• Nathalia Fabro
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Clean meat, carne de laboratório, pode ser feita de plantas ou células animais (Foto: Pexels/Creative Commons)

Clean meat, carne de laboratório, pode ser feita de plantas ou células animais (Foto: Pexels/Creative Commons)

Vermelhinha, suculenta, com a dose certa de gordura, macia e saborosa: a carne do seu hambúrguer está no ponto que você mais gosta e, para sua surpresa, ela foi feita em um laboratório. A carne produzida a partir de plantas ou células animais sem precisar abater um bicho inteiro é uma inovação que promete revolucionar a indústria alimentícia nos próximos anos. 

“É um mercado que ainda não existe, está em desenvolvimento. Mas é o futuro e não tem volta”, diz à GALILEU Jayme Nunes, biólogo da Merck, empresa alemã de ciência e tecnologia, que investiu recentemente em uma startup que produz carne de laboratório. “Não tem volta porque serão 10 bilhões de pessoas em 2050. E a pergunta é: como alimentar todo mundo?"

O principal desafio, na visão do biólogo, é conseguir ampliar a produção para uma escala indústrial. O primeiro hambúrguer de laboratório, desenvolvido em 2013, custou cerca de US$ 250 mil. Hoje, o processo custa, em média, US$ 10 mil. O valor final para o consumidor também é salgado, mas Nunes é otimista: ele acredita que até 2050 será possivel comprar o alimento por US$ 20 o quilo. 

Por que deveríamos investir na carne de laboratório?
Jayme Nunes
De 10% a 18% das emissões de gases de efeito estufa vêm da agropecuária. Entre 70% e 80% dos antibióticos do mundo vão para a agropecuária, e não para o consumo humano. E 25% da água doce é consumida na pecuária. A carne de laboratório reduz essas demandas e elimina menos gases tóxicos na natureza. É, ainda, um produto livre de parasitas porque é produzido no ambiente limpo do laboratório. 

Como é produzida a carne de laboratório? 
Existem dois tipos no momento, ambas chamadas de clean meat [carne limpa, em tradução livre]. A primeira é a plant-based meat, feita a partir de hortaliças e vegetais. E há a cell-based meat, que é a carne feita a partir de células. A ideia é chegar no músculo bovino por biópsia e retirar uma amostra [de células] sem matar o animal. Essa amostra possui células satélites, que recebem [em laboratório] nutrientes para que possam se replicar. O crescimento gera um pedaço de carne. 

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Quais os principais desafios para fazer carne de laboratório? 
Não temos ainda no mundo uma indústria que, comercialmente falando, disponibiliza a carne para o mercado. O que existe são várias startups trabalhando em plano piloto. A empresa Tyson Foods, por exemplo, está colocando milhões de dólares em startups para acelerar o processo. É um mercado que ainda não existe, está em desenvolvimento. Mas é o futuro e não tem volta, porque serão 10 bilhões de pessoas em 2050. E a pergunta é: como alimentar todo mundo?

Quanto custa produzir?
O primeiro hambúrguer foi criado em 2013, com custo de US$ 250 mil. Hoje, isso caiu dramaticamente. Está em entre US$ 9 e U$S 10 mil. A tendência é que, em 2030, caia para U$S 50, quando a carne estaria disponível em restaurantes do guia Michelin. Em 2050, deve chegar a U$S 20. 

Seria possível criar outros cortes de carne além do hambúrguer?
Esse é um desafio para as startups. Hoje em dia, o que se conseguiu fazer é uma pasta de carne, da qual é possível fazer o hambúrguer. Agora, a questão é dar textura. Há startups trabalhando com frango, peixes e até carne suína, que podem passar pelo mesmo processo de biópsia para a produção da carne. 

O consumidor está preparado para a clean meat
Já existem pesquisas em termos de aceitação. Elas variam bastante, mas, em média, de 50% a 60% das pessoas que foram questionadas experimentariam. Outras 20% dizem que talvez provariam e o restante afirma que não tem vontade. A carne de laboratório é tida como uma carne limpa, porque não tem contato com parasitas e patógenos e, principalmente, foi produzida sem matar nenhum animal. A plant-based meat já está disponível no mercado e é uma opção para quem prefere os vegetais. Creio que no futuro o consumidor vai dar espaço para os dois tipos.  

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