• Sabrina Ongaratto
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A mãe Ane da Silva, de Curitiba, Paraná, levou um grande susto no fim de setembro. O filho Theo, de penas 7 meses, teve afundamento de crânio após cair da cama e bater a cabeça na mesinha de cabeceira. “Eu costumo deixá-lo no berço com a grade abaixada para ficar na altura da minha cama. Depois de dar de mamar, coloco no berço novamente e geralmente ele dorme. Neste dia, no entanto, ele não dormiu. Eu estava fazendo algumas planilhas, e ele foi para a minha cama, de onde caiu”, lembra Ane, que é assistente administrativa e tem se dividido entre o trabalho e os cuidados com o filho desde o início da pandemia.

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Segundo a mãe, o filho chorou um pouco, mas logo ficou calmo. No entanto, ao passar a mão na cabeça do bebê, sentiu um "buraco". "Minha primeira reação foi acalmá-lo. Depois, fui ver se tinha machucado algo e nunca tinha visto nada parecido. No hospital, o médico disse que, de imediato, o afundamento não representava um problema, mas quando ele crescesse, iria comprimir o cérebro. Por isso, era importante fazer uma cirurgia. Me sentia culpada, fiquei desesperada, depois fui entendendo que a culpa não era minha e que tava tudo bem", conta.

Theo, 7 meses, teve afundamento de crânio após queda da cama da mãe (Foto: Arquivo pessoal)

Theo, 7 meses, teve afundamento de crânio após queda da cama da mãe (Foto: Arquivo pessoal)

Ane disse que precisa trabalhar e, sem vaga na creche, ela tem conciliado o trabalho com os cuidados ao filho. “A minha sorte é que eu trabalho só meio período e estou podendo fazer home office. Não sei como eu faria se tivesse que trabalhar o dia todo”, revela. Theo já passou pelo procedimento e se recupera em casa. "A cirurgia foi tranquila, rápida, mas o coração ficou apertado, parecia que uma hora era uma eternidade. Mas ele se recuperou muito bem, até melhor do que nós e os médicos acreditávamos", conta.

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Theo com a mãe, Ane (Foto: Arquivo pessoal)

Theo com a mãe, Ane, após a cirugia (Foto: Arquivo pessoal)

O pequeno já se recupera em casa (Foto: Arquivo pessoal)

O pequeno já se recupera em casa (Foto: Arquivo pessoal)

"Doença da pandemia"

Casos como esse, de traumatismos causados por quedas, tiveram um aumento significativo durante a pandemia. No Pequeno Príncipe, hospital exclusivamente pediátrico, localizado na capital paranaense, de janeiro a agosto de 2020 foram registrados apenas 50 casos. No entanto, no mesmo período deste ano, os registros saltaram para 174 — um crescimento de de 248%. 

De acordo com o neurocirurgião pediátrico Adriano Maeda, a explicação para essa "explosão" de casos está no novo modelo de vida das famílias. “Os pais estão sobrecarregados, trabalhando de casa, com filhos para cuidar, comida para preparar, casa para organizar... É uma nova 'doença da pandemia'. Não se trata de uma negligência deliberada, mas de uma situação de limite no qual as famílias são tão vítimas quanto as crianças”, analisa.

O Pequeno Príncipe também levantou que as situações em que o paciente infantil necessitou de internação e até mesmo de cirurgia, em função das quedas, cresceram aproximadamente 425% — a maioria dos pequenos atendidos tinha, em média, 2 anos de idade. "Os acidentes domésticos são sempre um risco às crianças. No caso dos traumatismos cranianos, a maioria dos casos não gera consequências graves, mas quando falamos de crianças muito pequenas, o crânio é ainda frágil, fino e faz com que haja uma exposição maior a lesões cerebrais, hemorragias cerebrais e mesmo a fraturas. Nessa faixa etária, não é necessário cair de grandes alturas ou sofrer fortes impactos para que aconteça um dano grave", reforça o especialista.

Ainda de acordo com o médico, o tipo de queda e o tempo decorrido até conseguir ajuda médica podem piorar o caso. "Dependendo da gravidade da situação, isso pode levar ao aparecimento de sequelas como paralisias, crises convulsivas, epilepsias e outros danos neurológicos definitivos, ou até mesmo a criança ir a óbito", enfatiza.

Atenção redobrada

Segundo a ONG Criança Segura, acidentes são a principal causa de morte de crianças de 1 a 14 anos de idade no Brasil. Em 2020, 105.060 crianças de até 14 anos foram hospitalizadas em decorrência de acidentes, sendo que as maiores vítimas foram crianças de 5 a 9 anos (35,6%), seguidas dos de 10 a 14 anos (32,8%), 1 a 4 anos (26,6%) e menores de 1 ano (5%). Entre as principais causas de internação estão quedas (44%), queimaduras (19%) e trânsito (10%).

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Confira, abaixo, algumas dicas de segurança para evitar esse tipo de acidente:

- bloqueie as escadas;
- proteja itens grandes e pesados;
- proteja quinas e tomadas;
- previna acidentes no berço deixando a grade sempre levantada e evitando enfeites que contenham fios ou cordas;
- proteja as janelas e sacadas com telas; e
- nunca deixe a criança sozinha em ambientes de piscina ou qualquer outro ambiente aquático.

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