• Mônica Kato
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Junto com os vários picolés que as crianças ficam loucas para tomar nos dias quentes, aparecem, também, receios que levam muitos pais a serem mais cautelosos com os pequenos do que o necessário. Muitas dessas desconfianças vêm de gerações: nossos avós passaram para os nossos pais, que passaram para nós. Por isso, não é raro surgir a dúvida: será que liberar mais de um sorvete por dia pode dar dor de garganta mesmo? Ou deixar o filho debaixo do guarda-sol, na praia, garante que ele não sofra com queimaduras solares? Ou entrar na piscina depois de almoçar provoca congestão? CRESCER perguntou aos especialistas, afinal, o que é mito e o que é verdade quando se trata de algumas situações que surgem no verão.

Criança tomando sorvete (Foto: Getty images)

Criança tomando sorvete (Foto: Getty images)

1. Tomar muito sorvete num dia só provoca dor de garganta



Mito: Nossa temperatura corporal é constante, fica em torno de 36,5 ˚C. Se a garganta fica muito tempo resfriada por causa do sorvete, vai ter, após vários picolés, o chamado efeito rebote, ou seja, uma vasodilatação (abertura) dos vasos sanguíneos. Isso porque o gelado causa vasoconstrição (fechamento). “Quando acaba de tomar o sorvete, o organismo se adapta e dilata os vasos. Isso pode deixar a garganta vermelha, seca, às vezes, com a sensação de ‘raspando’. Mas não vai causar infecção na região”, afirma o pediatra Tadeu Fernando Fernandes, membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

2. Dormir com o cabelo molhado dá gripe

Dormir com o cabelo molhado dá gripe
Depende: Na realidade, o que causa a doença é o vírus influenza. No entanto, ele pode aproveitar um momento de “guarda baixa” para contaminar a criança. “A gente perde muito calor por meio do polo cefálico – ou melhor, pela cabeça. Quando há um resfriamento, de fato, para evitar ou diminuir essa perda e manter a temperatura corporal estável, o organismo gasta mais energia. Aumenta a circulação local para fazer a vasoconstrição dos vasos sanguíneos, e isso altera as funções celulares. Se o pequeno já está com a imunidade baixa ou com alguma outra predisposição, o vírus pode aproveitar a oportunidade para se instalar”, explica a pediatra Cecília Gama Tartari, da Clínica Mantelli, de São Paulo, (SP).

3. Pisar descalço no chão frio deixa doente

Mito: Não há nenhuma relação entre o contato dos pés com uma superfície fria e o fato de ficar resfriado ou gripado. “Na verdade, pisar descalço no chão é ótimo! O contato, principalmente com terra e grama é bom para ‘renovar’ as energias”, diz o pediatra Fernandes. É importante, sobretudo, porque a criança pode experimentar a proximidade com a natureza, o que faz bem à saúde física e mental.

4. Banho frio com o corpo muito quente faz mal


Verdade: Segundo o pediatra Tadeu Fernando Fernandes, o choque térmico, em geral, não é bom para a saúde. Ir do muito quente para o muito frio e vice-versa mexe com a dinâmica cardiovascular do corpo – de crianças e adultos. Explicando de uma forma simplificada: “Os vasos sanguíneos têm um calibre normal. Quando entra em um ambiente muito quente, para se adaptar e não ‘ferver’, o organismo dilata os vasos, por isso a gente fica com a pele vermelha, e começa a perder calor pela pele por meio da transpiração. E quando está em um lugar frio demais, os vasos se fecham para segurar o calor dentro do corpo e manter a temperatura constante”, explica Fernandes. Por isso, se está em uma situação de bastante calor e entra, literalmente, numa fria, há uma alteração no funcionamento cardiovascular: a pressão arterial aumenta, assim como a frequência cardíaca. Na situação inversa, ou seja, ir do frio para o quente, ocorre o contrário: a frequência cardíaca e a pressão arterial diminuem, a criança pode sentir até tontura. “Ambos os casos caracterizam o choque térmico, e não é bom fazê-lo rapidamente, porque o corpo precisa de um tempo para se adaptar”, esclarece Fernandes.

