• Redação Galileu
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Estudo registrou estrelas e exoplanetas que entram e saem da Zona de Trânsito da Terra, de onde é possível avistar nosso planeta quando ele se sobrepõe ao Sol (Foto: OpenSpace/American Museum of Natural History)

Estudo registrou estrelas e exoplanetas que entram e saem da Zona de Trânsito da Terra, de onde é possível avistar nosso planeta quando ele se sobrepõe ao Sol (Foto: OpenSpace/American Museum of Natural History)

Cientistas da Universidade Cornell e do Museu Americano de História Natural, ambos nos Estados Unidos, identificaram 2.034 sistemas estelares próximos a nós que podem já ter visto a Terra ou que ainda têm potencial de nos ver em um intervalo de 10 mil anos — desde cinco mil anos atrás até os próximos cinco mil a partir de agora.

A pesquisa publicada nesta quarta-feira (23) na revista Nature registra as estrelas e os exoplanetas que entram e saem da Zona de Trânsito da Terra, de onde seria possível observar nosso pálido ponto azul por meio da sobreposição de astros. "Queríamos saber quais estrelas têm o ponto de vista certo para ver a Terra, enquanto ela bloqueia a luz do Sol", explica Lisa Kaltenegger, professora de astronomia e diretora do Instituto Carl Sagan de Cornell. "E já que as estrelas se movem em nosso cosmos dinâmico, este ponto de vista é ganho e perdido", esclarece, em comunicado.

Ela e a astrofísica Jackie Faherty, do Museu Americano de História Natural, usaram dados do catálogo Gaia eDR3, da Agência Espacial Europeia (AEE), para determinar as posições estelares e o tempo em que ficam na Zona de Trânsito da Terra. "Gaia nos forneceu um mapa preciso da galáxia Via Láctea, permitindo-nos olhar para trás e para frente no tempo e ver onde as estrelas estavam localizadas e para onde estão indo", afirma Faherty.

Dos 2.034 sistemas estelares, que estão a no máximo 326 anos-luz de distância, 1.715 estão ou já passaram pela região em que podem nos ver e outros 319 sistemas ainda serão adicionados ao grupo nos próximos cinco mil anos. Sete deles abrigam exoplanetas, que já tiveram ou ainda terão a oportunidade de detectar a Terra, assim como os cientistas daqui têm feito há décadas em relação a outros planetas, através da técnica de trânsito.

Se houver vida inteligente nesses planetas, eles poderão observar a Terra atravessando o Sol e constatar as assinaturas químicas da nossa atmosfera. "Do ponto de vista dos exoplanetas, nós somos os alienígenas", diz a professora Kaltenegger.

Dois dos exemplos trazidos pelo estudo são os sistemas Ross 128 e Trappist-1, com distância de 11 e 45 anos-luz da Terra, respectivamente. O primeiro hospeda um planeta com tamanho cerca de 1,8 vezes o nosso, que poderia ter nos visto por pelo menos 2,1 mil anos — começando 3.057 anos atrás e tendo perdido seu ponto de vista há aproximadamente 900 anos.

Já os planetas do sistema solar Trappist-1 ainda não conseguem nos enxergar. Com sete corpos celestes do tamanho da Terra, quatro deles estão localizados na zona temperada e habitável da estrela. Todos serão capazes de nos detectar, mas somente daqui a pouco mais de 1,6 mil anos, quando vão entrar na Zona de Trânsito da Terra — onde permanecerão por 2.371 anos.

O que será que um possível habitante inteligente de um exoplaneta faria ao descobrir um planeta cheio de água, carbono, protegido por uma camada de ozônio e povoado por mais de 7 bilhões de seres humanos? "Pode-se imaginar que mundos além da Terra que já nos detectaram estão fazendo os mesmos planos para o nosso planeta e sistema solar", acredita Faherty. "Este catálogo é um experimento intrigante para pensar em qual de nossos vizinhos pode ser capaz de nos encontrar”, completa.