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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta quarta-feira (13), o uso emergencial da CoronaVac para crianças de 3 a 5 anos. O imunizante, que é produzido pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, foi autorizado com a mesma formulação da vacina aplicada em adultos, com esquema vacinal de intervalo de 28 dias entre as doses. No entanto, a vacina não deve ser aplicada em crianças imunocomprometidas. 

A vacina CoronaVac está em uso emergencial no Brasil desde 17 de janeiro de 2021. No dia 20 de janeiro de 2022, a Anvisa também aprovou a inclusão da vacinação para crianças de 6 a 11 anos.

Segundo o pediatra e infectologista Renato Kfouri, primeiro secretário da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), a decisão já era aguardada. "Os menores de 5 anos ainda respondem por uma quantidade muito grande de casos", alertou o médico. O especialista, ainda, ressalta que é importante aguardar a autorização de crianças ainda mais novas, com seis meses, como nos Estados Undidos. "A inclusão de cada faixa etária a mais expande a proteção e garante à população mais vulnerável essa proteção adicional". 

O médico também reforçou sobre a segurança da vacina. "Mesmo que haja uma lacuna nos dados fornecidos pelo Butantan, o que temos é suficiente para aprovar, os benefícios são maiores que os eventuais riscos de uma plataforma de uma vacina bastante conhecida", ressaltou o especialista. 

Em sua nova decisão, para ampliar o uso da CoronaVac para crianças a partir de 3 anos, a agência se baseou em dados de diferentes estudos para avaliar a eficácia e segurança do imunizante. Três deles — Projeto Curumim, Immunita e Projeto Vigvac — foram realizados por pesquisadores brasileiros. 

Vacinas são aplicadas por idade (Foto: Getty Images)

Vacinas são aplicadas por idade (Foto: Getty Images)

Valéria Valim, professora de medicina do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes, no Espírito Santo (ES), que participou do Projeto Curumim, destacou em sua apresentação que 50% das internações entre não vacinados, no Brasil, ocorreram em crianças de 0 a 4 anos — grupo que ainda não estava sendo vacinado no país. 

O projeto Curumim recrutou crianças e adolescentes de 3 a 17 anos, moradores do Espírito Santo, para participar do estudo com a aplicação da vacina CoronaVac e da Pfizer. Em sua apresentação, a professora Valim apontou que os dados de imunidade humoral e segurança do estudo mostraram que a CoronaVac é segura em crianças de 3 a 4 anos, sendo que as crianças mais novas são capazes de induzir títulos mais altos de anticorpos comparando com o grupo das maiores de 5 anos, adolescentes e adultos. Além disso, o imunizante teve uma reatogenicidade menor em relação à aplicação da Pfizer no público pediátrico.  

Segundo a professora, um estudo da China de Fase I e II também mostrou um boa resposta imune entre as crianças, com uma soroconversão de 96%. Já o estudo de vida real do Chile — com mais de 490 mil crianças entre 3 a 5 anos — mostrou uma eficácia da vacina CoronaVac de 38,2% contra covid-19 sintomática, 64,6% contra hospitalizações e 69% contra admissão na UTI. 

Rafaella Fortini, do Instituto René Rachou, da Fiocruz Minas, participou da realização do estudo Immunita com crianças e jovens, de 6 a 17 anos vacinados com a CoronaVac, em Serrana (SP). Segundo ela, os dados já vêm mostrando que a produção de anticorpos aumenta à medida que a idade diminui, chegando 1,4% maior em crianças de 6 anos a 9 anos. 

Já o médico Manoel Barral, da Fiocruz Bahia, que participou do Projeto Vigvac, alertou para a baixa cobertura vacinal entre as crianças de 6 a 11 anos, que chegou a cerca de 60% na primeira dose e 50% na segunda. 

Durante a reunião, o presidente do departamento de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Sáfadi, também destacou a importância de vacinar as crianças a partir de 3 anos. "O Brasil tem demonstrado, ao longo desses mais de dois anos da pandemia, que a doença está longe de ser negligenciada do ponto de vista de impacto no grupo etário pediátrico. De fato, a doença é muito menos grave nas crianças que nos adultos, mas isso não significa que ela não traga risco de hospitalização, não significa que ela não traga risco de morte", ressaltou o infectologista. "Até o momento, no país, já registramos em crianças abaixo de 5 anos de idade, mais de 12 mil hospitalizações e 952 mortes atribuídas à covid", acrescentou.

Benefícios superam os riscos 

Gustavo Mendes, Gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos, afirmou que partir dos estudos analisados, principalmente dos dados das crianças vacinadas no Chile, há um indicativo de que a CoronaVac tem uma boa taxa de efetividade na população de 3 a 5 anos. Um estudo do Chile indicou uma efetividade de 55,06% do imunizante para prevenção de hospitalizações, citou Mendes. 

Segundo o pesquisador, em um contexto em que não há tratamentos medicamentosos para crianças abaixo de 12 anos, há um indicativo de benefício da aplicação da CoronaVac em crianças. 

De acordo com a gerente de farmacovigilância Helaine Carneiro Capucho, o Instituto Butantan apresentou um relatório feito com 344 crianças e adolescentes de 16 de fevereiro a 25 de junho. Nesse período, 266 crianças e adolescentes apresentaram ao menos um evento adverso.

Ao todo, foram identificados 1.042 eventos, sendo 99,5% não graves. No entanto, nenhum dos eventos adversos graves foi classificado como relacionado ao uso da vacina. Entre as principais reações estão: dor no local da aplicação, cefaleia e sensibilidade no local da administração do imunizante. A gerente de farmacologia também reforçou que nenhum óbito foi relacionado à vacina CoronaVac desde o início da vacinação no Brasil. 

Já a diretora Meiruze Sousa Freitas recomendou que mais dados sejam coletados, no entanto, rassaltou que os benefícios do uso da CoronaVac superam os riscos. "Mesmo com os dados limitados sobre a eficácia, os benefícios conhecidos e potenciais da vacina CoronaVac indicam superar os riscos conhecidos e potenciais inerentes a essa vacina".

A diretora, ainda, alertou sobre a importância da vacinação das crianças. "Embora a covid-19, pareça ser leve na grande maioria das crianças, vacinar aqueles que são elegíveis pode ter benefícios em reduzir o risco e a doença grave das próprias crianças", destacou. "O grande desafio atual é proporcionarmos o benefício da imunização incluindo a faixa etária ainda não elegível, crianças abaixo de cinco anos de idade, para fins de proteção contra mortes causadas pelo SarsCov 2, também reduzindo a necessidade de hospitalizações".

Por fim, Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, ressaltou que a CoronaVac não é um produto novo e já vem sendo usada com segurança desde 17 de janeiro do ano passado. Agora, o diretor afirmou que cabe ao Ministério da Saúde decidir se irá usar o imunizante em seu Programa Nacional de Imunização. 

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