• Sabrina Ongaratto
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Vanessa teve gripe há algumas semanas (Foto: Reprodução Instagram)

Vanessa teve gripe há algumas semanas (Foto: Reprodução Instagram)

A orientação é clara: quem puder, fique em casa! Em meio a tentativa de conter a pandemia mundial de coronavírus, muitas pessoas estão isoladas. Mas e quem está na reta final da gravidez? Como se manter tranquila com a possibilidade de dividir o mesmo hospital com pessoas suspeitas ou infectadas?

A dermatologista Vanessa Guará, 37 anos, de São Luís, no Maranhão, mãe de Levi, 2 anos, já está no nono mês da gravidez de Dante e conta que, apesar ser médica, é difícil conter a angustia. "Toda essa situação tem me deixado muito apreensiva. O excesso de informação, até por ser da área da saúde, me deixou angustiada e me fez chorar alguns dias. Depois, decidi que só iria acompanhar o necessário pra me manter informada e tentar espairecer mais. Nessa reta final da gestação, tô fazendo coisas que gosto, como dançar, e também tenho brincado bastante com meu filho", diz. 

Ela conta ainda que, apesar da quarentena, conseguiu fazer todo o pré-natal, mas admite que a última consulta foi cancelada. "Estou em contato constante com meu obstetra. Pretendo ter meu filho de parto normal e voltar pra casa o mais rápido possível. Mas é inevitável não sentir frustração. Saber que não teremos as visitas das pessoas que amamos, nem decoração ou fotógrafo registrando o momento. Sei que tudo isso é detalhe diante da saúde. Minha maior preocupação é trazer um bebê recém-nascido pra casa, totalmente indefeso, e mantê-lo protegido desse vírus", completa.

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CESÁREA E ANTECIPAÇÃO DO PARTO

Mas nem todas as gestantes conseguem se manter calmas. A previsão é que o bebê da pedagoga Vera Lucia Nogueira Martins, 39 anos, de São Paulo, nasça até a primeira semana de abril. Ela conta que já deixou de fazer exames por causa da pandemia de coronavírus. "Estou muito apreensiva. No final da gestação se faz necessária a ida frequente ao hospital, porém, estou evitando. Me preocupa não estar realizando o devido acompanhamento nessa reta final. De verdade, minha cabeça está girando", desabafa.

Já a analista jurídico Tatiana Pires Vasconcelos, disse que por conta da situação atual resolveu agendar o parto. "Estou mega ansiosa e preocupada. Confesso que estou paranóica em sair de casa. Essa semana tenho cardiotoco e a última consulta com o meu obstetra antes do parto. Por mim, não iria! Tenho 40 anos, sou asmática e tenho hipotireoidismo. O medo é ir para a maternidade, ter alguém doente lá e trazer algo para casa, sabe? Optei pela cesárea, pois, além da asma, o que me preocupa é que o bebê não encaixou até agora e está bem alto. Estarei de 39 semanas. Esperar pelo parto normal com essa pandemia toda me deixaria ainda mais surtada. Vai que as coisas piorem", afirmou. 

A bancária Juliana Constantino, 37 anos, de Interlagos, São Paulo, foi mais longe e resolveu antecipar o nascimento do filho. "Estou com medo. Meu parto seria no dia 2 de abril, porém, como o auge da pandemia que será mais ou menos nessa data, meu esposo e eu resolvemos antecipar. Vou fazer cesárea com 38 semanas", contou.

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ENTENDA OS RISCOS

Para esclarecer as principais dúvidas (e acalmar o coração das gestantes) os obstetras Alexandre Pupo, dos Hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein (SP) e Geraldo Caldeira, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana, responderam aos principais medos e dúvidas. 

