• Naíma Saleh
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Uma Chapeuzinho vermelho (Foto: Companhia das letrinhas)

Uma Chapeuzinho vermelho (Foto: Companhia das letrinhas)

Desde que me conheço por gente, sou viciada em livros e, acima de tudo, em Contos de Fadas. Minha primeira lembrança envolvendo reis de barbas longas, princesas encantadoras e bruxas com verruga na ponta do nariz vem de uma coleção de livros chamada Conte Outra Vez. Eram 12 volumes, cada um com duas histórias, ilustrados com desenhos belíssimos.  E não sei por que cargas d’água, a Xuxa era o rosto que estampava a coleção (sim, Ilariê, Xuxuxu Xaxaxa, ela mesma!). Os livros vinham acompanhados de fitas cassetes (sim, sou dessa época), com as narrações dos contos. Mas, honestamente, sempre preferi a versão impressa. Eu amava tanto, mas TANTO, essa coleção que chegava até a beijar os livros de tanto amor. E eu fazia isso de batom. O resultado é que, até hoje, meu afeto está impresso nas páginas com borrões em tom de rosa tutti frutti – não me julguem, eu devia ter uns 5 anos na época! E hoje mesmo com a insistência alheia para que eu me desfaça dos livros que já estão ‘velhos-caindo-aos-pedaços’, eu não conseguiria. Essas histórias são parte de mim.

Acontece que, só agora, depois de adulta, é que estou penetrando realmente no imenso universo dos Contos de Fadas e entendendo por que, afinal, essas histórias fazem tanto sucesso em tantas partes do mundo e atravessam gerações – sabia que existem cerca de 3.000 variações de Cinderela espalhadas pelo planeta? Resumidamente, pode-se dizer que Contos de Fadas trabalham com arquétipos, ou seja, com imagens e ideias que fazem parte do insconsciente coletivo e, por isso, de alguma forma fazem sentido para todos nós.

Deixando a psicanálise de lado, o mais legal é ver que, com o passar do tempo, essas histórias foram ganhando novas interpretações – quase sempre menos bárbaras e sanguinárias que as narrativas originais. Na versão dos irmãos Grimm de A Bela Adormecida, por exemplo, a princesa dá à luz um casal de gêmeos enquanto dorme após o rei ter se aproveitado dela (sim, é isso mesmo que você está pensando). Como ele ainda por cima era casado, a esposa dele tenta matar a princesa e acaba assassinada pelo próprio esposo. Nada a ver com o "felizes para sempre" a que estamos acostumados, não é mesmo?

Hoje, muitas das releituras dessas histórias que se tornaram atemporais ganharam ares mais divertidos e até irônicos, rompendo com os próprios estereótipos criados pelas histórias. Afinal, quem disse que bruxas são sempre más, que princesas sonham em encontrar o príncipe?

Veja algumas versões contemporâneas dos contos que não podem ficar de fora da sua estante:

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

Uma Chapeuzinho Vermelho, com texto e ilustrações de Marjolaine Leray, da Companhia das Letrinhas: a história da menina de capuz vermelho que vai levar doces para a vovó e acaba sendo surpreendida pelo lobo você já conhece. Mas, nesta história, o jogo vira: é a traquina menina quem engana o lobo! Os desenhos simples, meio rabiscados, ilustram bem o tom sintético da narrativa.
 

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

O Fantástico Mistério da Feiurinha, com texto de Pedro Bandeira, da Ed. Moderna: Branca de Neve está prestes a ter seu sétimo filho – e agora é Dona Branca. Cinderela está grávida e perto de celebrar Bodas de Preta. Chapeuzinho continua solteira – e com um mau humor DA-QUE-LES. E os príncipes encantados estão todos gordos e passam o tempo caçando. Nesta história que se passa muitos anos depois do ‘Felizes para Sempre’, todos se mobilizam para reencontrar Feiurinha, uma princesa desaparecida. Essa história, que foi lançada em 1986, continua fazendo sucesso graças ao bom humor com que as personagens são tratadas
 

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

O Príncipe Cinderelo, com texto e ilustrações de Babette Cole: o príncipe deste livro não tem nada, NA-DA a ver com os encantadores príncipes de contos de fadas, cheios de porte, força e charme. Este protagonista é “baixinho, sardento, magricela e andava molambento”. Quando a fada – que nessa história mais atrapalha do que ajuda – decide realizar alguns desejos do menino... começa a confusão. 

 

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

História meio ao contrário, com texto de Ana Maria Machado e ilustrações de Renato Alarcão, da Editora Ática: uma história que mostra sobretudo que o “felizes para sempre” pode ser meio assim... chato. Aqui, o final vira o começo e a gente vê o que acontece depois do “casaram-se, tiveram muitos filhos e....”. A mensagem é que cada pessoa, independente de ser príncipe, bruxa, rei ou princesa, deve escolher seus próprios caminhos.

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

A verdadeira história dos três porquinhos: com texto de Jon Scieszka e ilustrações de Lane Smith, da Companhia das Letrinhas: se você sempre chamou o Lobo de Mau, depois de ler este livro, vai pensar duas vezes. Nessa narrativa, que se desenrola como uma espécie de diário do Lobo Mau Alexandre, somos apresentados a uma nova perspectiva sobre toda a confusão com os porquinhos. O lobo mostra que, na verdade, a vítima foi... ele! Além de transmitir uma poderosa mensagem sobre justiça e pontos de vista, a narrativa traz ilustrações incríveis e ainda provoca boas risadas!
 

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

Até as princesas soltam pum: com texto de Ilan Brenman e ilustrações de Ionit Zilberman, da Brinque-Book: quando Laura pergunta ao pai se as princesas também soltam pum, ele decide consultar O Livro Secreto das Princesas, que parecia ter mais de 200 anos! Sabe o que ele encontrou lá? Um monte de segredos das princesas, com todos os gases que Branca de Neve e Cinderela já soltaram. Ainda bem que livro não tem cheiro...

Naíma Saleh (Foto: Amanda Filippi)

NAÍMA SALEH é repórter da CRESCER, e apaixonada por livros de todos os tipos – mas são os infantis que fazem seu coração bater mais forte. Quer escrever para ela? nsaleh@edglobo.com.br