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Os ataques da Rússia à Ucrânia, que levaram 12 milhões de pessoas a deixarem para trás suas casas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), vai completar 6 meses. Alguns cidadãos, no entanto, não podem fugir e nem ao menos se esconder em abrigos quando os temidos alarmes de bombas começam a soar. É o caso dos bebês prematuros. Eles, geralmente, pesam menos de 3 kg - às vezes, metade disso - e estão conectados a máquinas e tubos. 

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Veronika é uma das prematuras cuidadas na última maternidade da cidade de Pokrovsk, na Ucrânia (Foto: Reprodução/ Daily Mail)

Veronika é uma das prematuras cuidadas na última maternidade da cidade de Pokrovsk, na Ucrânia (Foto: Reprodução/ Daily Mail)

Nascida prematuramente há quase dois meses, pesando 1,3 kg, Veronika é uma delas. A pequena recebe oxigênio através de um tubo nasal para ajudá-la a respirar enquanto lâmpadas ultravioletas dentro de uma incubadora tratam sua icterícia. Ela está no Hospital Perinatal de Pokrovsk, a última maternidade em funcionamento na cidade. Antes da invasão russa, em fevereiro, três hospitais na cidade contavam com instalações para cuidar de prematuros. Um foi atingido por um ataque aéreo e o outro precisou fechar, por causa dos combates, deixando apenas um em atividade. As informações são da agência PA Media, publicadas pelo Daily Mail.

Nesta maternidade, restou apenas uma neonatologista, Tetiana Myroshnychenko, que cuida da pequena Veronika. Tetiana agora mora no hospital, junto com seu filho de 3 anos. Na verdade, o pequeno divide a semana entre a mãe, na instituição, e o pai, um minerador de carvão.

Segundo a médica, é impossível sair de lá, mesmo quando os alarmes de bomba tocam. As máquinas a que os prematuros ficam conectados ficam acima do solo. “Se eu levar Veronika para o abrigo, levaria cinco minutos. Mas para ela, esses cinco minutos podem ser críticos”, disse Myroshnychenko.

Os funcionários do hospital relatam que a proporção de partos prematuros ou com complicações dobrou este ano, em comparação com períodos anteriores. Para eles, isso acontece devido ao estresse e a piora rápida e intensa da qualidade de vida das mulheres grávidas que ainda estão no país.

O médico-chefe, Ivan Tsyganok (Foto: Reprodução/ Daily Mail)

O médico-chefe, Ivan Tsyganok (Foto: Reprodução/ Daily Mail)

Dentro do hospital, eles evitam falar sobre a guerra. “Tudo o que acontece fora deste edifício, é claro, nos preocupa, mas não falamos sobre isso”, explica a médica. “Nossa principal preocupação agora é com os bebês”, completa.

Para aumentar as chances de um desfecho saudável para mãe e bebê, as gestantes passaram a ser mantidas em internação por mais tempo, sempre que possível, desde o início da guerra. Se tiverem alta, elas não terão os cuidados adequados. Uma delas é Inna Kyslychenko, 23. Há dois dias, ela deu à luz sua filha, Yesenia. Ela ainda está no hospital, mas, quando sair, pretende se juntar às pessoas que querem evacuar em massa para áreas mais seguras. Ela teme que a vida fique ainda pior nos próximos meses, com a chegada do inverno, já que serviços como aquecimento, eletricidade e abastecimento de água foram severamente danificados pelos ataques russos. “Temo pelas pequenas vidas, não apenas pelas nossas, mas por todas as crianças, por toda a Ucrânia”, afirma a mãe.
A maternidade mais próxima dessa, de Pokrovsk, fica na região vizinha de Dnipropetrovsk, a três horas e meia de carro - um trajeto e um tempo arriscados para mulheres no fim da gestação.

Depois de ajudar mais um recém-nascido a chegar ao mundo, o obstetra Ivan Tsyganok, médico-chefe do hospital, explicou que há motivos para que ele e alguns de seus poucos colegas terem escolhido ficar e lutar pelos pacientes. “Essas crianças que estamos trazendo ao mundo serão o futuro da Ucrânia. Acho que a vida deles será diferente da nossa. Eles viverão fora da guerra”, declarou.

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