• Texto Rita Lisauskas | Fotos Raoni Madalena/ Editora Globo
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 (Foto: Raoni Maddalena / Editora Globo)

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Toda mãe é igual. Desde a gravidez já se pergunta o que de melhor pode oferecer ao filho. Mas quase nunca a sociedade se questiona: o que pode melhorar para que as mulheres consigam ser as mães que desejam? Para comemorar o mês delas, CRESCER ouviu leitoras para saber o que gostariam que mudasse no mundo para uma maternidade mais feliz. As mulheres querem ser menos julgadas pelas suas escolhas, inclusive por outras mães. Que o machismo seja deixado para trás, que os pais dividam as tarefas de casa e a responsabilidade pela criação dos filhos. Querem ser ouvidas na hora de decidir pelo tipo de parto, que o mundo apoie e não discrimine quem amamenta. Sonham com jornadas mais flexíveis e que o trabalho remoto, o famoso “home office”, seja considerado como opção. Desejam também que o mercado não as descarte  nas entrevistas de emprego apenas por serem mães nem quando voltam da licença-maternidade, período que, segundo elas, deveria ser estendido e dividido de forma igual entre homens e mulheres.

Enquanto ainda há bastante o que fazer para que a sociedade apoie cada vez mais a mulher que se torna mãe, muitas conseguiram conquistar o que para outras ainda é sonho, como você vai ler nos depoimentos a seguir. Mas o que deve ficar é a inspiração e a força, para que não nos cansemos jamais de lutar.

1. LICENÇA-MATERNIDADE


“Consegui ficar nove meses em casa com o Pedro porque a empresa onde eu trabalhava deixou que eu emendasse três meses de férias com a licença-maternidade. Já meu marido teve apenas três dias para ficar com a gente. Para piorar, a empresa o enviou para a China por 40 dias em uma viagem de trabalho. Ele não queria ir, tentou negociar, mas teve medo de perder o emprego. Foi muito ruim porque os primeiros banhos no bebê era ele quem dava, eu ainda tinha medo de ficar sozinha com um recém-nascido. Quando ele viajou, me senti desprotegida.”
Fabianny Lucia dos Passos, 37, mãe de Pedro, 7 anos

“Como sou funcionária pública, ficarei 11 meses em casa com minha filha, porque tenho direito a seis meses de licença, dois de férias e três de licença para capacitação, uma licença remunerada a que todo servidor público tem direito, e eu farei um curso a distância nesse período. Meu marido ficará 40 dias sem trabalhar e terá mais um mês em home office, por meio período. Mesmo sendo pessoa jurídica, o chefe dele pediu que emitisse nota para que continue com o salário. É ele quem tem preparado o cardápio da semana, levado o Bento para a escola. Assim, me concentro na Cora.”
Carolina Milhomem, 35, funcionária pública, mãe de Bento, 3, e Cora, 1 mês

2. AMENTAÇÃO LIVRE DE PRECONCEITO

 (Foto: Raoni Maddalena / Editora Globo)

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“Eu fui repreendida ao amamentar minha filha Dandhara, que tinha só 4 meses, durante uma exposição na Pinacoteca, em São Paulo. O segurança me abordou de forma grosseira dizendo que não era permitido comer na exposição. Demorei a entender que ‘comer’ era ‘amamentar’. Ele sugeriu que me retirasse. Estava mais de 30 graus lá fora. A única gentileza oferecida foi a de não pegar fila para voltar à exposição. Decidi procurar a administração do local e fui atendida por uma funcionária que me escoltou de volta à sala. Ela disse ao segurança que ‘já que eu estava lá, era para abrir uma exceção e me deixar amamentar’. A nova ordem não foi discreta e todos que estavam na exposição me olharam. Eu me senti muito mal e fui embora. Conversei com algumas amigas e decidimos organizar um mamaço. Quase 20 dias depois fomos juntas para protestar e amamentar nossos filhos no mesmo lugar onde eu tinha sido proibida. Reunir tantas mulheres para lutarmos juntas pela amamentação, algo que é sabidamente o melhor para o bebê, fez com que minha maternidade se tornasse algo menos solitário.”
Roseane Domingues, 29, assistente administrativa e mãe de Dandhara, 2 anos, e Carolina, 10 meses