5. Entrar na piscina depois de comer dá congestão

Mito: Antes de mais nada, uma breve explicação do que seria a congestão. Trata-se de um mal-estar com sintomas, como tontura, suor frio e, nos casos mais graves, vômitos e desmaio. Depois que a criança (e o adulto!) come, tem início o processo de digestão. E o sistema digestivo demanda um maior fluxo de sangue para fazer a absorção dos nutrientes dos alimentos. Se o pequeno entrar na piscina para fazer atividade física – nadar, por exemplo – poderá haver uma “disputa” por essa circulação sanguínea, já que a musculatura também vai precisar de fluxo sanguíneo. “No entanto, se ele for para a água apenas para brincar, fazendo movimentos leves, não há problema. A digestão até pode ficar um pouco mais lenta, mas essa situação está longe de ser uma congestão”, explica a pediatra Cecília.

6. Dormir com ar-condicionado ou ventilador ligados é “pedir” para a criança ficar gripada 


Verdade: “O ar-condicionado retira o ar quente do ambiente e devolve ar frio e seco e isso prejudica, sim, as vias aéreas”, diz Fernandes. Para os pequenos predispostos a problemas respiratórios, como os alérgicos, que sofrem com rinite e asma, a condição fica propícia para desencadeá-los. Já o ventilador não é tão nocivo, desde que o vento não seja apontado diretamente para a criança.

7.Tomar sol no verão faz bem à saúde


Verdade: “Tomar sol – no verão e durante o ano todo – estimula a produção de vitamina D que, por sua vez, ajuda em diversas funções do corpo, entre elas na absorção do cálcio e fósforo. Isso faz bem para os ossos e para o crescimento”, afirma a pediatra Cecília Gama Tartari. Mas atenção: “o sol é benéfico, desde que tomado em determinados horários – antes das 10h e após às 16h – e com proteção solar”, alerta o médico Tadeu Fernando Fernandes.

8. No calor, a criança sente menos fome

Verdade: Há duas razões para isso. “Primeiro, porque quando está mais quente, o organismo gasta menos energia para manter a temperatura corporal – por isso mesmo, necessita de menos alimentos, logo, é comum sentir menos fome. Outro motivo é o fato de, com as altas temperaturas, ingerimos mais líquidos. “Como a criança bebe mais, tende a comer menos”, diz Fernandes.

9. Mormaço “queima” menos a pele

Mormaço “queima” menos a pele
Mito: Essa crença é perigosa. Porque quando o Sol está aparente, você acaba, literalmente, visualizando sua ação e tira o pequeno da ação direta dele. “Mas à sombra, debaixo do guarda-sol, a ação dos raios solares continua, porque ele ultrapassa o tecido do objeto. “O mormaço pode até queimar mais, porque na ilusão de que não há Sol, o adulto acaba deixando a criança mais tempo brincando ali e, muitas vezes, sem a proteção adequada”, diz Cecília Gama Tartari.

10. Intoxicação alimentar é mais comum no verão

Verdade: “No calor, os alimentos tendem a sofrer maior risco de degradação, ou seja, estragarem mais rapidamente”, afirma Tadeu Fernando Fernandes. O médico recomenda evitar levar derivados lácteos no lanche da escola ou para a praia ou piscina, porque eles precisam estar muito bem conservados em temperatura fria. Maionese em patês, requeijão e mesmo frutas devem estar muito bem refrigeradas. Mande todos esses itens apenas se tiver uma boa lancheira ou bolsa térmica com gelo artificial para manter os alimentos superfrescos. 

Esta é uma época em que geralmente ficamos mais à vontade, mais relaxados. Aproveite o espírito da estação para dosar as preocupações, mas também para curtir tudo o que os dias mais longos e ensolarados proporcionam. Viva o verão!