• Redação Galileu
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Imagem de microscopia fluorescente mostrando absorção do Sars-CoV-2 por podócitos renais derivados de células-tronco humanas. As células infectadas expressam a proteína do nucleocapsídeo viral (vermelho) e o marcador nefrina (ciano) (Foto: Universidade Duke)

Imagem de microscopia fluorescente mostrando absorção do Sars-CoV-2 por podócitos renais derivados de células-tronco humanas. As células infectadas expressam a proteína do nucleocapsídeo viral (vermelho) e o marcador nefrina (ciano) (Foto: Universidade Duke)

O Sars-CoV-2 infecta principalmente células do trato respiratório, mas há registros de pacientes que tiveram graves lesões em outros órgãos, como os rins. Em estudo publicado na última quarta-feira (20) no periódico Frontiers in Cell and Developmental Biology, cientistas descobriram que isso pode ocorrer pois o coronavírus é capaz de “sequestrar” e danificar um tipo de célula renal.






Durante um simpósio em 2020, o tema chamou a atenção da líder da pesquisa, Samira Musah, professora assistente de engenharia biomédica da Universidade Duke, nos Estados Unidos. A docente assistiu a apresentações de pesquisas sobre como pacientes sem histórico de problemas nos rins estavam desenvolvendo doença renal após a Covid-19.

“Foi chocante ouvir os médicos descreverem como os pacientes saudáveis ​​​​de repente desenvolveram lesão renal e precisaram fazer diálise após contrair o Sars-CoV-2”, recorda Musah, em comunicado. “Estava claro que o vírus estava fazendo algo com os rins, mas era tão cedo na pandemia que ninguém tinha certeza do que estava acontecendo.”

Cientistas descobriram que o Sars-CoV-2 afeta células renais chamadas podócitos (Foto: Kalejaiye et.al )

Cientistas descobriram que o Sars-CoV-2 afeta células renais chamadas podócitos (Foto: Kalejaiye et.al )

Em estudos anteriores, a pesquisadora trabalhou com sua equipe para orientar células-tronco pluripotentes a se transformarem em podócitos, um tipo de célula renal que ajuda a controlar a remoção de toxinas e resíduos do sangue. A intenção era analisar como o novo coronavírus danifica as células dos rins.

A outra líder da nova pesquisa, Titilola Kalejaiye, introduziu um pseudovírus que imita características do Sars-CoV-2 no modelo de podócitos. Com isso, a equipe descobriu que a proteína spike, que permite o vírus penetrar nas células, poderia se ligar diretamente a vários receptores na superfície desses podócitos.

“Descobrimos que o vírus era especialmente capaz de se ligar a dois receptores-chave na superfície dos podócitos, e esses receptores são abundantes nessas células renais”, conta Kalejaiye. “Houve uma forte absorção do vírus inicialmente, e também descobrimos que quando você aumentava a dose do vírus, a absorção aumentava ainda mais”.

Em seguida, Maria Blasi, professora assistente de medicina na Duke, se juntou à equipe. A pesquisadora já estava estudando como os vírus, incluindo o HIV, infectam e danificam outro subconjunto de células dos rins, chamadas de epiteliais tubulares renais.

Após novos esforços, o grupo observou que o Sars-CoV-2 ativo tinha uma forte afinidade pelos podócitos. As células renais saíam danificadas pelo coronavírus, com suas longas estruturas que ajudam a filtrar o sangue ficando retraídas e murchas. Em lesões graves, esses podócitos eram até mesmo mortos.






Além dos sérios danos na estrutura dessas células renais, o vírus também podia “sequestrar” os podócitos para produzir novas partículas virais, que se espalham e infectam mais células, segundo observou Blasi.

O próximo passo da equipe será estudar como as cepas do Sars-CoV-2 se comportam. Isso porque as lesões nos rins estão ocorrendo com menos frequência conforme novas variantes do coronavírus surgem. A equipe quer avaliar como o vírus está mudando e se está menos apto a afetar as células renais.