• Marília Marasciulo
Atualizado em
A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)

Por quase um século, entre 1858 e 1947, a Índia foi dominada pela Império Britânico. Na luta pela independência, muito baseada na desobediência civil e sem uso de violência, métodos defendidos por Mahatma Gandhi, um tempero comum teve papel chave: o sal.

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)

No dia 12 de março de 1930, Gandhi e seus discípulos iniciaram uma marcha de 400 quilômetros rumo ao litoral, em protesto contra as restrições da Inglaterra, que obrigava os indianos a comprarem os produtos importados de lá. Eles eram proibidos inclusive de extrair o próprio sal. Para Gandhi, esse era um símbolo do colonialismo, e ele queria acabar com esse monopólio.

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)

Ao longo de 25 dias, percorreram o trajeto até o Oceano Índico, conquistando simpatizantes que se uniram à marcha do sal. Ao chegar, Gandhi colocou a água do mar em um recipiente, esperou que evaporasse, e apanhou um punhado de sal. O gesto simples, mas desafiador, foi imitado por centenas de indianos, e a reação dos ingleses chamou a atenção do mundo todo: além de truculentos, os guardas prenderam mais de 60 mil pessoas, entre elas Gandhi.

Leia também: 
+ 'Os Salgueiros': conheça a obra clássica de Algernon Blackwood
+ Liev Tolstói: 5 curiosidades para entender a vida e obra do escritor

O movimento continuou por outros 17 anos, com Gandhi inspirando os indianos na desobediência civil mesmo preso diversas vezes — ele jejuava em forma de protesto, e chegou a ficar 21 dias sem comer em 1933 contra a opressão. Quando a independência enfim chegou, Gandhi não a comemorou: ao contrário do que desejava, a Índia foi dividida entre a Índia — predominantemente hindu — e o Paquistão — predominantemente muçulmano. Um ano depois, foi assassinado a tiros em Nova Déli por um hindu radical que o responsabilizava pelo enfraquecimento do novo governo.
 

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)


A Marcha do Sal na visão de um brasileiro

No dia 18 de outubro, o fotógrafo brasileiro Érico Hiller lança o livro A Marcha do Sal, um registro da peregrinação que Hiller realizou em novembro de 2017 refazendo o trajeto do famoso protesto comandado por Mahatma Gandhi. São cerca de 70 imagens acompanhadas de pequenos textos com reflexões que estabelecem relações entre a história e a filosofia de Gandhi e o povo indiano, revelando a cultura do país e as mazelas que seus governos não conseguiram erradicar.

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)

Para o fotógrafo, o livro revisita o pensamento do pacifista em um momento que a ideia do protesto não violenta ganha força e passa a representar uma saída para impasses contemporâneos. “Por um lado, o sonho gandhiano foi sublimado”, diz Hiller no livro. “A roda de fiar foi substituída por imensas indústrias; o Partido do Congresso assolou-se em corrupção; a não-violência foi varrida do país no dia de 1974 em que a Índia fez o seu primeiro teste nuclear. No entanto, esse homem não é esquecido jamais. Algumas ideias que na época poderiam parecer demasiadamente avançadas renovaram-se e ganharam ainda mais sentido. A sustentabilidade, a economia de recursos primários e as plantas medicinais parecem hoje tendências sem volta."

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)

A Marcha do Sal (Foto: Érico Hiller)


Curte o conteúdo da GALILEU? Tem mais de onde ele veio: baixe o app Globo Mais para ler reportagens exclusivas e ficar por dentro de todas as publicações da Editora Globo. Você também pode assinar a revista, a partir de R$ 4,90, e ter acesso às nossas edições.