• Crescer Online com Fapesp
Atualizado em

O uso de máscara foi flexibilizado em muitas cidades brasileiras. No entanto, o item de proteção continua sendo bem importante para manter baixos os níveis de transmissão do coronavírus nas escolas até mesmo em cidades com baixa taxa de vacinação. Foi o que concluiu um estudo publicado na plataforma arXiv em versão preprint — ainda sem revisão por pares. 

O trabalho é liderado por pesquisadores do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), em São Carlos.

Estudante usando máscara dento de sala de aula (Foto: Max Fischer/Pexels)

Estudante usando máscara dento de sala de aula (Foto: Max Fischer/Pexels)

“As máscaras de alta qualidade, como PFF2 e N95, são muito eficientes para conter a transmissão e muito baratas, se comparadas ao custo de internação em UTI [unidade de terapia intensiva]”, afirma Tiago Pereira, professor do ICMC-USP e coordenador do estudo.

Porém, o trabalho concluiu que o uso de máscaras com qualidade inferior (como as de pano) por estudantes e profissionais da educação aumentaria em cinco vezes as transmissões em relação ao cenário com escolas fechadas. No caso de os estudantes usarem máscaras consideradas de boa qualidade, como as cirúrgicas (eficácia de filtragem de 50%), e os funcionários das escolas utilizarem as N95 ou PFF2 (que têm 95% de eficácia de filtragem), o aumento da transmissão seria de três vezes, comparado ao período sem aulas presenciais.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores de basearam em dados epidemiológicos da covid-19, de secretarias de saúde e de educação, de um modelo de transmissão em salas de aula por aerossol e de dados de mobilidade de uma população. Além disso, foram incluídas as informações contidas na literatura científica sobre a transmissão do SARS-CoV-2.

A população que serviu de modelo foi a de Maragogi, no litoral de Alagoas. Com 33 mil habitantes, a cidade tem renda e demografia representativa de cerca de 40% dos municípios brasileiros. Os pesquisadores realizaram uma parceria com essa e outras cerca de cem prefeituras, a fim de coletar dados que pudessem ser usados para guiar políticas públicas, como parte das pesquisas do Grupo de Trabalho ModCovid19.

Circulação do ar

“Levamos em conta, nas simulações, que as pessoas usam as máscaras corretamente e que a filtragem é aquela fornecida na embalagem pelos fabricantes. O encaixe incorreto da máscara no rosto e outras práticas dos usuários podem diminuir consideravelmente a proteção”, alerta Pereira.

Por isso, o pesquisador acrescenta que os profissionais de educação devem ser treinados para orientar os estudantes sobre o uso correto desses equipamentos de proteção individual. O estudo também destaca que diminuir o número de alunos por turma não necessariamente restringe o espalhamento do vírus. Uma vez que o patógeno é transmitido por gotículas de saliva, a baixa circulação de ar faz com que as partículas fiquem suspensas por muito tempo, atingindo até mesmo pessoas distantes na sala de aula.

“As salas evoluíram para o conforto térmico, geralmente têm ar-condicionado, então a troca de ar é muito baixa. Isso é desastroso para a transmissão da covid-19”, afirma o pesquisador. Para se ter uma ideia, em outro estudo do grupo, foi constatado que as feiras livres não ofereciam risco maior de transmissão por estarem a céu aberto.

Embora as medidas não farmacológicas possam ser bastante eficazes se bem executadas, mesmo em ambientes fechados, a vacinação continua sendo um fator de bloqueio das transmissões, principalmente para os professores.

Um outro estudo publicado na revista Science já mostrou que educadores que dão aulas presenciais têm até 1,8 vez mais chances de se infectarem do que aqueles que trabalharam exclusivamente on-line. O fato de normalmente falarem alto e transitarem de uma sala de aula para outra faz com que sejam vetores importantes de transmissão do SARS-CoV-2. Por isso, a vacinação desses profissionais deve ser priorizada.

Para conter a transmissão, os pesquisadores pedem para as unidades melhorarem a circulação de ar nas salas e tomem medidas como isolamento de estudantes e profissionais de educação expostos ao vírus, vacinação de grupos de risco e monitoramento de casos contribuem para a diminuição de novas infecções.

Com informações Agência FAPESP, André Julião

Saiba como assinar a Crescer para ter acesso a nossos conteúdos exclusivos