• Renata Menezes do Home Office
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Aline com a família (Foto: Reprodução Facebook)

Aline com a família (Foto: Reprodução Facebook)

O coronavírus se espalha com uma velocidade inacreditável, pelo mundo inteiro, transformando a rotina de famílias e virando tudo de cabeça para baixo. CRESCER apresenta uma série de reportagens, em que conversamos com mães de diferentes cantos do planeta, para saber como a vida delas e a das crianças estão sendo afetadas.

Aline Furlan, 37 anos, mora há 4 anos em Athenry, cidade agrícola no Condado de Galway, na Irlanda. Ela é mãe de dois: Chloe, 2 anos, e Thomas, 11 meses. Junto dos filhos e do marido e a cachorra Lucy, está de quarentena, em casa. Enquanto ele trabalha como agricultor, ela tenta entreter os pequenos com oficiais de desenho, colagem e pintura. Em um relato exclusivo a CRESCER, Aline conta como está a vida na Irlanda em meio à pandemia de coronavírus. Confira:

Aqui, na Irlanda, o governo é bem transparente para mostrar os números e os dados. Quando o vírus começou a circular na Europa, as medidas já começaram por aqui.

Algumas escolas fazem passeio pedagógicos para a Itália e, no momento em que o vírus começou a se espalhar por lá, tinha uma excursão dessa acontecendo. Quando as crianças chegaram, o governo já pediu para que todos ficassem de quarentena porque tinha um professor e alunos infectados. Isso porque o número de casos e mortes na Itália ainda estava bem no comecinho. Acho que nem havia mortes por lá. 

Depois desse episódio, o primeiro-ministro da Irlanda, que é médico, já fechou todas as escolas. Só que muitas pessoas acharam que era férias escolares. O governo começou a fazer uma campanha forte para que todos ficassem em casa. Depois disso, fecharam restaurantes e bares e adotaram o lockdown.

Até o evento mais importante daqui foi cancelado, o St. Patrick´s Days, que acontece em março. Obviamente que o comércio, os restaurantes, os bares e os hotéis, que estavam esperando os turistas visitarem toda a Irlanda, não resistiram. As apresentações nas escolas também foram todas canceladas. As escolas se preparam durante o ano inteiro para essa comemoração porque é a mais importante do país. Como o prejuízo para os empresários e os trabalhadores foi imenso, o governo lançou imediatamente um plano para ajudar os autônomos e as pessoas que perderam o emprego com uma quantia de 350 euros por semana.

Como aqui é um pais gelado, os índices de suicídio e de pessoas com depressão já são altos e, com o lockdown, o governo tinha receio de piorar. Então, flexibilizaram um pouco o distanciamento social e informaram que as pessoas poderiam sair para fazer exercícios. Só que as praias começaram a ficar lotadas de famílias e, mais uma vez, o primeiro-ministro decretou que o exercício só estava permitido até cerca de 2 km da sua residência. Tem polícia para todo o canto vigiando isso. Não existe aglomeração em lugar nenhum, nem no supermercado.

Aliás, os supermercados daqui também estão muito rigorosos. Eu faço compras uma vez por semana, em um local bem próximo da minha casa. Me programo para chegar lá 5 minutos antes de abrir, porque já tem fila na porta, devido à distância de dois metros que uma pessoa tem que ficar da outra. Quando entramos no mercado, tem lenço umedecido com álcool para limpar o carrinho e também em spray para higienizar as mãos. Tem que ir de máscara. É um pouco assustador porque as pessoas estão sempre com o olhar preocupado e é um silêncio absurdo. Só dá para ouvir o apito do código de barras passando na maquininha. 

St. Patrick Days em casa (Foto: Reprodução Facebook)

Thomas e Chloe comemoraram o St. Patrick Days em casa (Foto: Reprodução Facebook)

Demora um pouco mais para fazer as compras porque não podemos estar no mesmo corredor que outra pessoa. E todo mundo segue à risca. As pessoas são rápidas e só levam o essencial. Na hora de passar o produto no caixa, também não pode fazer hora, então, eu embalo tudo no carro com as minhas sacolas e saio o mais rápido possível para não ter contato com ninguém.

Desde o início da pandemia, todas as televisões também deixaram a frase fixa na tela de  #stayathome (fica em casa). Todos os moradores receberam cartilhas explicando que no caso de qualquer sintoma de coronavírus, tinha que ligar e solicitar o médico da família. Ele faz uma triagem, vem e colhe o teste a domicílio, caso necessário. Aqui, ninguém sai correndo para ir em hospital. 

Como eu tenho dois filhos pequenos, está bastante difícil ficar trancada em casa com eles. Os dois não estão na escola ainda porque a pré-escola aqui é a partir dos 2 anos e 8 meses. Só que eles tinham uma agenda cheia porque faziam muitas atividades de musicalização, contação de histórias e brincadeiras em centros gratuitos. Eles estavam acostumados a sair de casa todos os dias e encontravam com os amiguinhos, estão sentindo muita falta disso porque tem dia que já acordam de mau-humor. 

O frio na Irlanda é rigoroso esta época do ano (Foto: Arquivo Pessoal)

O frio na Irlanda é rigoroso nesta época do ano (Foto: Arquivo Pessoal)

Eu moro em uma fazenda rodeada de ovelhas com uma área verde bem grande, mas, nesta época, não dá para sair nem no quintal porque é muito frio. Então, o jeito é ficar em casa com eles e tentar fazer atividades de colagem, papel, massinha, desenho... Ontem mesmo fiz um túnel de papelão e uma brincadeira com bexigas, que foi o que prendeu a atenção deles. A minha filha vê o pai sair para trabalhar e chora porque acho que ela já não está mais aguentando ficar trancada dentro de casa.

Quando meu marido consegue trabalhar de casa, eu peço para ele olhar as crianças para ter uma hora off. Não levo nem celular e me tranco no meu quarto, no andar de cima da casa, para ficar em silêncio. Na verdade, eu durmo porque o cansaço físico e mental é tão grande, que eu não aguento ficar acordada. A única coisa que me conforta é que a Irlanda conseguiu isolar bem o país, o lockdown foi estendido para mais três semanas e o número de mortes está controlado. São 9.655 casos e 344 mortes até 14/4. Idosos aqui não podem sair de jeito nenhum e todos os vizinhos ajudam.

Acho que o que todo mundo mais deseja é que isso acabe logo e com menos mortes possíveis. Tenho família no Brasil e falo com eles todos os dias. Tenho medo aqui, mas meu medo maior são eles aí no Brasil porque sinto que os brasileiros não estão levando muito a sério esta pandemia monstruosa”, relata.

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