• André Jorge de Oliveira
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(Ilustração: Bárbara Malagoli)

Jornalista e astrofísico, Stuart Clark passou cinco anos de sua vida cortejando os reis do Sol. Durante o período, pesquisou sobre os astrônomos europeus pioneiros nos estudos solares dos séculos 18 e 19, principalmente o britânico Richard Carrington. Clark fala sobre seu livro recém-lançado no Brasil, Os Reis do Sol (Editora Record).

Houve algum fato em particular que tenha descoberto durante a pesquisa que o intrigou muito?
Em uma carta particularmente pungente, Carrington lamentava que tempos difíceis poderiam forçá-lo a vender seu observatório: estava tão claramente aflito que minha vontade era voltar pelos séculos e confortá-lo como a um amigo.

Como os Reis do Sol deram à luz a astronomia moderna?
Antes, a astronomia apenas mapeava as estrelas para a navegação. A tempestade solar gigante de 1859 fez os astrônomos quererem entender a natureza dos astros, em vez de só aceitá-los como luzes cintilantes no céu. Viraram astrofísicos.

E se essa tempestade viesse hoje?
Nossa tecnologia estaria em perigo. Em 1989, uma tempestade solar bem menor deixou milhões sem luz no Canadá. Podemos nos proteger prevendo as tempestades. Espaçonaves teriam de ser desligadas. Malhas inteligentes podem “aterrar” correntes excessivas e dissipar a energia com segurança, em vez de canalizá-la para os transformadores.

O que poderíamos aprender com um evento desse porte?
Monitoramos o Sol constantemente e aprendemos sobre o clima espacial. O evento observado por Carrington é o “cenário pesadelo”. Ainda bem que é raro, espero que se passem séculos antes de vermos algo dessa magnitude. Se ocorresse amanhã, aprenderíamos quão robusta é nossa tecnologia. E veríamos auroras incríveis!

A tempestade descrita no livro mostrou que somos vulneráveis. Como isso mudou o entendimento de nosso lugar no cosmos?
A raça humana está conectada ao Sol da mesma forma que os antigos egípcios eram ligados ao Nilo. Não podiam controlar as inundações, mas precisavam delas para as colheitas. Nós precisamos da luz e do calor do Sol, mas não temos controle das tempestades que ameaçam nossa tecnologia. Essa percepção mostrou como somos pequenos no grande esquema das coisas. Foi uma experiência que nos ajudou a olhar para o cosmos com a admiração que persiste até hoje.

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