• Nick Caplan*
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Padalka fazendo seus exercícios (Foto: NASA/wikimedia)

Padalka fazendo seus exercícios (Foto: NASA/wikimedia)

O cosmonauta russo Gennady Padalka, o comandante da tripulação atual da Estação Espacial Internacional, quebrou o recorde de maior período no espaço, com 803 dias. Padalka deve retornar à Terra em setembro - e afirmou que gostaria de passar mil dias no espaço em uma missão futura. 

Mas viagens espacial alteram nosso corpo significativametne. Não sabemos, exatamente, qual é o efeito cumulativo de longas jornadas espaciais, mas sabemos que Padalka corre riscos de desenvolver uma série de problemas de saúde - desde problemas com sua coluna, osteoporose, câncer e danos em seu sistema nervoso.

Agradecimento à gravidade Ao viver na superfície da Terra, a gravidade constantemente puxa nossos corpos para baixo, nos mantendo firmes no chão. Para suportar a gravidade, nossos músculos se contraem contiunamente para ficarmos em pé. Isso faz até com que a gente fique mais baixo durante o período ativo do dia, no qual estamos de pé e não deitados. A gravidade também puxa o nosso sangue para baixo - e nossos corações precisam trabalhar duro para mandar o sangue até o cérebro. 

Nossos corpos se adaptaram a essas condições. Mas no espaço, a falta de gravidade tem efeitos profundos no corpo humano - efeitos que são ampliados com o passar do tempo na Estação Espacial, por exemplo. Enquanto estão em microgravidade, astronautas verão seus músculos ficarem menos trabalhados, seus ossos perdendo densidade mineral e um volume menor de sangue. 

No caso dos músculos, eles 'somem' simplesmente por não serem usados. Reduções no tamanho dos músculos foram notadas em astronautas que passaram até por curtos períodos de duas semanas em microgravidade - e reduções mais significativas são vistas em tripulações da ISS que passam 6 meses no espaço. 

Os músculos em nossas pernas e no torso são os mais afetados, já que são menos usados na ISS do que na Terra. Afinal, os astronautas não precisam caminhar ou ficar em pé 'enfrentando' a força da gravidade. As mudanças musculares são bem similares àquelas que vemos com o envelhecimento de nossos corpos. 

E esses danos acontecem mesmo com os astronautas fazendo duas horas de exercícios por dia dentro da ISS, levando a problemas de saúde quando eles voltam a Terra. Por isso eles precisam passar por um programa rigoroso de reabilitação. 

astronautas da missão mercury em simulação (Foto: wikimedia commons)

astronautas da missão mercury em simulação (Foto: wikimedia commons)

Mais alto no espaço Viagens espaciais também afetam os esqueletos dos astronautas. Como a gravidade não puxa ninguém pra baixo lá, as suas colunas podem aumentar até algumas polegadas durante uma missão longa. Esse aumento é devido a um aumento de fluidos nos discos espinhais - fluido que é 'espremido para fora' em questão de um dia após o retorno à Terra. 

Na Terra, a cada passo que damos, nossos ossos - principalmente os das pernas - são forçados pela gravidade. Isso faz com que os ossos possuam uma densidade apropriada de minerais (incluindo cálcio). Como os ossos de astronautas não são forçados dessa forma no espaço, a densidade mineral é reduzida. A exceção dessa regra são os ossos da parte superior do corpo (principalmente dos braços) que são mais usados no espaço e passam por um aumento na densidade mineral dos ossos. 

Essa perda de densidade faz com que os ossos dessas pessoas fiquem quebradiços, similares aos de alguém com osteoporose. Pesquisadores estimam que só 50% da perda de densidade seja recuperada após 9 meses de volta à Terra. 

E aí temos o coração. Com a falta de gravidade, o orgão não precisa trabalhar tão duro para bombear o sangue para o cérebro. O corpo dos astronautas se adapta a isso ao reduzir o volume de sangue no corpo, efeito que não é perceptível no espaço. No entanto, na volta à Terra, o sangue dos astronautas é, abruptamente 'puxado' para baixo, o que faz com que o cérebro receba pouco sangue rico em oxigênio. Isso pode levar a tontura e desmaios.

O veredico sobre Padalka Em geral, os corpos de astronautas 'envelhecem' mais rápido no espaço, causando muitas mudanças no seu retorno à Terra. Padalka, que já esteve em várias missões desde 1998, sem dúvida já passou por muitas mudanças. Cada vez que ele retornou ao nosso planeta, seu corpo se recuperou até um certo ponto. Os músculos que dão apoio à coluna, no entanto, não se recuperam muito bem, mesmo depois de 6 meses de recuperação.

Além de enfrentar osteoporose e dores nas costas, Padalka também terá mais chances de desenvolver câncer e problemas no sistema nervoso como resultado da exposição à radiação no espaço.

*Nick Caplan é professor de Biomecânica Clínica da Northumbria University, Newcastle

Esse artigo foi publicado primeiramente no The Conversation. Leia o original, em inglês, aqui. 

The Conversation