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O acesso a supermercados que vendem alimentos frescos em bairros mais pobres de Nova York (EUA) teve um impacto positivo na saúde dos estudantes. Um estudo, realizado pela Universidade de Nova York, apontou um declínio de 1% na taxa de obesidade dos alunos de escolas públicas que moram nas proximidades de lojas que vendem produtos mais saudáveis. 

Os mercados também foram vinculados a uma redução de 4% a 10% na média da pontuação do IMC (Índice de massa corporal). Segundo os pesquisadores, os resultados podem incentivar políticas públicas e impactar significativamente mais de 14 milhões (19%) de crianças norte-americanas estimadas com obesidade, com taxas mais altas entre crianças negras e hispânicas. 

Mãe e filha escolhendo frutas no supermercado (Foto: Shutterstock)

Mãe e filha escolhendo frutas no supermercado (Foto: Shutterstock)

Os especialistas alertam ainda que, para reduzir substancialmente os índices de mortalidade por doenças relacionadas com o aumento de peso, as taxas de obesidade infantil teriam que diminuir pelo menos três vezes mais do que o observado no estudo.

Outro ponto que eles destacam é que a aplicação de uma ampla abordagem de política de saúde, que também incluísse subsídios para alimentos nutritivos, restrições à comercialização de junk food e rótulos de advertência, poderia fazer a diferença.

Resultados 

Publicado, na última segunda-feira (9), na revista científica JAMA Pediatrics, o novo estudo é uma importante investigação sobre os efeitos dos subsídios ao desenvolvimento de supermercados da cidade de Nova York (EUA) na obesidade infantil. Pesquisas anteriores envolveram estudos de loja única, produzindo resultados mistos que os pesquisadores esperavam que o estudo atual ajudasse a resolver. Outros trabalhos também focaram no impacto dos subsídios na obesidade em adultos, enquanto o novo estudo é o primeiro a focar em crianças e seu peso.

Para a investigação, os pesquisadores identificaram pelo menos um supermercado em cada um dos bairros da cidade que, de 2009 a 2016, participou do programa Food Retail Expansion to Support Health (FRESH) — expansão do varejo de alimentos para apoiar a saúde, em tradução livre —, da cidade de Nova York. Como parte do FRESH, a cidade ofereceu subsídios e incentivos fiscais para reformar ou construir vários supermercados em bairros de baixa renda com alto desemprego, a fim de melhorar o acesso local a alimentos saudáveis.

Os pesquisadores analisaram sete anos de registros de saúde de escolas públicas para os alunos do jardim de infância ao ensino médio que moravam a menos de um quilômetro e meio dos supermercados que participavam do programa FRESH. As medidas de peso corporal foram, então, comparadas por um ano antes e por até um ano depois que o supermercado foi refeito ou recém-construído.

Liderado por pesquisadores da NYU Grossman School of Medicine, o trabalho mostrou que dentro de um ano após a abertura de supermercados recém-reformados ou novos, as taxas de obesidade caíram de 24,3% para 23,3% entre 22.712 crianças em idade escolar que vivem a menos de 800 metros de 8 dessas lojas.

Essa redução foi comparada com nenhuma mudança nas taxas de obesidade (estável em 23,3%) entre 86.744 estudantes que residiam mais longe de lojas subsidiadas publicamente e que têm mais espaço para produtos frescos e alimentos perecíveis. Os subsídios da cidade estão disponíveis desde 2009 para reduzir o custo de reforma ou abertura de supermercados nos bairros de menor renda da cidade.

“Nosso estudo destaca que uma em cada quatro crianças de escolas públicas da cidade de Nova York, predominantemente hispânicas e negras, é obesa, um sinal preocupante da profundidade do problema de saúde infantil na cidade”, explica o epidemiologista Pasquale E. Rummo. A obesidade infantil está fortemente ligada ao risco a longo prazo de doenças cardíacas, derrame e diabetes, destaca Rummo.

Entre os outros resultados importantes do estudo estava que os scores de risco de obesidade diminuíram mais entre os alunos do jardim de infância até o 8º ano do que entre os alunos mais velhos. Rummo, professor assistente do Departamento de Saúde da População da NYU Langone Health, atribui isso ao fato de que os adolescentes têm maior liberdade para viajar para fora de sua vizinhança local do que as crianças mais novas. Os jovens também tradicionalmente têm mais dinheiro para gastar com lanches e restaurantes fast-food.

“Esses resultados, ainda que pequenos, demonstram que os subsídios aos supermercados podem desempenhar um papel eficaz na abordagem do complexo problema da obesidade infantil nos Estados Unidos, especialmente entre nossas crianças hispânicas e negras com maior risco”, ressalta Brian Elbel, professor da Universidade de Nova York  e pesquisador sênior. 

A equipe de pesquisa já tem planos para analisar os efeitos na saúde de outros incentivos baseados em supermercados, como preços com desconto para frutas e legumes, e se esses subsídios aumentam seu consumo e afetam as taxas de obesidade. Outras investigações também são necessárias, afirma o pesquisador Elbel, sobre quais efeitos, se houver, os supermercados modernos têm sobre o que os estudantes realmente compram e consomem – dados que não estavam disponíveis para a análise mais recente.

Elbel enfatiza que todos os esforços de políticas, incluindo subsídios FRESH, destinados a melhorar a saúde pública precisam ser avaliados quanto ao seu impacto a longo prazo.

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