• Redação Galileu
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O pinguim-africano Lucas com seus sapatos ortopédicos no Zoológico de San Diego  (Foto: San Diego Zoo Wildlife Alliance)

O pinguim-africano Lucas com seus sapatos ortopédicos no Zoológico de San Diego (Foto: San Diego Zoo Wildlife Alliance)

Lucas, um jovem pinguim-africano (Spheniscus demersus) de 4 anos, ganhou calçados ortopédicos que melhoraram sua vida diária em uma colônia no Zoológico de San Diego, nos Estados Unidos. A iniciativa curiosa, divulgada nesta segunda-feira (29), teve ajuda da Thera-Paw, organização que fabrica produtos de reabilitação para animais.






O pinguim Lucas sofre de pododermatite ulcerativa, uma inflamação crônica da pata popularmente conhecida de bumblefoot. O termo é genérico para “uma série de condições degenerativas dos pés das aves, que variam de vermelhidão leve a abscessos profundos”, segundo a organização sem fins lucrativos San Diego Zoo Wildlife Alliance.

A inflamação gera lesões semelhantes a bolhas, que tornam o animal suscetível a infecções secundárias, de acordo com a Penguins International. Se não tratado, a bumblefoot pode levar à sepse e à morte por causa dessas infecções secundárias. Alguns dos sintomas incluem mancar, se desequilibrar e deitar por longos períodos de tempo.

Alguns dos fatores que podem aumentar o risco de bumblefoot são o substrato úmido, o uso excessivo da almofada do pé devido ao aumento do peso e os níveis reduzidos de atividade em cativeiro. Segundo a Penguins Internacional, alguns pinguins passam 75% de suas vidas no mar, porém, quando em ambientes fechados, eles preferem ficar em pé, principalmente nos substratos planos e não naturais, como concreto ou reboco.

Como os danos nos membros inferiores de Lucas pareciam permanentes, a equipe de vida selvagem decidiu usar sapatos customizados para deixá-lo o mais confortável possível. Os calçados são feitos de neoprene e borracha e protegem contra lesões, evitando úlceras de pressão em suas patas e tornozelos quando ele se levanta e anda.

Lucas sofre de pododermatite ulcerativa, uma infecção das patas mais conhecida como bumblefoot (Foto: San Diego Zoo Wildlife Alliance)

Lucas sofre de pododermatite ulcerativa, uma infecção das patas mais conhecida como bumblefoot (Foto: San Diego Zoo Wildlife Alliance)

Mais de três anos atrás, Lucas desenvolveu uma infecção na coluna que o deixou com músculos fracos nas pernas e a incapacidade de ficar em pé. O pinguim-africano teve de descansar sob áreas de seus tornozelos que normalmente não tocariam o chão. Ele foi tratado com analgésicos, fisioterapia e acupuntura, mas não foi curado.

À medida que as feridas começaram a se formar nos pés e pernas da ave, os especialistas do zoológico procuraram a Thera-Paw para criar os sapatos. “Ao longo dos anos, lidamos com casos desafiadores como o de Lucas, e cada um é especial e memorável. Uma coisa que nunca envelhece é ver a vida de um animal melhorar drasticamente depois de usar uma de nossas ajudas”, comenta Ilaria Borghese, fundadora e presidente da organização de próteses, em comunicado.

Especialistas em cuidados do Zoológico de San Diego observaram que a marcha de Lucas melhorou com os sapatos, aumentando sua capacidade de andar em seu habitat rochoso. Até mesmo a postura do pinguim lhe deu mais naturalidade e equilíbrio em pé.

“Conheço Lucas há muito tempo, então ter a capacidade de dar a ele a chance de viver uma vida normal traz um sorriso ao meu rosto”, diz Beth Bicknese, veterinária sênior do Zoológico de San Diego. Ela explica que os sapatos são acolchoados e têm velcro para ajudar o pinguim a participar da colônia e mostrar seus comportamentos mais típicos – como escalar as rochas, nadar, se aninhar e encontrar uma companheira.

Debbie Denton, especialista sênior em cuidados com a vida selvagem do zoo, relata que todos ficaram surpresos com a mudança imediata em Lucas. “Vê-lo se mexer agora nos dá esperança de que ele possa estar bem daqui para frente e capaz de viver uma vida plena”, afirma a expert. 

Segundo a especialista, não há outro tipo de animal além do pinguim-africano que esteja tão espalhado por uma área geográfica, ou apresente tantas características únicas. Contudo, infelizmente, esses pinguins estão listados como ameaçados na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).






Segundo a San Diego Zoo Wildlife Alliance, outrora uma das aves marinhas mais abundantes da África Austral, a espécie sofreu um declínio populacional maciço de cerca de 1 milhão de casais reprodutores para apenas cerca de 18 mil casais hoje. Estima-se que a população de pinguins-selvagens diminuiu cerca mais de 23% só nos últimos anos.

Mesmo que a venda de ovos da espécie tenha sido abolida no final do século 20, outras ameaças continuam, incluindo a falta de alimentos por conta da pesca excessiva, mudanças climáticas, degradação do habitat, poluição marinha e por petróleo e o surgimento do vírus da gripe aviária A (H5N8).

“À medida que seus números caem, cada pássaro individual importa. É vital que continuemos nosso trabalho para garantir sua sobrevivência contínua para as próximas gerações”, ressalta Denton.