• Mônica Luz
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Gisela Solymos, gerente geral do Cren, ajuda a supervisionar a alimentação das crianças atendidas diariamente no centro (Foto: Raoni Maddalena/Editora Globo)

Gisela Solymos, gerente geral do Cren, ajuda a supervisionar a alimentação das crianças atendidas diariamente no centro (Foto: Raoni Maddalena/Editora Globo)

Samuel tinha um ano e meio quando sua mãe o levou ao posto de saúde. Não era a primeira nem a segunda vez. As seguidas infecções – no ouvido e na garganta – faziam da visita ao médico uma constante. Naquele dia, porém, a avaliação foi diferente. O especialista constatou que a criança estava abaixo do peso e convidou a mãe a visitar o Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren), uma organização não governamental que presta atendimento gratuito a crianças e adolescentes desnutridos, com duas unidades na capital paulista e uma em Alagoas. “Eu aceitei. Tinha medo de perder meu filho, porque ele pesava 6,8 quilos e ainda não conseguia andar”, conta Maria Elaine Peixinho Pereira, 29 anos, auxiliar de limpeza.

Ao chegar, Samuel foi atendido por uma equipe multidisciplinar, com nutricionista, médico, psicólogo, e teve de fazer uma série de exames. A desnutrição foi confirmada. O diagnóstico, considerado grave, indicou que ele deveria ser encaminhado ao hospital dia, um dos tipos de assistência oferecidos pelo Cren. Ali, ele permaneceria de segunda a sexta-feira, das 7 às 17 horas, faria cinco refeições diárias, receberia medicamentos e participaria da programação pedagógica, como em uma escola comum. Hoje, três anos depois, o menino está prestes a receber alta.

A história de Samuel é apenas uma entre as quase 80 mil que já foram reescritas pelo Cren. Criado em 1992 por profissionais das áreas de saúde e nutrição da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o centro atua em diversas frentes. Além de receber e tratar pacientes encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde e das Unidades de Saúde da Família, promove visitas a comunidades carentes para identificar crianças e jovens desnutridos ou obesos. Em ambos os casos, eles são atendidos no regime de hospital dia, restrito aos casos mais graves de 0 a 6 anos, ou no ambulatorial, dirigido a crianças e adolescentes de 0 a 19 anos. Neste caso, os pacientes não ficam o dia todo, são acompanhados por consultas agendadas e recebem orientações.

Além do arroz com feijão


Por entender que o fator educativo é fundamental para o processo de recuperação nutricional, a
ONG não limita o trabalho às consultas que promove. Nas três unidades existentes, os pais também passam por entrevistas com a equipe multidisciplinar e por oficinas de culinária, além de receber orientações sobre o que e como fazer para promover uma alimentação saudável em casa. “A família, muitas vezes, está mal nutrida em todos os sentidos. Tem problemas de moradia, trabalho, acesso a informações. Somos focados na pessoa como um todo e não no problema”, afirma Gisela Solymos, gerente geral do Cren.

Considerado referência no assunto, o centro ainda participa de pesquisas sobre desnutriçãoem conjunto com a Unifesp e já ajudou a capacitar profissionais e a instalar serviços nutricionais em diversos pontos dentro e fora do Brasil, como Salvador, Rio de Janeiro, México, Peru e Honduras. Atualmente, a ONG tem capacidade para atender, por ano, 143 crianças no regime de hospital dia, 1.700 no ambulatorial e 5 mil nas comunidades.

Com 95 colaboradores e 40 voluntários, atua em parceria com a prefeitura de São Paulo, que arca com parte dos custos mensais. O restante provém de doadores privados. A partir da alimentação, mas passando pela educação e condições básicas das famílias, eles tentam mudar a realidade brasileira.

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