• Maria Clara Vieira
Atualizado em
Cork, Ireland (Foto: Getty Images/Wavebreak Media)

(Foto: Thinkstock/Wavebreak Media)

Os tempos mudaram. Algumas décadas atrás, a mulher de 30 e poucos anos já tinha família constituída, com um ou mais filhos. Atualmente, porém, muitas das que se encontram nessa faixa etária estão apenas começando a pensar em ter um bebê. Seja porque querem uma condição financeira mais favorável, desejam comprar a casa própria ou completar a pós-graduação, o fato é que adiar a gravidez tem se tornado cada vez mais comum. E os números comprovam isso. Os dados mais recentes do IBGE mostram que, em 2015, 30,8% dos recém-nascidos tinham mães entre 30 e 39 anos. Em 2005, eram apenas 22,5%.

Embora o casal mais velho esteja mais preparado em diversos aspectos para receber um filho, nem sempre é fácil engravidar naturalmente conforme os anos chegam. Isso porque, com o passar do tempo, ocorrem mudanças significativas que dificultam a chance de sucesso da concepção – e uma delas se passa dentro dos ovários. A quantidade de óvulos que está disponível no corpo da mulher para a fecundação (a chamada reserva ovariana) cai consideravelmente conforme a idade avança. A medicina já sabe que, no período compreendido entre a primeira menstruação e os 30 anos, a fertilidade da mulher se mantém estável. Dos 30 aos 35, ocorre uma queda. E, após os 35, se reduz acentuadamente. “A perda de óvulos é inexorável. Não há nada que a impeça. Uma mulher de 37 ou 38 anos, por exemplo, já perdeu quase toda a sua reserva. Além disso, os últimos a serem liberados têm mais defeitos genéticos, o que costuma causar abortamentos espontâneos”, explica João Pedro Junqueira Caetano, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. É por todos esses motivos que, se você deseja ter um filho no futuro, deve ter cuidado com essa questão. E aí entra a avaliação da reserva ovariana.

Ela pode ser feita por meio de três exames simples: dois são de sangue e um é de imagem [veja detalhes nesta reportagem]. Com a ajuda deles, o médico observa se há (ou não) tempo de sobra para que você engravide. “Essa avaliação é importante porque, se a reserva está baixa, é possível preservar a fertilidade”, afirma Frederico Corrêa, diretor do Centro de Reprodução Humana FertilCare (DF) e membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.

No entanto,  a não ser que a paciente peça, esses exames não costumam estar entre os requisitados rotineiramente pelo ginecologista. A recomendação geral é a seguinte: mulheres de até 35 anos devem tentar engravidar naturalmente durante um ano, e só depois, caso não consigam, vale investigar – e aí entram os testes de reserva ovariana. Para as que têm mais de 35, as tentativas devem acontecer durante seis meses. Se nesse meio-tempo não engravidar, é preciso buscar a causa.  

Mas, tenha calma! Por mais que o seu exame revele que é necessário correr contra o relógio, saiba que não é preciso desespero (aliás, isso só dificulta a concepção, como você lerá a seguir). Não faltam opções na medicina para realizar o sonho da maternidade. Dependendo da situação e da quantidade de óvulos disponíveis, o casal pode simplesmente continuar tentando de maneira natural: o médico prescreve comprimidos que estimulam a ovulação e o homem e a mulher fazem sua parte em casa. Já, quando a reserva está realmente muito baixa, há duas opções: congelar os óvulos para o futuro ou recorrer imediatamente à fertilização in vitro (FIV).

QUANDO CONGELAR ÓVULOS- Se a mulher precisa passar por quimioterapia;- Se já tem 30 anos e ainda não tem parceiro (ou não sabe se terá no futuro);- Se está com baixa reserva ovariana;- Se sabe que quer postergar a gestação e tem mais de 35 anos.

Exames que medem a reserva ovariana

Ultrassonografia transvaginal
Método prático, deve ser feito nos primeiros dias do ciclo menstrual. Por meio da imagem, o especialista conta quantos folículos a mulher tem naquele mês. Menos de dez, indicam baixa reserva; mais de 20, alta. É coberta pelo SUS e por convênios.

FSH
Exame de sangue simples, realizado entre o primeiro e o terceiro dia da menstruação. Mede o hormônio folículo-estimulante (FSH), o indutor natural do ovário. Se o valor for baixo, significa que o ovário está mais cheio. É coberto pelo SUS e convênios médicos.

Hormônio antimülleriano
Trata-se do exame de sangue mais moderno para estimar a reserva ovariana. Mede o hormônio produzido pelos folículos antrais. Quanto menor for a dosagem, menor a reserva de óvulos. Custa de R$ 400 a R$ 800. Não é feito no SUS nem é coberto por convênios.

óvulos (Foto: Getty Images/iStockphoto)

(Foto: Thinkstock/Hidesy)

Enfim, a gravidez

A servidora pública Emily Fleischmann, 36, desejava ser mãe. Mas ela se casou aos 29 anos e sabia que a gestação seria postergada. Aos 33, parou de tomar a pílula anticoncepcional para finalmente poder engravidar. Não conseguia. Após um ano de tentativas frustradas, decidiu investigar. E logo no primeiro exame que ela fez (antimülleriano), o motivo da dificuldade ficou claro. “O médico disse que eu tinha que correr, porque minha reserva era muito baixa, o equivalente a uma mulher de 42 anos. O desgaste psicológico é grande. É muito difícil passar por tudo isso”, relembra.

