• Marília Marasciulo | Edição Isabela Moreira | Design May Tanferri | Foto Tomás Arthuzzi | Produção Ina Ramos | ilustração Camila Rosa
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Lugar de mulher é na Ciência (Foto: Tomás Arthuzzi / Produção Ina Ramos)

Lugar de mulher é na ciência (Foto: Tomás Arthuzzi / Produção: Ina Ramos)

Há cerca de 3,7 bilhões de mulheres no mundo, ou 49,56% da população do planeta. Na ciência, porém, elas não passam de 28%. A conta não fecha.

Segundo a Unesco, em 47% dos países não há nenhuma diferença de notas entre meninos e meninas na primeira série do Ensino Fundamental, e o percentual sobe para 67% no Ensino Médio. Os números para ciências em geral variam pouco ao longo do ensino básico.

O problema é que, em algum momento entre a escola e a vida profissional, as mulheres são escanteadas do ambiente científico. Mesmo as que seguem carreira na área enfrentam o desafio de se manter nela: uma pesquisa divulgada pela Catalyst mostrou que mulheres em indústrias científicas têm maior probabilidade de trocar de área do que os homens — 53% delas contra 31% deles.

“É quase uma praga. Se a menina é boa em matemática, é como se ela não fosse considerada mulher”, afirma a economista Hildete Pereira de Melo, professora da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense e pesquisadora de temas relacionados a gênero e trabalho.

De acordo com o relatório Cracking the Code: Girls’ and Women’s Education in Science, Technology, Engineering and Mathematics de 2017, o autopreconceito é um dos maiores motivos para que as meninas desistam de carreiras nas ciências. Essa visão, no entanto, é influenciada por construções sociais que vêm de longa data e reforçam uma noção de que mulheres são menos aptas para a área.

Basta olhar para a história. Em dezembro de 1881, Caroline Kennard, uma feminista de Brookline, Massachusetts, enviou uma carta a Charles Darwin. Apaixonada por ciência, ela tinha uma pergunta simples: é cientificamente comprovado que as mulheres são inferiores aos homens? “Eu certamente penso que, embora as mulheres sejam moralmente superiores aos homens, elas são inferiores intelectualmente”, respondeu Darwin. “E, com base nas leis de herança, parece-me haver uma grande dificuldade de elas se tornarem intelectualmente iguais aos homens.”

Ideias como essa impediram as mulheres de buscar a formação necessária para uma carreira na área. Além disso, a maioria das universidades não aceitava mulheres até o início do século 20. Uma das faculdades mais prestigiadas de Cambridge, o Magdalene College, por exemplo, só passou a aceitar estudantes do sexo feminino a partir de 1988. Na ocasião, alguns dos alunos teriam feito um funeral, com caixão e tudo, para lamentar o fim da faculdade.

Parte do desafio se deve ao fato de que refletir sobre esses preconceitos tão enraizados pode ser difícil em uma área que se baseia na crença de ser objetivo e lidar somente com evidências. Foi o que sugeriram os editores do The Lancet, periódico científico que, em fevereiro deste ano, dedicou uma edição inteira ao debate sobre desigualdade de gênero. Foram apresentaram dados para mostrar que, quando o assunto é discriminação de gênero, a ciência pode ser um tanto quanto enviesada.

Um dos estudos usados como exemplo é o que comprova que mulheres precisam ter um desempenho muito maior que os homens para receber o mesmo reconhecimento. Feito no Canadá, o levantamento analisou 23.918 inscrições para financiamento de pesquisa e descobriu que as cientistas tinham 0,9% menos chances de conseguir o acordo simplesmente por serem mulheres. Para os pesquisadores, não havia nada que demonstrasse menor qualidade dos projetos — com exceção do gênero.

No Brasil, a dificuldade é observada nas bolsas de produtividade do CNPq. Um levantamento de 2004 mostrou que havia 283 bolsistas homens para 23 mulheres. O motivo principal para um número tão baixo é a maternidade: elas apresentam queda significativa na produtividade na faixa dos 40 anos, quando geralmente se dedicam a cuidar dos filhos. Ao voltar à vida científica, ficam para trás em relação aos colegas.

Ainda que superem as barreiras e persistam na carreira científica, não raro são reduzidas à condição de assistentes, sem reconhecimento. “As mulheres sempre deram um jeito de fazer ciência, o problema é que o mundo não reconhece isso”, diz a jornalista Zing Tsjeng, autora de Forgotten Women: The Scientists (Mulheres Esquecidas: As Cientistas), no qual perfila 48 cientistas esquecidas pela história.

“Eu gostaria que, quando questionadas sobre mulheres cientistas, as pessoas conhecessem outros nomes além de Marie Curie”, diz Hildete Pereira de Melo. Nós também. Por isso, para a capa de março de 2019 da GALILEU, selecionamos um exemplo das novas gerações, Sabrina Lisboa, e, na reportagem, contamos as vidas de dez grandes cientistas de gerações passadas. E esperamos que esse conteúdo contribua para um futuro no qual listas desse tipo não precisem existir.

Nasce aqui uma campanha da GALILEU para lembrar que há, sim, espaço para elas, com respeito e direitos iguais. #LugardeMulherÉnaCiência

Lugar de mulher é na Ciência (Foto:  )

Lugar de mulher é na ciência (Ilustração: Camila Rosa)

Esse é um trecho da reportagem de capa da edição de março de 2019 da GALILEU, que já está nas bancas. Para ler em casa, baixe o app Globo Mais ou assine a revista por R$ 4,90.

Capa de março de 2019 da Revista Galileu (Foto: Tomás Arthuzzi | Assistência Iago Fundaro | Styling Thais Lutti | Assistência Yasmine Borba | Beauty artist Amanda Pris | Produção Ina Ramos | Assistência Katia Mendes | Direção de arte May Tanferri))

Capa de março de 2019 da Revista Galileu (Foto: Tomás Arthuzzi | Assistência Iago Fundaro | Styling Thais Lutti | Assistência Yasmine Borba | Beauty artist Amanda Pris | Produção Ina Ramos | Assistência Katia Mendes | Direção de arte May Tanferri)