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 (Foto: Getty Images)

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Apesar de estar erradicada do Brasil desde 1989,[1] os cuidados no combate à poliomielite – também conhecida como paralisia infantil, pólio ou, ainda, doença de Heine-Medin[2] – devem continuar. A única forma de se proteger contra a enfermidade é tomando as doses das vacinas VIP (2, 4 e 6 meses) e as duas de reforço da oral bivalente – VOP (gotinha),[3] ambas encontradas no Calendário Nacional de Vacinação.[4]

Mesmo não tendo mais nenhum caso no Brasil, no último Dia Mundial de Combate à Poliomielite (24 de outubro de 2020), o escritório europeu da Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou aos países e parceiros que permanessem atentos na luta contra a doença. Afinal, graças aos esforços de vacinação e da Global Polio Eradication Initiative,[5] os casos de poliovírus selvagem foram reduzidos em 99,9%, isso desde 1980.[6]

Apenas dois países no mundo (Paquistão e Afeganistão) ainda têm a circulação endêmica do vírus selvagem. Além disso, dois dos três tipos de poliovírus selvagem foram erradicados.[6] Com essa conquista, cinco das seis regiões da OMS têm sua certificação livre da pólio selvagem.[7]

Porém, não se deve descuidar. Os desafios permanecem, como manter a imunização de rotina como parte dos serviços essenciais de saúde, inclusive durante a pandemia da Covid-19.[8] Mas não é o que vem acontecendo. Metade das crianças brasileiras ainda não recebeu todas as vacinas que deveria deste ano. Isso é o que apontam os dados do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde. Segundo os números divulgados, a cobertura vacinal está em 51% para o calendário infantil, sendo que, para garantir proteção contra doenças como poliomielite, sarampo, coqueluche e meningite, o ideal é que fique entre 90% e 95%.[9]

“Com a globalização, corremos o risco de a doença voltar a entrar no Brasil. Se pessoas de países em que a poliomielite ainda não foi erradicada chegarem aqui contaminadas e assintomáticas, elas podem passar o vírus da paralisia infantil pelas fezes. Dessa forma, poderíamos ter uma contaminação no país – que deveria estar com 95% da sua população protegida”, explica a doutora Rosana Richtmann, infectologista do Centro de Imunização Santa Joana.

Um dos motivos para a baixa taxa de imunizações este ano é a pandemia do coronavírus, que levou parte da população a evitar sair de casa até mesmo para vacinar os filhos. Outro fator que contribui para essa queda é o movimento antivacina, que tem crescido exponencialmente em todo o mundo nos últimos anos. E com essa falta de cobertura vacinal, o risco da disseminação da poliomielite aumenta.[9]

“A pandemia do coronavírus, sem dúvida, fez com que as pessoas ficassem mais em casa e tivessem medo de sair para se vacinar. Porém, mesmo nos anos anteriores, sem o advento da pandemia, já se percebia a redução na vacinação. E isso é algo que aconteceu não só aqui, mas em todo o mundo. A gente vem acompanhando essa progressiva queda na cobertura vacinal, e isso preocupa”, fala a especialista.

Vale ressaltar que a hesitação em se vacinar foi apontada como um problema mundial pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). De acordo com estudos, a probabilidade de uma criança ser totalmente imunizada com todas as vacinas recomendadas mundialmente até os 5 anos é inferior a 20%.[10]

Entenda a poliomielite
Também chamada de pólio ou paralisia infantil, trata-se de uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus, que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca de pessoas doentes. Nos casos graves, em que ocorrem as paralisias musculares, os membros inferiores são os mais atingidos.[3]

Os fatores que mais contribuem para a proliferação da doença são, sem dúvida, a falta de saneamento, as más condições habitacionais e a higiene pessoal precária.[3] A má qualidade da água utilizada para consumo e os alimentos preparados sem os cuidados de higiene também facilitam a disseminação do vírus. Portanto, é essencial ficar atento aos hábitos de higiene, como sempre lavar as mãos antes de preparar as refeições e de comer, e também após usar o banheiro.[11]

As sequelas da doença, que não tem cura, estão relacionadas com a infecção da medula e do cérebro pelo poliovírus, que afeta a parte motora. Ela causa dores nas articulações, pé torto – conhecido como pé equino (a pessoa não consegue andar porque o calcanhar não encosta no chão), crescimento diferente das pernas (fazendo a pessoa mancar e inclinar-se para um lado, causando escoliose), osteoporose, paralisia de uma das pernas e dos músculos da fala e da deglutição – o que provoca acúmulo de secreções na boca e na garganta, dificuldade de falar, atrofia muscular e hipersensibilidade ao toque.[3]

