• Redação Galileu
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Retrato de Mary Anning, paleontóloga inglesa, com seu cachorro Tray.  (Foto: Sedgwick Museum / Creative Commons)

Retrato de Mary Anning, paleontóloga inglesa, com seu cachorro Tray. (Foto: Sedgwick Museum / Creative Commons)

Nascida em 1799, em Lyme Regis, na Inglaterra, Mary Anning era apenas uma criança quando ajudou o pai dela, Richard, a vender fósseis que ele encontrava na costa britânica de Dorset. Após a morte do pai quando Anning tinha apenas 11 anos, ela e o irmão, Joseph, assumiram as escavações, descobrindo um fóssil de uma criatura marinha de aproximadamente cinco metros.

A criatura fazia parte do gênero de répteis Ichthyosaurus, que viveu do Triássico Superior (Rhaetiano) ao Jurássico Inferior (Pliensbachiano). Depois da primeira descoberta, muitas outras vieram, desenterrando exemplares de Plesiosaurias e de Pterossauros.

Na época em que viveu, as descobertas de Anning tiveram um papel vital para os debates que envolviam a investigação sobre a extinção das criaturas. Georges Cuvier propôs a ideia evolutiva, sugerindo que no passado muitas espécies teriam desaparecido . “Foi controverso porque implicava que nem todas as criações de Deus eram perfeitas. Algumas eram fadadas ao fracasso”, explicou Paul Barret, um especialista em dinossauros do Museu de História Natural de Londres, em entrevista ao periódico britânico The Guardian.

Enfrentando preconceitos
Séculos após sua morte, Anning está sendo reconhecida pelo seu trabalho — ela inclusive será interpretada por Kate Winslet no filme Ammonite, um drama sobre a vida da pesquisadora. Uma campanha foi lançada para criar uma estátua em sua homenagem e o rosto da paleontóloga é candidato para aparecer na próxima nota de 50 euros.

No entanto, durante anos, o trabalho da inglesa não ganhou crédito. Ele era usado como referência para estudos de diversos cientistas homens, mas Anning sequer era citada. “Ela era pobre, mulher e veio de uma família nada conformista”, Barrett contextualizou. “Todos esses fatores foram contra ela — principalmente o fato de ser mulher”.

Por ser do gênero feminino, a Sociedade Geológica discutiu os achados de Anning, mas não a permitia ir aos encontros com outros cientistas — na época, as mulheres eram proibidas de frequentar sociedades científicas.

Como a paleontóloga tinha poucos recursos financeiros, muitas portas também se fecharam. “Fósseis eram coletados e estudados por ricos cirurgiões ou vigários que tinham muito tempo em mãos”, contou o especialista.

Litografia de um fóssil de Plesiosauro descoberto por Mary Anning em 1823. (Foto:  Geological Society of London / Creative Commons )

Litografia de um fóssil de Plesiosauro descoberto por Mary Anning em 1823. (Foto: Geological Society of London / Creative Commons )

Descobertas
Apesar dos obstáculos que teve de enfrentar, Anning aproveitou as particularidades geográficas do local onde vivia para fazer suas descobertas — chamada de “Costa Jurássica de Dorset”, a região  fora coberta pelo mar há milhares de anos. 

Lá, viveram répteis gigantes que caçavam lulas e diferentes tipos de peixes. Anos a morte dessas criaturas, formaram-se seus fósseis, que foram expostos pela atividade tectônica da terra que exibiu os túmulos dos animais enterrados.

Carta de Mary Anning acerca de uma descoberta de um  plesiosauro. (Foto: Creative Commons)

Carta de Mary Anning acerca de uma descoberta de um plesiosauro (Foto: Creative Commons)


Na Costa Jurássica de Dorset, a paleontóloga adquiriu conhecimento anatômico de criaturas marinhas e chegou a trocar cartas com especialistas sobre seus estudos.

“Em uma carta para o geólogo William Buckland, ela se refere aos vertebrados cervicais e aos ossos de um ictiossauro que ela havia descoberto”, disse Andrea Hart, gerente das coleções especiais do Museu de História Natural. “Meus olhos estão tão inchados por ter pegado o fóssil que mal consigo ver para desenhá-lo”, Anning teria escrito.

Lugar de mulher é na Ciência (Foto:  )

Campanha Lugar de mulher é na Ciência, da Revista Galileu (Ilustração: Camila Rosa)

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