• Redação Galileu
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"Esse estudo fornece mais evidências de que o comportamento sexual diverso é uma parte natural da variação humana", afirmam especialistas de Harvard e do MIT (Foto: Isadora Heimig/ Tem Que Ter/ Creative Commons)

Especialistas de diversas regiões do mundo conduziram um estudo que desbanca o mito da existência de um "gene gay". Segundo o que foi descoberto, diferentes segmentos do material genético humano influenciam na definição da orientação sexual, e não apenas a presença ou ausência de um deles.

A equipe de pesquisa internacional analisou dados genéticos coletados de estudos e projetos anteriores, inclusive da empresa de testes de DNA 23andMe. No total, os dados de quase 500 mil pessoas foram utilizados. "Esse estudo é a maior e a mais completa investigação sobre a genética do comportamento sexual de mesmo sexo até o momento", disse Ben Neale, diretor de genética do Stanley Center for Psychiatric Research, em um comunicado.

Os pesquisadores realizaram um tipo de análise que busca associações em todo o genoma dos voluntários, procurando por variações que possam estar vinculadas a quaisquer outras variáveis ​​para as quais estejam testando. Nesse caso, a variável era se o voluntáio havia relatado ter feito sexo com alguém do mesmo sexo.

De acordo com a pesquisa, publicada pela revista Science, cerca de 4% dos homens e quase 3% das mulheres disseram já ter transado com alguém do mesmo sexo. A equipe, contudo, fez questão de enfatizar que não se baseou em dados nos quais os participantes haviam dito anteriormente sobre sua identidade de gênero ou orientação sexual, além de não terem incluído pessoas transgêneros.

Sendo assim, para a equipe, principalmente formada por profissionais da Universidade Harvard e do MIT, cerca de um terço da variação no comportamento entre pessoas do mesmo sexo seria explicada pela genética. Contudo, Brendan Zietsch, co-autor da pesquisa, relata que isso não significa que o restante dos voluntários tenham sido influenciados em sua orientação sexual devido à educação ou à cultura. "Por exemplo, acredita-se que fatores não genéticos antes do nascimento, como o ambiente hormonal no útero, também desempenhem um papel importante", afirmou ao The Guardian.

Diversas partes do material genético humano influenciam na definição da orientação sexual, e não apenas a presença ou ausência de um único gene (Foto: Ricardo Matsukawa/ Tem Que Ter/ Creative Commons)

Diversas partes do material genético humano influenciam na definição da orientação sexual, e não apenas a presença ou ausência de um único gene (Foto: Ricardo Matsukawa/ Tem Que Ter/ Creative Commons)

Mesmo assim, algumas das variantes genéticas identificadas no estudo "podem sugerir algumas vias biológicas que estariam envolvidas no comportamento sexual do mesmo sexo", disse Andrea Ganna, membro da pesquisa, ao LiveScience. "Uma variante, por exemplo, estava localizada em um trecho de DNA que abriga vários genes relacionados ao sentido do olfato. Portanto, sabemos que o cheiro tem uma forte ligação com a atração sexual, mas seus vínculos com os comportamentos sexuais não são claros", exemplificou.

Contrapontos
Como a equipe de pesquisa se baseou apenas no comportamento sexual autodeclarado, é essencial declarar que os resultados não são conclusivos. Os próprios especialistas lembram que diversos voluntários podem ser LGBT, mas nunca terem feito sexo com pessoas do mesmo sexo.

Além disso, os profissionais ressaltam que fazer sexo com alguém do mesmo sexo não significa necessariamente que a pessoa se identifica como gay/lésbica, por isso os autores se abstiveram de usar esses termos.  

Outra limitação do estudo é que ele inclui apenas pessoas cujo sexo atribuído ao nascimento e sexo relatado coincidem, o que significa que não há nada que esses resultados possam dizer sobre pessoas que são transgêneros ou não-binárias. Outra questão importante é que todos os participantes têm ascendência européia, então não há como saber se a mesma mistura específica de genética e ambiente ocorreria entre outros grupos quando se trata de orientação sexual.

Fato é que os resultados serão úteis para a análise do comportamento sexual da população. Entretanto, enquanto outras observações não são feitas, os cientistas fizeram questão de reportar que: "esse estudo fornece mais evidências de que o comportamento sexual diverso é uma parte natural da variação humana".

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