C: As maternidades estão preparadas para realizar partos em meio a pandemia?
A: Os hospitais estão se preparando para isso. Uma série de ações está sendo tomada para dimiuir os riscos de contaminação do vírus. É realizada a triagem das pessoas que chegam ao hospital. Há todo um processo de admissão de quem vem da rua para dentro do hospital. Isso está muito bem planejado. Milhares de frasquinhos de álcool gel também estão sendo espalhados para uma boa higienização. As equipes de atendimento estão bem conscientes à respeito da necessidade de manter uma boa higiene e tudo é desinfetado constantemente: elevadores, maçanetas e etc. Além disso, as gestantes precisam ter consciência de que os hospitais que lidam com coronavírus afastam esses pacientes, ou seja, mantêm eles isolados. Portanto, toda parte de atendimento à pessoas com suspeita de infecção e infectados é realizada em áreas isoladas. A maternidade costuma ser pouco afetada diretamente pelo vírus, já que não são os mesmos profissionais que atendem os dois casos. Pessoas com Covid-19 são tratadas por especialistas como pneumologistas, infectologistas, intensivistas e clínicos gerais. Então, a frente de combate nesse momento é formada por profissionais que atendem no PS e em unidades de internação. Além disso, eles são monitorados de perto e qualquer um que apresente um quadro gripal deve ser afastado do trabalho. Então, o ambiente hospitalar está bastante seguro, preparado e devidamente aparelhado para atender quem realmente precisa. Resumindo, as gestantes podem ficar tranquilas. Quando chegar a hora, dentro do ambiente hospitalar, tudo estará muito bem planejado e organizado para atendê-las com segurança.

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C: Ter bebê em um hospital que é só maternidade é mais seguro que em um geral, onde são atendidas outras especialidades?
G: Na minha opinião, uma maternidade é mais segura que um hospital geral. A não ser que a maternidade do hospital seja separada, já que, atualmente, os pronto socorros dos hospitais gerais estão atendendo muitos casos de pessoas gripadas e sem diagnósticos. Então, as unidades que são somente maternidade, provavelmte, têm menos riscos.

C: O que mudou na rotina das maternidades com a Covid-19?
A: Ao chegar na área de atendimento, a gestante será orientada de acordo com cada serviço do ponto de vista de proteção individual. Tem sido indicado o uso de máscara no ambiente de convívio com outras pessoas. O parto, seja natural ou cesárea, será realizado normalmente. Está sendo estimulado ainda mais o alojamento conjunto entre mãe e bebê para evitar que o bebê circule pelos corredores, diminuindo, assim, o contato com outras pessoas. Além disso, quase todos os hospitais restringiram as visitas e a quantidade de profissionais na cena do parto. A presença de doulas, enfermeiras obstétricas e fotógrafos, por exemplo, está sendo cortada. Normalmente, agora, uma única pessoa fica com a gestante do parto até a alta. O tempo de internação também deve ser menor, dentro do possível. De fato, recomenda-se uma alta mais precoce.

C: As consultas e exames devem ser feitos normalmente até o final da gravidez?
G: No fim do pré-natal estamos espaçando as consultas para diminuir o número de pacientes nas salas de espera. Dessa forma, damos prioridade para as gestantes que estão na reta final. Elas também estão fazendo todos os exames no consultório para não terem que ir até um laboratório e retornar ao consultório.

C: Muitas estão agendando a cesárea para antecipar o parto por meio do pico da doença, que deve ocorrer em abril. É mesmo necessário?
G: Realmente, por medo da pandemia, algumas pacientes estão pedindo para fazer antes. Antecipar muito, ou seja, tirar o bebê antes das 37 semanas por conta de neurose não é recomendado. Antes disso, ele será prematuro e corre o risco de ter que ir para a UTI neonatal. As pacientes precisam entender que, apesar da pandemia, um parto precoce também representa riscos. Então, o tempo ideal deve ser muito bem avaliado com o obstetra que acompanha a gestante.

C: Existe um tipo de parto mais indicado ou seguro para este momento?
G: Seja parto normal ou cesárea, os riscos são os mesmos. Se a paciente estiver sem sintomas e não tiver riscos nenhum de estar contaminada, não muda nada o tipo de parto. O problema maior é ela estar com sintomas. Nesse caso, ela será encaminhada para o isolamento e fará os exames de H1N1, coronavírus e influenza. A sala de cirurgia é isolada, toma-se todos os cuidados e, depois, ela fica em um andar de isolamento. Além disso, aparentemente, não temos nenhum caso comprovado de transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho - diferentemente do zika e da sífilis. A gestante também não é considerada grupo de risco, por isso, devemos ter poucas em estado grave. Então, dá para ficar tranquila.

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C: Após a alta, existe alguma recomendação específica?
A: As recomendações, após a alta da maternidade, continuam as mesmas. Para mães e bebês saudáveis, a orientação é seguir a quarentena baseada nas premissas da população geral.

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