• Redação Galileu
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Doenças cardiovasculares continuam sendo maior fator de risco em nações pobres e emergentes (Foto: Pixabay)

Doenças cardiovasculares continuam sendo maior fator de risco em nações pobres e emergentes (Foto: Pixabay)

Dois estudos publicados no Lancet mostram que, nos países ricos, o câncer ultrapassou as doenças cardiovasculares e se tornou a principal causa de mortes. Enquanto isso, nas nações pobres e em desenvolvimento, os riscos continuam sendo maiores para pessoas com problemas no sistema circulatório e no coração.

Embora as doenças cardiovasculares – como hipertensão, infarto e derrame – ainda sejam responsáveis pela maior parte (40%) das mortes de adultos em todo o globo, se considerarmos apenas os países ricos, esse número cai pela metade – e as mortes por câncer quase dobram. 

"Nosso relatório constatou que o câncer foi a segunda causa de morte mais comum no mundo em 2017, correspondendo a 26%. Mas, à medida que as taxas de doenças cardiovasculares continuam a cair, o câncer provavelmente pode se tornar a principal causa de morte no mundo, dentro de apenas algumas décadas", disse Gilles Dagenais, que liderou um dos trabalhos, em comunicado.

O estudo também constatou que a incidência dos males relacionados ao coração diminui com o crescimento do poder econômico de cada noção. Por ano, a cada mil pessoas, 7,1 morrem por doenças cardiovasculares em países pobres. Enquanto isso, essa proporção é de 6,8 em países em desenvolvimento e 4,3 nos países ricos.

Por outro lado, além de câncer, doenças respiratórias, como a pneumonia, são bem menos recorrentes em países pobres, em comparação aos mais ricos: "Embora as estratégias de longo prazo de prevenção e gerenciamento de doenças cardiovasculares tenham se mostrado bem-sucedidas na redução do ônus dos países ricos, é necessária uma mudança de tática para aliviar o impacto desproporcionalmente alto no resto do mundo", apontou Salim Yusuf, um dos responsáveis pela pesquisa.

"Os governos desses países precisam começar investindo uma parcela maior de seu Produto Interno Bruto (PIB) na prevenção e no gerenciamento de doenças não transmissíveis, incluindo problemas cardiovasculares, em vez de se concentrarem amplamente em doenças infecciosas", argumentou o especialista. Isso, segundo os estudiosos, passa por desenvolver políticas que foquem na melhora da qualidade de vida da população.

A análise também apontou que, no geral, diversos fatores de risco para doenças cardiovasculares são modificáveis. Mundialmente, questões metabólicas, comportamentais, socioeconômicas, psicossociais e ambientais foram responsáveis ​​por 70% dos problemas do coração e do sistema circulatório.

"Embora alguns fatores de risco certamente tenham grandes impactos globais, como hipertensão, tabaco e baixa escolaridade, o impacto de outros, como a má alimentação e a poluição do ar, variam bastante de acordo com o nível econômico dos países", explicou Annika Rosengren, coautora de um dos estudos. "Agora há uma oportunidade de realinhar as políticas globais de saúde e adaptá-las a diferentes grupos de países, baseando-se nos fatores de risco de maior impacto em cada cenário."

Além disso, os especialistas defendem que as nações devem focar em fatores de risco comportamentais, como o tabagismo e os estresse. Entretanto, para Philip Joseph, Professor da Universidade McMaster, esses esforços devem ser centralizados principalmente em outras questõe, como acesso a medicamentos eficazes de baixo custo.

Os estudos, contudo, têm limitações, pois analisaram dados de apenas 21 países (incluindo o Brasil). Mas, para os pesquisadores, a avaliação dá pistas importantes sobre o que deve continuar a ser estudado: "[Essas] descobertas podem informar o uso efetivo de recursos limitados e indicam, por exemplo, a importância de melhorar a educação, a dieta e a poluição do ar em todo o mundo", comentaram Stephanie Read e Sarah Wild.

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