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A gestação é um intenso processo de transformação e entrega: mudanças físicas,  hormonais e emocionais que preparam a mulher para a grande jornada da maternidade. Mas, apesar dos desafios, Bianca Braibante Flores, 27, de São Vicente do Sul, no Rio Grande do Sul, se ofereceu para gestar o bebê da irmã, Karine Braibante Flores, que estava enfrentando dificuldades para engravidar. “Meu amor pela Karine foi meu ponto de partida”, declarou a irmã.

Irmã foi barriga solidária para Karine, após perda de três bebês (Foto: Arquivo Pessoal)

Irmã foi barriga solidária para Karine, após perda de três bebês (Foto: Arquivo Pessoal)

Em entrevista à CRESCER, Karine contou que foi diagnosticada com insuficiência istmocervical - condição que provoca dilatação anormal do colo uterino ao longo da gravidez e pode culminar com o nascimento de um bebê ainda imaturo. Devido à condição, a mãe perdeu três bebês. O terceiro chegou a sobreviver 45 dias na UTI neonatal, mas infelizmente acabou não resistindo.

Após a perda do sobrinho, Bianca teve a ideia de se oferecer para fazer barriga solidária para a irmã. “Eu disse que poderia gestar a criança e perguntei o que ela achava disso. Nós somos uma família muito ligada e eu pensei: ‘Se eu sou tão feliz, por que não fazer isso por ela?’”, declarou a irmã. 

A gestação ocorreu por meio de transferência de embrião. Karine fez uma estimulação ovariana, por meio de medicamentos, e os médicos colheram seus óvulos. O marido dela também fez coleta de espermatozoides. A clínica fez a fertilização de dois óvulos e, quando a irmã estava no período fértil, os óvulos foram transferidos.

Depois de alguns dias, para a felicidade das irmãs, o resultado do teste de gravidez de Karine deu positivo. “Eu sempre entendi, durante a minha gestação, que a Mariana é minha sobrinha e minha afilhada. Sempre me coloquei como “dinda”, e nunca como mãe. Eu sempre fui muito consciente, e isso me ajudou muito”, contou a irmã. “Meu marido também me acompanhou durante todo esse momento. Ele foi o melhor marido possível nessa situação, me apoiou e esteve comigo, me ajudando, em todos os momentos”, continuou.

Mesmo sempre estando conscientes de que a pequena não era filha deles, Bianca e o marido, Breno, nunca deixaram que faltasse afeto para a bebê. “A nossa relação com a Mariana enquanto ela estava na barriga sempre foi de muito amor. Eu penso que, mesmo nós não sendo os pais dela, essa criança precisava sentir esse amor e não ser negligenciada de nenhuma forma”, declarou ela. 

Durante a gestação, as duas irmãs admitem que passaram por muitos medos e inseguranças. Apesar de tudo isso, elas se mantiveram fortes, sempre contando com o apoio da família. “Quando decidimos fazer algo dessa grandeza, recebemos muito suporte físico e espiritual. Eu acredito que Deus dá forças para as causas que são do bem”, dizem.

Karine acompanhou todo o processo de gestação da filha, desde as consultas pré-natal até o parto. “Normalmente, íamos nós duas, nossa mãe e nossa irmã, Daiane”, contou. “Eu digo que eu só carregava a bebê. Quem marcava as consultas e os ultrassons era ela. Ela só me dizia: ‘tal dia tem consulta’”, lembrou Bianca. A pequena Mariana nasceu no dia 14 de fevereiro deste ano. 

Agora, as irmãs são vizinhas e estão juntas em quase todos os momentos. “A nossa relação sempre foi muito próxima, a gente se doa muito para a outra. Então, nossa relação após a gravidez ficou a mesma. O amor, que já era muito grande, continuou o mesmo. Agora, eu e o meu marido moramos ao lado da casa da Karine, então a gente divide tudo. Temos uma relação muito legal”, contou Bianca.

Bianca e Karine estão considerando contar essa história para Mariana, quando ela for mais velha. “Existem fotos na casa da Karine de quando eu estava grávida, com a Karine e o marido dela junto. Eu acho que ela já sabe, mas acho que nós vamos contar sobre isso para ela no futuro, porque só tem a acrescentar”, disse.

Agora, Bianca está pensando em ter os próprios filhos. “Eu e o meu marido estamos nos programando. Eu ia deixar para mais adiante, mas como eu tive a Mariana, meu instinto materno ficou aflorado”, contou. “Gestar a Mariana foi a melhor coisa que eu já fiz na minha vida. Hoje, eu olho para trás e percebo que faria mais 30 vezes, se fosse preciso, porque a Mariana está aqui, os sorrisos de toda a família estão largos e eu me sinto realizada, orgulhosa de mim mesma”, derreteu-se a irmã.

Barriga solidária no Brasil

No Brasil, a gestação solidária só é permitida se a mulher que pretende carregar o bebê pertencer à família de um dos pais, em parentesco consanguíneo de até quarto grau. Além disso, a doadora genética (que fornece os óvulos) deve ter sido diagnosticada com problemas de saúde que impeçam ou contraindiquem a gravidez. A técnica também é permitida para pessoas solteiras ou em uniões homoafetivas.

De acordo com Adelino Amaral, diretor da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), a prática só é permitida quando não há lucro envolvido. “O casal que doará os gametas é responsável pelas despesas de quem cede o útero durante a gestação e o puerpério, mas, em termos de dinheiro, nada além disso”, explica. “É por essa razão que, muitas vezes, ocorre confusão em relação ao termo barriga de aluguel, geralmente usado para se referir à gravidez de substituição. Mas, no Brasil, não pode haver esse caráter comercial que o termo implica.” Em outros países, porém, como Grécia, Rússia e alguns estados dos Estados Unidos, a legislação permite a cessão do útero em troca de pagamento.

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