• Jeremiah Johnson*
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Patinete elétrica (Foto: Kristoffer Trolle/Flickr/Creative Commons)

Patinete elétrica (Foto: Kristoffer Trolle/Flickr/Creative Commons)

Patinetes elétricas compartilhadas transportam passageiros por distâncias curtas em cidades. Empresas de caronas compartilhadas os promovem como uma escolha ecologicamente correta que diminui a dependência de carros.

Para lidar com essas afirmações, é importante considerar todos os fatores ambientais relevantes, inclusive os materiais e a energia necessários para fabricar uma patinete, o impacto de coletá-las diariamente para carregá-las e redistribuí-las, e a eletricidade que carrega a bateria delas.

Eu estudo método para analisar impactos ambientais de produtos e materiais. Em um estudo publicado recentemente, eu mostro que programas de patinetes elétricas podem ter impactos ambientais maiores que os métodos de transporte que deveriam substituir. Mas se as cidades atualizarem as políticas e as empresas de mobilidade ajustarem algumas das práticas, existem oportunidades para tornar as patinetes elétricas uma opção mais verde.

O boom da patinete elétrica

Qualquer pessoa que viva em uma grande cidade ou perto de uma universidade provavelmente já viu uma patinete elétrica. Criados para viagens de curta-distância, estes dispositivos têm um pequeno motor elétrico e uma plataforma na qual uma pessoa pode ficar de pé. Nos Estados Unidos, por exemplo, empresas de viagem compartilhada como Bird ou Lime alugam patinetes elétricas por minuto, e os passageiros as deixam no destino final para que sejam alugadqs pelo próximo usuário ou para serem carregadas mais tarde.

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Em 2017, esses programas eram raros, mas em 2018 passageiros fizeram 38,5 milhões de viagens em patinetes elétricas. Esses aparelhos preenchem um nicho particular para algumas pessoas, resolvendo o problema da “última milha” — o último trecho de uma viagem, que às vezes pode ser o mais difícil, visto que pode significar caminhar de casa para um ponto de ônibus ou uma estação de trem. Patinetes elétricas são uma alternativa a dirigir ou estacionar um automóvel particular, e frequentemente mais parados que um táxi ou um Uber.

“Sua viagem foi livre de carbono” — sério?

O setor de transportes gera cerca de um terço das emissões de gases de efeito estufa dos EUA e uma grande parcela de smog e poluentes que causam asma. Sem carburantes que causam emissões, é fácil supor que patinetes elétricas são uma opção ambientalmente correta. Empresas de patinetes elétricas frequentemente chamam a atenção para os benefícios ambientais de suas corridas “livres de carbono” ou “amigas da Terra”.

Para relevar essas afirmações, Lime fez um voto para comprar créditos de energia renovável para cobrir a eletricidade usada para carregar as patinetes e a pegada de carbono usada na operação. A Bird também compra crédito de energia renovável e de pegadas de carbono para cobrir o gasto com eletricidade e da operação.

No entanto, afirmações de que são viagens totalmente livres de carbono não se sustentam quando são consideradas todas as ações necessárias para ter uma patinete elétrica pronta, na localização certa e cobrada por uso. Com os estudantes de engenharia Joseph Hollingsworth e Brenna Copeland, da Universidade do Estado da Carolina do Norte, eu me voltei para uma aproximação de ciclo de vida para preencher os espaços.

Impactos escondidos

A empresa de eletrônicos chinesa Xiaomi fabrica muitas das patinetes elétricas nos Estados Unidos. Para entender quais materiais vão em cada paciente, nós desmontamos um e fizemos o inventário dos quase seis quilos de alumínio, um quilo da bateria de lítio, motor elétrico e partes variadas de plástico e aço.

Fabricar essas patinetes e outros produtos eletrônicos tem efeitos nas minas, fundadoras e fábrica. Para as patinetes elétricas, calculamos que esses impactos de produção frequentemente excedem metade do total de impactos causados por cada milha de viagem em uma patinete.

Enviar as patinetes da China para os EUA, entretanto, tem um efeito trivial, graças à eficiência da rede global de transportes.

Empresas de patinetes elétricas empregam pessoas independentes para coletar, carregar e redistribuir os patinetes nos locais desejados. A Lime chama essas pessoas de juicers. A Bird chama de chargers, e eles distribuem as patinetes carregadas em "ninhos".

Esses coletores tipicamente dirigem seus próprios automóveis para coletar o maior número de patinetes possível, e aí as carregam em casa e as devolvem no dia seguinte. A logística não é otimizada, o que leva a trajetos desnecessários na caça por patinetes. Descobrimos que essa milhagem pode gerar mais de 40% do impacto ambiental de uso de patinetes.

Em contraste, carregar uma patinete requer relativamente pouca energia. Uma carga completa usa quase a mesma quantidade de energia que uma máquina secadora de roupas ligada por cinco minutos. E a maioria das patinetes não estão completamente descarregadas quando recolhidas, especialmente em cidades que exigem que as empresas removam as patinetes das ruas todas as noites. Em Raleigh, descobrimos que um a cada seis patinetes tinham mais de 95% de carga no fim do dia, mas ainda assim eram recolhidas para a carga noturna.

Patinetes em Austin, no Texas (Foto: Anthony Quintano/Flickr/Creative Commons)

Patinetes em Austin, no Texas (Foto: Anthony Quintano/Flickr/Creative Commons)

Outros jeitos de chegar lá

É importante considerar o que as patinetes elétricas estão substituindo quando fazemos a quantificação de seus efeitos no ambiente. Pesquisas mostram que cerca de um terço das viagens de patinetes substituem o uso de automóvel, enquanto quase metade dos usuários teriam caminhado ou usado uma bicicleta. Cerca de 10% teriam usado transporte público, e os 7% ou 8% restantes não teriam feito a viagem.

Nosso estudo descobriu que dirigir um carro é quase sempre menos ambientalmente amigável do que usar uma patinete elétrica. Quando somente um terço das viagens de patinete substituem viagens de carro, então o uso de patinetes provavelmente aumenta as emissões do transporte ao tirar pessoas de caminhadas, de bicicletas ou do transporte público. No entanto, se as patinetes elétricas substituíssem os carros metade das vezes, esperaríamos que elas representariam uma vitória para o meio ambiente.

Reduzindo a pegada das patinetes

Nossa pesquisa enfatiza algumas maneiras de tornar essas patinetes mais sustentáveis. Usar patinetes elétricas que são desenhadas para serem mais duráveis pode reduzir impactos ambientais dos materiais usados para construí-los com base nas milhas viajadas. Melhorar a coleta e distribuição pode reduzir distâncias dirigidas, e as empresas poderiam usar veículos mais eficientes para coletar as patinetes. Por sua vez, as cidades poderiam permitir que as patinetes ficasse na rua durante a noite e fossem retiradas somente quando as baterias tivessem sem carga.

Por enquanto, porém, uma viagem de patinete que não substitui uma viagem de carro dificilmente vai representar uma vitória para o planeta.

* Jeremiah Johnson é professor de Engenharia Ambiental na Universidade do Estado da Carolina do Norte. O texto foi originalmente publicado em inglês no site The Conversation.

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