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Ao longo da pandemia, muitas mulheres tiveram (ou ainda estão apresentando) irregularidades no ciclo menstrual. Um estudo desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, identificou que 77% das mulheres relataram alterações na menstruação desde o início do período de distanciamento social. Segundo especialistas, o psicológico é o fator que mais tem influenciado as mudanças.

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“O momento em que vivemos traz uma carga imensa de ansiedade e estresse, causando mudanças no número de dias do ciclo menstrual, número de dias de menstruação, no fluxo, coloração e odor da menstruação, além de alterações na libido”, afirma Fernanda Torras, ginecologista e obstetra, membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), da Sociedade Brasileira de Mastologia (SMB) e da Associação Brasileira de Cosmetoginecologia (ABCGIN).

Menstruação  (Foto: Getty)

(Foto: Getty)

Segundo a especialista, quando o corpo é colocado sob pressão constante ou excessiva, ele secreta os hormônios do estresse: cortisol e adrenalina. “A adrenalina fornece energia, por exemplo, para correr diante de um perigo eminente. O cortisol aumenta a função cerebral e interrompe ou diminui as funções que o corpo considera não essenciais. O cortisol sinaliza o corpo para diminuir funções não vitais, como a reprodução, enquanto a adrenalina prepara-o para sobreviver ao estresse”, explica a médica.

Assim, o estresse repentino ou prolongado pode ter grandes efeitos nos hormônios reprodutivos, sendo uma maneira de “proteção e preservação“ do corpo em momentos de ansiedade intensa, tornando improvável que uma mulher engravide durante estes períodos.

Como isso acontece

De acordo com a ginecologista, o cortisol causa mudanças nos padrões de secreção de um hormônio chamado GnRH que, consequentemente, altera a secreção de dois outros hormônios essenciais para o funcionamento ovariano e a ovulação: o luteinizante (LH) e o folículo estimulante (também conhecido como FSH). “Quando os níveis de LH e FSH são baixos, os ovários podem não produzir estrogênio adequado para ocorrer a ovulação e, consequentemente, a menstruação, causando as alterações no ciclo menstrual. Essas alterações não resultam necessariamente na cessação total do ciclo menstrual, podendo levar desde o início do sangramento antes do esperado (ciclos mais curtos) até atrasos menstruais que duram meses”, conta Fernanda.

No entanto, a especialista lembra que esse atraso não acontece com quem utiliza pílulas anticoncepcionais. “Isso porque elas fazem com que as mulheres tenham uma menstruação ‘artificial’, ou seja, a menstruação não acontece pelos hormônios naturais, mas pela ingestão de hormônios contidos na pílula (estrogênio e progesterona) e independe do funcionamento do ovário” explica.

Nenhum atraso é normal

Mesmo as alterações menstruais causadas por estresse ou ansiedade não são normais. Segundo a médica, são situações que pedem avaliação. “Qualquer mulher com atraso menstrual, que não utiliza nenhum contraceptivo, primeiramente deve excluir uma gestação. Excluída a possibilidade de uma gravidez, aconselho a mulher a realizar registros dos ciclos menstruais e qualquer sintoma relacionado a ele, por três meses. Se o seu ciclo menstrual continuar anormal, procure uma avaliação médica. Se houver parada total da menstruação, vá ao especialista antes desse período”, finaliza Fernanda Torras.