• Redação Galileu
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80% dos pacientes com Covid-19 grave desenvolvem insuficiência renal aguda (Foto: Pexels)

80% dos pacientes com Covid-19 grave desenvolvem insuficiência renal aguda (Foto: Pexels)

Entre os dias 6 e 9 de junho aconteceu o 57º congresso da Associação Renal Europeia - Associação Europeia de Diálise e Transplante (Era-Edta). Nas palestras, que ocorreram online por conta da pandemia de Covid-19, os cientistas apresentaram descobertas acerca de como a infecção pelo novo coronavírus impacta os rins.

Um dos estudos apresentados foi liderado por cientistas da Universidade de Bordeaux, na França, e diz que a insuficiência renal aguda (IRA) afeta até 80% das pessoas com quadros graves de Covid-19. Segundo o artigo, publicado na Clinical Kidney Journal, o vírus infecta as células do sistema tubular renal porque elas têm o receptor ACE2, que o Sars-CoV-2 usa para invadir as células humanas.

Isso faz com que as células do sitema tubular sejam prejudicadas, o que é um problema porque elas são responsáveis por garantir a reabsorção de substâncias importantes, como glicose, bicarbonato, potássio, fosfato e proteínas. Esse quadro causado pelo novo coronavírus pode causar, segundo o estudo, a chamada síndrome de Fanconi, uma doença em que substâncias e nutrientes importantes para o corpo são perdidos na urina.

De acordo com os especialistas, as consequências da síndrome de Fanconi são distúrbios relacionados ao equilíbrio mineral do organismo, além da redução da densidade óssea devido à perda de fosfato. A doença ainda pode causar outros problemas, como a hiperacidez do sangue, desidratação, aumento da sede e fraqueza.

Outra pesquisa divulgada no congresso por cientistas da Universidade de Lorraine, também na França, diz respeito justamente à relação entre a síndrome de Fanconi e a infecção por Sars-CoV-2. No artigo, publicado na Clinical Kidney Journal, a equipe explica que analisou 42 pacientes que não tinham problemas renais, testaram positivo para o novo coronavírus e apresentaram casos de gravidade variada da infecção.

Segundo os pesquisadores, 75% dos pacientes analisados desenvolveram síndrome de Fanconi em algum grau. No caso das pessoas com quadros mais graves de Covid-19, 96% foram afetados pelo problema renal. Entre aqueles com uma manifestação mais leve da infecção, esse índice foi de 62%.

"Embora nem todos os pacientes de Covid-19 com síndrome de Fanconi tenham desenvolvido IRA, acreditamos que os quatro marcadores (excreção urinária aumentada de proteínas, fosfato, ácido úrico e glicose) indiquem lesão tubular proximal específica da qual a IRA pode surgir", explicou Raphaël Kormann, um dos pesquisadores, em comunicado.

Alberto Ortiz, editor-chefe do periódico Clinical Kidney Journal, acredita que os pacientes que tiveram Covid-19 têm de ficar atentos para possíveis problemas renais permanentes. "Deve-se supor que há um risco aumentado de doença renal subsequente após a síndrome de Fanconi associada ao Sars-CoV-2, como também ocorre após lesão renal aguda", observou o especialista. "Por esse motivo, os pacientes devem sempre ser acompanhados nefrologicamente, para que as condições associadas sejam detectadas a tempo."