• Nathália Armendro
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Amamentar o bebê pode ajudar a amenizar a dor na hora da vacina (Foto: Getty Images)

(Foto: Getty Images)

Uma revisão realizada por pesquisadoras do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e, publicada recentemente no Physiological Reports, concluiu que os anticorpos passados de m��e para filho durante a amamentação podem oferecer proteção para o bebê contra inflamações gastrointestinais e doenças respiratórias, incluindo a covid-19. O papel protetor do leite materno pode ser observado inclusive em mães que não tiveram a doença e não foram vacinadas.

As pesquisadoras revisaram mais de 100 estudos com o objetivo de investigar por que as crianças são menos acometidas pela covid-19 e se a amamentação poderia ter um papel protetor contra o vírus.

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Segundo a revisão, o leite humano contém proteínas, aminoácidos, íons, microrganismos e outras moléculas que têm funções imunoestimulatórias, que protegem o bebê contra doenças infecciosas. Isso significa que o leite materno exerce um papel protetor fundamental no início da vida e pode fornecer proteção contra diversas infecções, inclusive contra o vírus da covid-19. Além de proteger, o leite materno também tem um potencial terapêutico e pode aliviar sintomas respiratórios e gastrointestinais.

"O que nós vimos é que a amamentação pode trazer benefícios para o bebê, não só pelo fato de o leite ser uma forma de transferir anticorpos da mãe para o filho, mas também porque o leite contém uma série de moléculas que são protetoras. No caso da covid-19, isso acontece principalmente porque, no leite, uma das moléculas age nos receptores do nosso intestino que reconhecem o coronavírus”, explica à CRESCER a coordenadora do estudo, a pesquisadora Patrícia Gama. A revisão foi conduzida com a colaboração de Aline Vasques da Costa e Carolina Purcell Goes, também do ICB-USP.

Ainda não se sabe se a proteção com relação à covid-19 permanece após o desmame. “Enquanto o bebê está sendo amamentado, sabemos que a proteção é importante, mas se ela permanece após o desmame ainda não se sabe. O que a gente sabe é que quando acontece o desmame precoce, a criança pode carregar uma série de informações genéticas de podem trazer algumas consequências ao longo da vida. Muitas delas podem ser contornadas, mas algumas permanecem, tornando essas pessoas um pouco mais suscetíveis a algumas doenças”, explica a especialista.

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Além disso, um estudo recente relatou a presença de proteínas sIgAs contra o vírus da covid-19 em 100% das mães recuperadas da doença. Como esses anticorpos persistem no leite materno em níveis elevados por pelo menos 7 meses após o parto, eles podem servir para prevenir a infecção pelo vírus. A produção em grande escala desses anticorpos pode também ajudar na recuperação em casos graves.

“No caso de mães que tiveram covid-19, o que se detecta é que o fato de elas terem a doença faz com que elas possam transferir algumas moléculas em uma concentração aumentada, via leite.” A proteção também pode ser reforçada caso a mãe tenha sido vacinada contra o coronavírus. “Já há estudos que mostram que, depois daquele tempo que o nosso corpo demora para produzir anticorpos, eles podem, sim, ser transferidos da mãe para o bebê pelo leite materno”, diz a pesquisadora.

Sobre a segurança de manter o aleitamento mesmo no caso de a mãe estar contaminhada, as pesquisadoras concluem que, como não há muitos dados relatando a presença do vírus da covid-19 em amostras de leite materno e considerando os benefícios da amamentação, é recomendável que os bebês não deixem se ser amamentados mesmo em casos de infecção por covid-19. 

“Quando nós estudamos os elementos do leite separadamente, vimos que todos têm um papel importante no quadro de inflamação intestinal. E juntas, essas moléculas tornam o leite um alimento muito importante na proteção das crianças”, destaca a professora Patrícia Gama, coordenadora do estudo, ao site do ICB-USP.

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