• Nathália Armendro
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Uma das principais causas de infertilidade entre as mulheres, a endometriose afeta cerca de 10% das mulheres e meninas em idade reprodutiva em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença geralmente vem acompanhada de cólicas intensas, dor durante as relações sexuais e ciclo menstrual irregular. Não há cura, porém existem tratamentos hormonais que ajudam a controlar os sintomas e podem, sim, aumentar a taxa de fertilidade da paciente.

Barriga; endometriose; (Foto: Thinkstock)

No Brasil, cerca de 7 milhões de mulheres sofrem com essa doença inflamatória (Foto: Thinkstock)

Neste mês de março, destinado à conscientização sobre a doença, a CRESCER conversou com dois especialistas para responder às principais questões sobre a endometriose:

Afinal, o que é a endometriose?

A doença acontece quando um tecido de glândulas que reveste a cavidade uterina — chamado endométrio — começa a crescer fora do útero, em órgãos como ovários, trompas, ligamentos uterinos e até intestino e bexiga. Segundo Alexandre Silva e Silva, ginecologista especializado em Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica, quando esse tecido de glândulas está fora da cavidade uterina, ele responde igualmente aos estímulos hormonais e, portanto, cresce e sangra normalmente durante a menstruação. “O sangramento irrita o peritônio (uma película que reveste todos os órgãos abdominais), o que causa dores”, completou o médico.

De acordo com Rodrigo Fernandes, ginecologista também especialista em cirurgia minimamente invasiva com atuação em oncologia ginecológica e endometriose do Hospital e Maternidade Santa Joana, 30% a 40% das mulheres com endometriose apresentam algum grau de infertilidade (o que não significa que sejam incapazes de engravidar) e 50% das mulheres com infertilidade têm endometriose. A doença pode ser diagnosticada durante toda a vida menstrual da mulher – desde a menarca (primeira menstruação) até a menopausa – mas o mais comum é que ela apareça entre os 20 e os 45 anos de idade.

Quais as causas da doença?

Não se sabe ao certo o que causa a enfermidade. Uma das teorias diz respeito à menstruação retrógrada (quando o endométrio flui para trás, pelas trompas, e o fluxo cai na cavidade abdominopélvica). No entanto, essa teoria tem uma falha: um percentual da menstruação reflui pelas trompas em 90% a 95% das mulheres e, claro, nem todas têm endometriose. Acredita-se que algumas mulheres apresentem uma certa “dificuldade do sistema imunológico” em destruir esse tecido endometrial que cai na cavidade abdominal, o que pode causar a endometriose, afirmou Fernandes.

“A endometriose também está relacionada com a mudança do estilo de vida da mulher moderna, que posterga a gravidez e tem um maior número de ciclos menstruais do que as nossas avós, por exemplo, que passavam boa parte de suas vidas grávidas e sem menstruar. A poluição, hábitos alimentares não saudáveis e o estresse também são fatores predisponentes da doença”, completou Silva e Silva.

Os sintomas

O especialista do Hospital e Maternidade Santa Joana também explicou que existem seis principais sintomas da endometriose: fortes cólicas durante o período menstrual; dores na relação sexual; dor durante a evacuação, que se acentua principalmente no período menstrual; dor na hora de urinar; dor pélvica crônica (independente da época da menstruação); e infertilidade. O médico ressaltou que sentir um pouco de cólica durante a menstruação é normal, mas a mulher deve ficar atenta caso as dores sejam muito intensas.

Como tratar

A doença ainda não tem cura, mas há medidas que são eficazes para diminuir os sintomas e aumentar a taxa de fertilidade. “O tratamento recomendado é sempre o menos invasivo possível. Consiste, primeiro, na mudança de qualidade de vida: alimentação anti-inflamatória, com mais produtos naturais e menos industrializados. Os exercícios físicos também são superimportantes, além de um sono adequado”, explicou Fernandes. No entanto, caso o tratamento não dê resultados, pode ser indicada a realização de cirurgia. 

Já quando a paciente tem pouca dor ou dor moderada, e não quer tentar engravidar em um futuro próximo, um tratamento clínico pode ser indicado. "A base para o tratamento clínico é sempre bloquear os focos de endometriose, ou seja, bloquear o agente estimulador, que é o estrogênio (que é produzido no ovário). Então, a ideia é que a gente bloqueie o ciclo hormonal e a melhor forma é com uso de hormônio, seja ele pílula anticoncepcional, anel vaginal, DIU e alguns implantes também", explica Dr Rodrigo.

,Associado ao método hormonal escolhido para o bloqueio ovariano, é sempre recomendada a mudança na qualidade de vida.

Por que a doença afeta a fertilidade?

Segundo o ginecologista Alexandre Silva e Silva, a presença de sangue na película que reveste os órgãos abdominais causa irritação e inflamação, o que pode prejudicar a mobilidade das tubas uterinas e impedir a sua ação no momento de captação dos óvulos.

Na maioria dos casos, a endometriose não evolui para quadros mais graves e não coloca a vida da mulher em risco, mas pode afetar negativamente a qualidade de vida da paciente. “A doença evolui o tempo todo se não é tratada. Alguns estudos sugerem que casos não tratados podem evoluir para o carcinoma de células claras de ovários [tipo raro de tumor ovariano]”, alertou o especialista. Mesmo após tratamento ou cirurgia, é recomendável que a mulher faça acompanhamento ao menos anual com seu médico. 

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