• Redação Galileu
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Moedas romanas evidenciam crise econômica ocorrida no século 1 a.C (Foto: Omar Curros/ Wikimedia)

Moedas romanas evidenciam crise econômica ocorrida no século 1 a.C (Foto: Omar Curros/ Wikimedia)

Uma crise financeira brevemente mencionada pelo estadista e escritor romano Marco Túlio Cícero, em seu ensaio chamado De Officiis, gerou um debate de longa data na comunidade historiográfica. Foi uma nova análise científica da composição dos denários romanos (sistema monetário romano) feita por pesquisadores da Universidade de Warwick e da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, que trouxe uma nova compreensão para a discussão.

Ao contrário do que muitos historiadores pensavam, as técnicas usadas para coletar amostras dessas moedas revelaram um declínio muito maior no valor do denário ao longo dos anos. De uma moeda de prata pura, o denário caiu primeiro para menos de 95% de pureza e depois caiu novamente para 90%, com algumas moedas tão baixas quanto 86%, sugerindo uma grave crise cambial.

“Os romanos estavam acostumados a uma moeda de prata extremamente fina, então eles podem ter perdido a confiança no denário quando ele deixou de ser puro”, observa o professor doutor Matthew Ponting, da Universidade de Liverpool, em comunicado. “O nível preciso de degradação pode ter sido menos importante para os contemporâneos do que a percepção de que a moeda foi adulterada e não mais feita de prata verdadeira.”

De uma moeda de prata pura, o denário caiu para menos de 90% (Foto: Marta Photos/ Pixabay)

De uma moeda de prata pura, o denário caiu para menos de 90% (Foto: Marta Photos/ Pixabay)

A descoberta dessa diminuição significativa no valor do denário lançou uma nova luz sobre os indícios de uma crise cambial em 86 a.C. citados por Cícero. O debate secular entre historiadores era em torno do que o estudioso quis dizer quando escreveu que “a moeda estava sendo jogada de um lado para o outro, assim ninguém podia saber o que ele tinha”. Segundo o professor Kevin Butcher, da Universidade de Warwick, este pode ser o significado das palavras de Cícero: que o valor da moeda foi 'jogado' porque ninguém podia ter certeza se os denários que possuiam eram puros ou não.

Os resultados da análise metalúrgica sugerem que as dificuldades financeiras vividas pela Roma Antiga nesses anos levaram a um relaxamento dos padrões na Casa da Moeda em 90 a.C. A análise concluiu que o teor de prata diminuiu em duas etapas, de modo que,em 87 a.C., a moeda era feita com 5 a 10% de cobre.

Essas descobertas fazem parte de um estudo mais amplo financiado pela União Europeia, que visa examinar as estratégias financeiras e monetárias dos estados do Mediterrâneo de 150 a.C. até 64 d.C., fornecendo um conjunto detalhado de análises da composição química de todas as principais moedas de prata daquele período.