A melhor opção no caso de Emily foi a FIV. No primeiro mês de tratamento com injeções de hormônio, ela produziu apenas dois óvulos (o que é considerado pouco). Eles foram coletados pelo médico e fecundados em laboratório com o esperma do marido. Depois, aconteceu a implantação em seu útero. “Eu fiquei morrendo de medo que não desse certo”, conta. No fim do processo, a gravidez foi confirmada. Seus dois únicos óvulos se transformaram em bebês gêmeos. Hoje, Arthur e Ana estão com 10 meses e crescem saudáveis.

Vale ressaltar que nem sempre o diagnóstico da baixa reserva ovariana impede que a concepção ocorra de maneira natural. E não faltam exemplos práticos que comprovem isso. Com a professora Indianara da Silva, 40, foi exatamente assim. “Em função de priorizar o lado profissional, deixei para engravidar aos 35 anos”, relata. Após um ano de tentativas sem sucesso, fez todos os exames necessários, mas nenhum problema foi detectado. Depois de mais quatro anos estimulando a ovulação, nada aconteceu. “É muito desconfortável. A cada menstruação, sentia uma frustração.” Quando estava com 39, consultou um novo especialista e ele pediu o exame de reserva ovariana. Com o baixo resultado em mãos, o casal ouviu do médico que a solução seria a FIV. “Como eu e meu marido não entramos em um acordo sobre isso, decidimos que não faríamos. Então, coloquei na cabeça que não seria mãe e pronto. Foi aí que fiquei grávida naturalmente. Ganhei meu bebê quando completei 40 anos”, comemora ela, que é mãe de Henrique, 8 meses.

"30% das mulheres que deram à luz em 2015 no Brasil tinham entre 30 e 39 anos""

Esse tipo de relato soa familiar, não? E com razão. A ciência já provou que a ansiedade realmente diminui a chance de uma gestação. Um estudo da Universidade do Estado de Ohio (EUA) revelou que o estresse e a infertilidade estão relacionados. Durante um ano, os pesquisadores acompanharam 501 mulheres de 18 a 40 anos que desejavam engravidar. Aquelas que estavam mais estressadas não conseguiram conceber o bebê. 

Que o diga a empresária Ana*,  37. Ela descobriu aos 34 anos que tinha poucos óvulos disponíveis e, para completar, os espermatozoides do marido tinham baixa motilidade (capacidade de se mover). No total, fizeram três fertilizações. Nenhuma deu certo. “Decidimos parar de tentar porque era caro e muito desgastante. Precisei de terapia. Eu não tinha mais condições psicológicas de fazer uma nova FIV. Nessa época, meu marido conseguiu uma bolsa de estudos nos Estados Unidos e nós nos mudamos. Estávamos determinados a tocar a nossa vida como casal sem filhos e ser muito felizes. No primeiro mês lá, engravidei”, conta ela, que hoje é mãe de uma bebê de 1 ano.

Quantos óvulos têm aqui?


Todos os óvulos que a mulher terá ao longo da vida são produzidos enquanto ela ainda é um bebê, dentro do útero materno. Até a metade da gestação, a menina tem de 6 a 7 milhões de óvulos. Quando nasce, há apenas de 1 a 2 milhões. A ciência ainda não consegue explicar o motivo dessa queda brusca em tão pouco tempo. Mas a questão é que, dali em diante, ela não para mais de perdê-los. Por volta dos 12 ou 13 anos, quando costuma ocorrer a primeira menstruação, só restam em torno de 400 ou 500 mil. Parece muito? Mas não é! Isso porque eles continuam indo embora em alta velocidade. A cada ciclo menstrual, o corpo feminino disponibiliza cerca de mil óvulos, mas apenas um ovula de fato. Todos os outros são perdidos. Mesmo tomando pílula ou durante uma gestação, essa baixa mensal continua acontecendo, e não há nada a se fazer para impedir esse processo. Nesse ritmo, o ovário vai se esvaziando até que, no fim dos 30 e início dos 40 anos, o estoque está praticamente zerado.

E o segundo, dá tempo?

É fato que a baixa reserva ovariana preocupa especialmente os casais que ainda não são pais. Mas quem já tem um filho e deseja outro também se angustia ao receber a notícia. A bancária Andrea Rodrigues, 40, está passando por essa experiência. Ela é mãe de Thais, 5, e gostaria de aumentar a família. “Penso em ter o segundo filho, mas a minha médica me alertou que tenho pouquíssimos óvulos e já não estou ovulando todo mês. Eu sinto um pouco de medo de querer demais, não conseguir e me frustrar. Então, tenho deixado a vida me levar. Se der certo, ele será muito bem-vindo, se não, tudo bem”, conta.

Agora é com você, está em seus planos aumentar a família em breve?

Você já curtiu Crescer no Facebook?