Os doentes são tratados por meio de fisioterapia e da realização de exercícios que ajudam a desenvolver a força dos músculos afetados, além de melhorar a postura. Ainda pode ser indicado o uso de medicamentos para aliviar as dores musculares e das articulações.[3]

Adeus, poliomielite
O esforço para a erradicação da poliomielite no Brasil é o resultado da intensificação da vacinação. Ela começou como uma campanha em massa em 1980, com a vacina oral (VOP). Em 1994, o país recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) a certificação de área livre de circulação do poliovírus selvagem. Já em 2012, introduziu a vacina inativada poliomielite (VIP), substituindo as duas primeiras doses da vacina oral. Quatro anos depois, o Brasil aderiu ao Plano de Erradicação Global da Poliomielite da OMS. Tudo para evitar a introdução do vírus no país.[3]

“Contamos com uma vacina excelente, eficaz no combate à poliomielite. Depois de tanto esforço para se erradicar a doença, não podemos, de maneira nenhuma, baixar a guarda e deixar que ela volte”, finaliza a dra. Rosana.

Você sabia?
A primeira tentativa de erradicar a paralisia infantil aconteceu em 1952, quando o americano de origem polonesa Jonas Edward Salk produziu uma vacina injetável à base de vírus mortos. Porém os seus efeitos revelaram-se de curta duração.[5] Mas foi Albert Sabin, médico e pesquisador polonês que se naturalizou norte-americano, que criou a vacina e quase conseguiu eliminar a pólio em todo o mundo. Ele renunciou aos direitos de patente, o que facilitou sua utilização e permitiu que crianças de todo o mundo fossem imunizadas contra a paralisia infantil.[12]

Fontes
1. Ministério da Saúde do Brasil. I – Da Situação da Poliomielite no Brasil. [Internet]. Disponível em: https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2019/setembro/30/NOTA-INFORMATIVA-N---204-2019-CGPNI-DEIDT-SVS-MS.pdf. Acesso em: nov. 2020.
2. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Poliomielite. [Internet]. Disponível em: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/poliomielite.htm.Acesso em: nov. 2020.
3. Ministério da Saúde do Brasil. Poliomielite: causas, sintomas, diagnóstico e vacinação. [Internet]. Disponível em: http://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/poliomielite. Acesso em: nov. 2020.
4. Ministério da Saúde do Brasil. Calendário Nacional de Vacinação. [Internet]. Disponível em: https://www.saude.go.gov.br/files/imunizacao/calendario/Calendario.Nacional.Vacinacao.2020.atualizado.pdf. Acesso em: nov. 2020.
5. Polio Global Eradication Initiative. [Internet]. Disponível em: https://polioeradication.org/. Acesso em: nov. 2020.
6. Ministério da Saúde o Brasil. 24/04 – Dia Mundial da Poliomielite. [Internet]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/3341-24-10-dia-mundial-da-poliomielite. Acesso em: nov. 2020.
7. Pan American Health Organization (PAHO). PAHO celebrates achievement of Africa region in eliminating wild poliovirus. [Internet]. Disponível em: https://www.paho.org/en/news/25-8-2020-paho-celebrates-achievement-africa-region-eliminating-wild-poliovirus. Acesso em: nov. 2020.
8. World Health Organization. World Polio Day. [Internet]. Disponível em: https://www.euro.who.int/en/media-centre/events/events/2020/10/world-polio-day. Acesso em: nov. 2020.
9. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Metade das crianças brasileiras está com o calendário vacinal incompleto. [Internet]. Disponível em: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1967-metade-das-criancas-brasileiras-esta-com-o-calendario-vacinal-incompleto. Acesso em: nov. 2020.
10. Ministério da Saúde do Brasil. Especialistas falam sobre o impacto das notícias falsas nas coberturas vacinais do país. [Internet]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/especialistas-falam-sobre-o-impacto-das-noticias-falsas-nas-coberturas-vacinais-do-pais. Acesso em: nov. 2020.
11. Ministério da Saúde. Poliomielite: causas, sintomas, diagnóstico e vacinação. [Internet]. Disponível em: https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/poliomielite. Acesso em: dez. 2020.
12. Ministério da Saúde do Brasil. Albert Sabin: o médico polonês que criou a vacina contra a poliomielite. [Internet]. Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/index.php/53956-albert-sabin-o-medico-polones-que-criou-a-vacina-contra-a-poliomielite. Acesso em: nov. 2020.