• Juliana Duarte
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Cuidados com os dentes na gravidez: eles são importantes para você e para o bebê (Foto: Thinkstock)

Cuidados com os dentes na gravidez: eles são importantes para você e para o bebê (Foto: Thinkstock)

Problemas na dentição e na gengiva são mais comuns na gravidez e podem trazer prejuízos para a mãe e o bebê. Entenda por que e saiba como garantir sua saúde bucal antes mesmo de engravidar.

Grávidas correm mais risco de ter problemas bucais?

O corpo da gestante passa por uma série de mudanças físicas, metabólicas e hormonais. Todas elas ajudam a preparar o organismo para o desenvolvimento do bebê e influenciam diretamente na saúde bucal da mãe. Só para se ter uma ideia, pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) acompanharam a rotina de 88 gestantes e detectaram que 83% delas apresentaram algum problema periodontal, como inflamações ou infecções na gengiva. Um dos motivos é uma maior produção dos hormônios estrogênio e progesterona pela placenta. Essas substâncias promovem modificações vasculares que facilitam o ataque das bactérias, provocando vermelhidão, inchaço e sangramento na gengiva, o que caracteriza a chamada gengivite. A melhor forma de cuidar do problema é caprichar na higienização, escovando os dentes depois das refeições e usando fio dental, além de evitar o consumo exagerado de doces. Caso contrário, a inflamação pode evoluir para a periodontite, doença que compromete o tecido de sustentação do dente. O processo inflamatório tende a se tornar cada vez mais intenso, com a formação de tártaro e, não raro, culmina em dor localizada, mau hálito e paladar alterado. O problema não para por aí. A ação hormonal ainda é capaz de reduzir o pH da saliva, ou seja, deixá-la mais ácida. Tal mudança pode prejudicar o esmalte dos dentes e estimula o aparecimento de cáries, principalmente no primeiro trimestre, quando o corpo está na fase mais atribulada de adaptação à gravidez.

É verdade que a gengivite e a periodontite podem induzir o parto prematuro?

De acordo com um estudo conduzido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), gestantes com problemas odontológicos, como gengivites ou periodontites, correm um risco maior de ter partos prematuros ou dar à luz bebês com baixo peso (inferior a 2,5 quilos). O motivo é simples: as bactérias que ocasionam essas inflamações na boca percorrem a corrente sanguínea e se fixam no líquido amniótico e na placenta, tecido que envolve o útero. Por se tratar de micro-organismos nocivos, o corpo da mãe rapidamente entende que precisa salvar o bebê e, por essa razão, apressa o trabalho de parto. Outro problema que pode ser desencadeado na mãe por essas doenças é a cardiopatia, caracterizada pela inflamação das artérias e comprometimento do coração. Isso acontece porque a inflamação na gengiva, mais uma vez, pode funcionar como porta de entrada para as bactérias, que eventualmente conseguem chegar ao órgão. Por fim, vale ressaltar às mulheres diabéticas que elas precisam redobrar os cuidados. Existem evidências de que esse grupo corre um risco quatro vezes maior de sofrer com gengivites ou periodontites do que o das gestantes que não apresentam o problema.

Quando devo iniciar o pré-natal odontológico?


A saúde da criança começa a se estabelecer quando ela ainda está na barriga da mãe. Por isso, descuidar dos dentes antes e durante a gestação pode resultar em complicações para o bebê. Preveni-las é simples: procure um dentista e faça um check-up da boca antes mesmo de engravidar. Essa é uma boa oportunidade para realizar a profilaxia dentária – tratamento que remove a placa bacteriana por meio de raspagem e polimento –, o que é bastante recomendado nessa fase. Após a concepção, o ideal é continuar o acompanhamento, retornando ao consultório a cada início de trimestre. Nessas ocasiões, a grávida receberá valiosas recomendações sobre como manter a boca livre de doenças.

Surgiu um problema nos dentes, posso tratá-lo?

Sim. Os perigos que os procedimentos representam são menores do que as complicações decorrentes da falta de assistência. O dentista, porém, deve adotar alguns cuidados básicos ao atender uma gestante: avaliar seus sinais vitais, levar em conta o seu estado de vulnerabilidade e realizar uma boa anamnese – investigação de seu histórico e hábitos. Isso vale para todas as intervenções, de restaurações até tratamento de canais. Alguns procedimentos requerem anestesia ou raio X da boca, que são liberados após o primeiro trimestre, se forem realmente necessários (no segundo caso, é preciso cobrir a barriga com uma proteção de chumbo). O único veto é o clareamento, pois não há comprovação de sua segurança nesse período. Tratamentos extensos e cirurgias invasivas, como implantes, devem ser programados para depois do parto.

A mãe pode transmitir cárie ao filho?

Esse assunto gera polêmica entre os especialistas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a cárie é considerada uma doença infectocontagiosa e pode passar de mãe para filho (ou de qualquer outra pessoa) durante um beijo, ao assoprar o alimento ou dividir a mesma colher. Um estudo da Universidade de Queensland (Austrália) confirma essa premissa. Os cientistas constataram que hábitos do gênero podem aumentar em 80% o risco de crianças com até 2 anos desenvolverem cárie ou outro tipo de infecção na boca. Isso porque os micróbios contraídos por ela se proliferam, fermentam os carboidratos da dieta e produzem um ácido que danifica o dente. No entanto, para a Associação Brasileira de Odontologia de Promoção de Saúde (Aboprev), a transmissão da bactéria de mãe para filho não é o x da questão, mas sim a má higienização da boca do bebê, que seria a verdadeira responsável pelo surgimento das cáries. Portanto, os esforços de prevenção deveriam se concentrar em uma boa limpeza.

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