• Redação Galileu
Atualizado em
Uma mistura de duas cepas de mixobactérias, uma que superexpressa TraAB (amarelo) e outra que é não adesiva e não reversível (azul) com aumento de x10. (Foto: D. Wall/University of Wyoming)

Uma mistura de duas cepas de mixobactérias, uma que superexpressa TraAB (amarelo) e outra que é não adesiva e não reversível (azul) com aumento de x10. (Foto: D. Wall/University of Wyoming)

Aos que ainda acreditam que a ciência e a arte são pólos de interesse opostos, os cientistas que estudam uma bactéria conhecida como Myxococcus xanthus alertam: não é bem assim. Em seus estudos eles identificaram que o organismo, que se move e se alimenta em enxames coordenados, recriaram involuntariamente algo que se parece muito com a obra-prima de Van Gogh, “A noite estrelada''. A revelação foi feita após os cientistas colorirem o enxame artificialmente, em busca de mapear os movimentos complexos deste organismo.

"Nosso trabalho destaca como uma bactéria social, conhecida como uma fonte rica de produtos naturais terapêuticos e de agentes de biocontrole de cultivo, serve como um modelo poderoso para estudar comportamentos emergentes e também exibe beleza artística", comenta o microbiologista Daniel Wall, da Universidade de Wyoming, Estados Unidos, ao portal Science Alert.

Noite Estrelada (Foto: Reprodução/ Van Gogh)

A Noite Estrelada (Foto: Reprodução/ Van Gogh)

A Myxococcus xanthus é descrita como uma bactéria social porque precisa encontrar e reconhecer parentes para sobreviver. Depois de formar grandes aglomerados familiares, essas bactérias conseguem se alimentar com mais eficiência. Segundo os estudos, elas reúnem suas enzimas e metabólitos por meio dessas conexões e dão um golpe mais poderoso em suas presas.

Mais intrigante do que essa união, que já tem fascinado os cientistas a anos, estava o fato de que quando a equipe induziu bactérias mutantes a superexpressar as conexões TraAB (responsáveis por “colar”  um membro da família Myxococcus xanthus ao outro), o enxame não conseguiu se separar tão facilmente para mudar sua forma ou direção.

Correlações entre simulações e experimentos quando diferentes combinações de agentes ou células foram misturadas (Foto: Divulgação: D. Wall/University of Wyoming)

Correlações entre simulações e experimentos quando diferentes combinações de agentes ou células foram misturadas (Foto: Divulgação: D. Wall/University of Wyoming)

Já era sabido que a conexão TraAB estava diretamente envolvida na aderência das bactérias, mas não na regulação dos movimentos do enxame. "Em células normais do tipo selvagem, elas vão e vêm como um trem de passageiros", explicou o bioengenheiro Oleg Igoshin da Rice University e colega de Wall no estudo.  "A cabeça se torna a cauda e a cauda se torna a cabeça. E eles fazem isso a cada 8 minutos ou mais.", completou.

Buscando entender o porquê o comportamento esperado não ocorreu e como as bactérias se movimentam nesse cenário, os cientistas rodaram modelos computacionais baseados em suas hipóteses e verificaram duas novas conclusões. A primeira é que a superexpressão do TraAB o torna pegajoso e, portanto, as bactérias passam a manter suas vizinhas por mais tempo, o que dispara o sinal que suprime as reversões. A segunda é que com mudanças na conexão TraAB, os enxames normais da cabeça à cauda de repente se tornaram redemoinhos giratórios de células, que juntas geram imagens para lá de hipnotizantes.

Outros experimentos em laboratório confirmaram que isso também aconteceu com as bactérias na vida real. O estudo completo pode ser lido na revista da Sociedade Americana de Microbiologia.