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Todos os anos, o Ministério de Saúde lança uma nova campanha de vacinação contra a gripe. Atualmente, o Brasil utiliza cerca de 80 milhões de doses do imunizante durante a campanha – voltada para os grupos prioritários, que abrangem as crianças menores de 6 anos, adultos com mais de 60, gestantes, puérperas e portadores de doenças crônicas. Mas por que é necessário tomar uma nova dose do imunizante anualmente? 

Criança tomando vacina (Foto:  Marko Geber/Getty Images)

Criança tomando vacina (Foto: Marko Geber/Getty Images)

A gripe é causada pelo vírus influenza, que se divide em três tipos (A, B e C). Os tipos A e B são os de maior importância clínica, porque sofrem mutações frequentes e são responsáveis pelas epidemias sazonais da doença – a exemplo da H3N2, uma nova variante do vírus influenza A, que se alastrou no país entre o fim de 2021 e o início de 2022.

Para a CRESCER, o pediatra e infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explicou que uma das principais características do vírus da gripe é a sua capacidade de mutação. “O vírus muda todo ano, conforme as variantes de influenza circulam e sofrem mutações entre elas. Essas mutações fazem com que a cada ano venha uma epidemia de influenza diferente que causa reinfecções, já que essas mutações fazem o vírus ‘escapar’ da imunidade de quem já teve o vírus no passado”, esclareceu.

Portanto, é necessário que haja uma nova campanha de vacinação anualmente - com vacinas reformuladas - porque o vírus causador da gripe passa por mutações no decorrer do ano, o que significa que as pessoas que receberam uma versão anterior do imunizante não estarão protegidas contra uma possível nova variante. “A duração da imunidade da vacina é de cerca de 6 meses, mas mesmo se durasse mais, a vacina precisaria ser renovada”, completou o infectologista.

Para saber qual variante está em circulação naquele ano, é necessária a realização de um processo de monitoramento do vírus. Segundo a Agência Einstein, as agências de vigilância sanitária regionais enviam seus dados para a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) também monitora os vírus em circulação no mundo, sugerindo qual ou quais devem compor as vacinas do ano seguinte. Comitês de experts no assunto e laboratórios também participam do processo.

No Hemisfério Norte, os vírus mutantes aparecem primeiro, o que serve como indicativo sobre qual vacina deverá ser aplicada naquele ano. “Como o inverno nos países do Norte acontece antes, é esperado que os vírus circulantes por lá cheguem por aqui depois, no nosso inverno no meio do ano”, disse, em entrevista à Agência Einstein, Sergio Surugi de Siqueira, farmacêutico-bioquímico, doutor em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica do Chile, professor do curso de Farmácia e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Depois que a parte de análises é concluída, e levando em conta que a tendência seja a mesma por aqui, usa-se a mesma variante para fabricar a vacina que chegará até a população brasileira. “Essa é uma estratégia adotada que tem dado certo há anos. E mesmo que um vírus mutante surja antes em outros países, isso não significa desvantagem vacinal. A tecnologia empregada nas vacinas da gripe é muito simples e rápida. São vacinas de primeira geração, feitas com vírus inativado através de um processo totalmente dominado, simples e rápido, que exige apenas uma adaptação para a nova variante ou cepa. Basta identificá-la molecularmente para dar seguimento à nova vacina”, detalhou Sergio Surugi.

A vacina de 2022, que estará disponível no sistema público brasileiro, é a trivalente, composta pelos vírus H1N1, H3N2 (Darwin) e a cepa B, e já está sendo produzida pelo Butantan. É importante ressaltar, no entanto, que ela não tem nenhuma ação de proteção contra a covid-19. “São vírus diferentes e vacinas diferentes. Por isso, vacinar-se contra a gripe não protege da covid e nem vice-versa", esclareceu Kfouri.

A gripe pode evoluir para formas graves?

Pessoas nos extremos das idades – abaixo de 6 anos e idosos – e portadores de doenças crônicas, como asma, correm mais riscos de desenvolver enfermidades infecciosas, como otites e sinusites. Em casos mais raros, a gripe pode evoluir para complicações no sistema nervoso, como encefalites. Tudo evitável com a vacina.

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