. As causas mais ocultas são extremamente variáveis e frequentemente influenciadas por vários fatores.

Às vezes não há uma causa óbvia, mas os fatores comuns no desenvolvimento do vaginismo primário incluem:

- Medo ou ansiedade: de sentir dor, engravidar ou contrair infecções sexualmente transmissíveis. Ansiedade generalizada ou outros transtornos de ansiedade também podem causar vaginismo;

- Tabus: tabus culturais ou religiosos em torno do sexo, ou conflito interno sobre ser ou não sexual;

- Sexo sem excitação: quando você faz sexo sem realmente querer;

- Histórico de abuso: uma história de trauma ou abuso físico, emocional ou sexual;

- Expectativas irreais: quando o sexo causa o medo de não ser “boa/bom o suficiente”.

O vaginismo secundário pode acontecer devido a qualquer um dos itens acima ou depois de qualquer coisa que leve a relações sexuais dolorosas, como:

- Problemas de relacionamento: ocasionando a falta de libido ou excitação;

- Infecções ou problemas de pele: infecções vaginais, como aftas e problemas dermatológicos (pele) vulvares ou vulvodínia podem causar vaginismo;

- Problemas ginecológicos: como endometriose, câncer ginecológico (ou de mama) — e também seus tratamentos, ou cirurgia pélvica;

- Gravidez: o vaginismo pode ocorrer após a gravidez, após o parto ou enquanto mãe pela primeira vez.

Uma reação normal a qualquer ansiedade e medo é um enrijecimento dos músculos, e chamamos de vaginismo quando isso acontece nos músculos do assoalho pélvico. Um assoalho pélvico forte é importante, mas também precisamos aprender a relaxá-lo quando quisermos.

Diagnóstico

O vaginismo geralmente pode ser diagnosticado por meio da análise detalhada do histórico da paciente e da observação dos fatores que podem estar causando os sintomas.

Pessoas que suspeitam ter vaginismo devem inicialmente procurar ajuda de ginecologistas, fisioterapeutas do assoalho pélvico, sexólogos ou psicoterapeutas que tenham experiência nessa área.

Os profissionais médicos com experiência no tratamento da doença farão um exame de forma gentil e estimulante, apenas quando a mulher estiver pronta, para que ela não fique angustiada ou traumatizada de forma alguma.

Tratamento

As mulheres precisam compreender que a tensão no assoalho pélvico é uma resposta involuntária e protetora, que elas podem aprender a superar com ajuda.

Uma abordagem multidisciplinar no tratamento tem se mostrado mais eficaz, isso inclui:

- Educação sobre vaginismo, assoalho pélvico e sexo;

- Acompanhamento médico sobre quaisquer condições físicas subjacentes;

- Acompanhamento psicológico sobre quaisquer preocupações subjacentes;

- A fisioterapia do assoalho pélvico pode ajudar as mulheres a aprender a relaxar, de maneira geral e na região do assoalho pélvico;

- Aprender de que maneira sentir prazer, visto que o sexo sem excitação é uma causa comum de sexo doloroso.

A mulher também deve ter o poder de se sentir livre para escolher se, quando e como ter sua vida sexual. Muitas mulheres ainda são coagidas ao sexo, ou ensinadas a priozar as necessidades de seus parceiros.

Nesses casos, é preciso apoio para reconhecer e expressar suas próprias necessidades e desejos. Embora as mulheres possam continuar a ter relações sexuais da maneira que desejarem, é vital parar de fazer qualquer coisa que machuque, como continuar tentando fazer sexo com penetração, enquanto o vaginismo está sendo tratado.

*Anita M Elias é professora sênior da Universidade Monash. Este artigo foi originalmente publicado em inglês no site The Conversation.