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Vanessa descobriu que estava grávida quando deu à luz ao filho no banheiro (Foto: Arquivo pessoal)

Vanessa descobriu que estava grávida quando deu à luz ao filho no banheiro (Foto: Arquivo pessoal)

"Tudo começou em fevereiro de 2014, quando tive coragem para realizar a cirurgia bariátrica, de redução do estômago. Fiz os exames pré-cirúrgicos entre julho e agosto. A cirurgia foi marcada para 20 de outubro e não refiz nenhum exame. Meu beta HCG estava negativo, eu menstruei nos dois meses, tinha os dois ovários policísticos e endometriose.

Depois da operação, segui à risca todas as orientações médicas. Ao completar os primeiros 45 dias, informei ao médico que eu 'vomitava' um líquido branco e que não me alimentava com nada pastoso. Ele solicitou uma endoscopia porque não era normal. Fiz o exame e não constou nada. A cada mês eu emagrecia mais e mais. Durante esse período tive uma anemia muito forte, uma séria infecção urinária e um incômodo absurdo com os gases, mas sempre fazendo a dieta do jeito certinho.

Arthur nasceu saudável (Foto: Arquivo pessoal)

Em seis meses de cirurgia, Vanessa perdeu
34 quilos (Foto: Arquivo pessoal)

Meu médico deixou muito claro que após a cirurgia, com a perda de peso, aumentava muito o risco de engravidar. Eu deveria me prevenir, porque o bebê poderia ter complicação devido ao fato de meu organismo não absorver algumas vitaminas. Em 13 anos de casamento e com dificuldades para ter um bebê, estar grávida era algo que nunca passava pela minha cabeça.

No dia 27 de maio, acordei por volta das cinco horas da manhã com toda a cama molhada. Corri ao banheiro e saiu um coágulo de sangue. Como fazia sete meses que não acontecia isso, na hora falei para o meu marido: 'Estou menstruada justo nessa semana. Tira o lençol para não manchar o colchão'. Ele retirou o lençol, que era de cor vinho, e me avisou que não havia manchado nada. Começamos a rir porque molhou bastante. Eu ainda brinquei: 'Será que fiz xixi na cama e não percebi?' Tomei banho e fui trabalhar normalmente. Descobri depois, no hospital, que, nesse dia, o que ocorreu foi o rompimento da minha bolsa. Por isso, não havia sangue, como em uma menstruação normal.

No dia seguinte, eu sentia muita fraqueza e dores no abdômen. Mesmo com todo o estresse do serviço, não consegui trabalhar o dia inteiro. Nesse dia, o hospital estava lotado achei melhor descansar primeiro e retornar na madrugada. Com certeza, estaria mais vazio. Fui ao aniversário do meu sobrinho e voltei para casa, mesmo com meu marido insistindo em me levar no hospital. Achei melhor ir dormir. Apenas tomei um banho bem quente e fui para a cama.

Duas horas depois de me deitar comecei a sentir uma cólica que tinha uma intensidade diferente das que eu já havia sentido. Uma hora depois a dor voltou. O tempo dessas 'cólicas' começou a diminuir para 45 minutos, depois para 30 minutos até que meu marido acordou e disse que me levaria ao médico de qualquer forma. Como a dor era muito forte e eu já estava com muito medo, pedi para ele pegar um remédio na casa dos meus pais para dores abdominais. Enquanto isso, fiquei embaixo do chuveiro quente para ver se a dor passava, com os joelhos e as mãos no chão e a água quente caindo sobre as costas. Ao aproximar a mão da vagina, senti uma 'bola' e, nesse exato, momento tive a certeza de que iria morrer. Alguma coisa havia dado errado. Além das dores, eu sentia medo e imaginava que minha bexiga, meu intestino e todos os meus órgãos estavam saindo.

Banheiro quando Vanessa deu à luz (Foto: Arquivo pessoal)

Banheiro quando Vanessa deu à luz (Foto: Arquivo pessoal)

Meu marido chegou com o remédio e eu fui me agachar com cuidado para tomar a medicação e seguir correndo ao hospital. Ao fazer força para levantar, senti que estava saindo algo de dentro de mim. Em fração de segundos - ou melhor, de milésimos de segundos - surgiu uma criança roxa, quase preta. Eu não sei como consegui segurar pela cabeça. Ele não estava muito sujo de sangue e nem chorou. Nesse momento, um milhão de coisas passaram pela minha cabeça. Pelas minhas contas, eu estava perdendo uma criança de 5 ou 6 meses no máximo (a cirurgia de redução do estomago tinha 7 meses e também considerei os 30 dias em que não pude ter relação sexual). Segurei aquele bebê que estava roxo e quietinho. Meus olhos estavam cheios de lágrimas. Apenas estiquei os braços para meu marido e falei: 'Está morto'. Ele não enxergou, no primeiro momento, que era uma criança e também pensou que fossem os meus órgãos e que eu iria morrer. Percebeu somente na segunda vez em que me estiquei, oferecendo a criança para ele. Nós dois estávamos de joelhos no chão do banheiro. Ele pegou o bebê e sugou a boca e o nariz. Eu não estava entendendo nada. Ele fez isso mais 2 vezes e na terceira vez o bebê deu um grito muito alto e começou a chorar.

Família (Foto: Arquivo pessoal)

Arthur nasceu saudável  (Foto: Arquivo pessoal)

Sinceramente, é impossível descrever de forma correta e explicar o que senti naquele momento. Milhões de perguntas passavam pela minha cabeça: Como poderia ser uma criança? Eu nunca imaginei que estava grávida? Minha barriga não cresceu?  Eu não comia quase nada! Como pode ser perfeito?  As dores que eu estava sentindo não eram do estômago? Eu não vou morrer? Sei que meu marido me segurou e me colocou sentada no vaso sanitário. Ele me cobriu com um edredom e foi buscar ajuda.

Um dos vizinhos me colocou no carro e me levou para o pronto-socorro mais próximo, onde foi cortado o cordão umbilical e foram feitos os primeiros procedimentos. A primeira pergunta era sobre qual o hospital eu havia marcado para ter o bebê, pois iriam fazer a transferência, já que ali não havia estrutura para um recém-nascido. Quando falei que eu nem sabia que estava grávida, ficaram todos espantados, porque meu filho nasceu com 48 cm e 3,010 quilos e isso indicava que ele tinha 9 meses.

Claro que todas as pessoas que receberam a noticia ficaram chocadas. Nos últimos dias, eu estava com um grande mal estar e descobri que meu 'problema' era um menino lindo e grande. Meus pais só acreditaram porque me viram no hospital com o bebê. Meus colegas de trabalho ficaram preocupados porque eu estava há uma hora atrasada. Quando liguei falando que precisava da ajuda do departamento de recursos humanos para fazer minha transferência, porque havia dado à luz, ninguém acreditou. Toda a preparação do enxoval, que demora nove meses, foi feita em uma hora. Minha vida mudou completamente e tive que ler e aprender tudo sobre recém-nascidos na prática.

Família (Foto: Arquivo pessoal)

Família (Foto: Arquivo pessoal)

Felizmente o Arthur é saudável, nenhum dos remédios que tomei durante a gravidez (que não são permitidos para gestantes) fez mal a ele. Já emagreci 52 quilos e, apesar do grande susto, estou muito feliz com meu filhote de 4 meses."

Vanessa Wanderley, 35 anos.

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