3. PARTO SEM MEDO


“Sempre quis que meu filho nascesse de parto normal. Mas, quando a bolsa estourou e fomos para o hospital, eu e meu marido percebemos que não seria assim. Logo me deixaram em jejum e percebemos a movimentação no centro cirúrgico. Não demoraram a dizer que meu bebê estava em risco, sem dizer que tipo de perigo corria. Pedimos que fosse feito um cardiotoco, mas não fomos atendidos. Lembrei à equipe que eu havia protocolado um plano de parto no hospital. Fui ignorada. No centro cirúrgico, avisei que a anestesia não pegou. Não me deram ouvidos, e, quando senti a médica cortando minha barriga, dei um grito de dor, meu marido se desesperou. Então me deram uma anestesia geral e fui entubada. Não vi o Pedro nascer. Só consegui pegar meu filho no colo seis horas depois. Não conseguia sentar, nem amamentar. Em casa tive dificuldade de cuidar dele. Meu marido fazia tudo. Tive depressão pós-parto, tomei remédios e melhorei os poucos. Engravidei da Catarina e voltei a buscar informação sobre parto normal. Uma amiga me indicou um médico para quem levei o prontuário do nascimento de Pedro. Ele ficava horas conversando comigo e com meu marido e, graças a ele, entendi que meu parto foi roubado. Com a Catarina, foi diferente. Ela nasceu no tempo dela, do jeito dela, veio direto para o meu colo, começou a mamar. Tive um parto digno, da forma que todas as mulheres merecem ter, depois de carregar por um ano e três meses uma ferida aberta. No nascimento da Catarina, eu lavei minha alma.”
Estela Simielli, 31, consultora consular, mãe de Pedro, 1 ano, e Catarina, 1 mês

4. DIVISÃO DE TAREFAS


“A única parte fixa da nossa rotina em casa é que meu marido deixa as crianças na escola e eu busco de tarde. O resto a gente conversa. Tem que lavar a louça, dar banho, jantar, arrumar a mochila. Cada um ‘abraça’ uma demanda. Eu me espanto quando as pessoas estranham dividirmos as tarefas. A casa é tão minha quanto dele, os filhos são tão meus quanto dele, nós dois trabalhamos fora e tudo que temos é em conjunto. Dividimos porque nosso objetivo é não sobrecarregar ninguém.”
Fernanda Fujino, 40, arquiteta, mãe de Felipe, 5, e Carolina, 2

5. MAIS RESPEITO

“Quando Lucca tinha 1 ano e 8 meses e a gente já estava se preparando para dormir, eu fui à cozinha e coloquei a chupeta dele para ferver no micro-ondas. Depois que a esterilização acabou, coloquei o recipiente cheio de água fervendo dentro da pia, do meu lado, enquanto preparava o leite para as crianças. Meus filhos entraram na cozinha e, sem que eu visse, Lucca tentou pegar sua chupeta, derramando água fervente sobre o corpo. Eu estava bem do lado dele quando aconteceu. Cheguei a puxá-lo pelo pijama e só por isso a água não pegou nem no rosto e nem nos olhos. Fomos para o hospital, e ele ficou 17 dias em uma UTI de queimados. Foi um período de sofrimento, principalmente porque percebi que eu estava sendo o tempo todo julgada pelo acidente. É praxe o hospital acionar o conselho tutelar para averiguar se não foi a mãe que causou o acidente de forma proposital. Foi horrível, muito cruel. Nunca imaginei ser investigada. Um dia minha mãe chegou ao hospital toda chateada porque tinha ouvido uma mulher dizer que ‘deviam mandar prender uma mulher que deixava o filho se queimar daquele jeito’. Choramos juntas. Eu jamais me revoltei com Deus, com o universo, com ninguém. Só comigo. Demorei a me perdoar por algo de que, no fundo, eu sabia que não tinha culpa. Depois que tudo passou, Lucca ficou bem e sem sequelas e eu aprendi a não dar ouvidos ao que os outros pensam.”
Cibele Gianecchini, 40, advogada, mãe de Enrico 7 anos,  e Lucca, 5

6. NÃO AO MACHISMO

“Quando engravidei com apenas 18 anos, meu marido ficou feliz porque era ‘um filho homem’. A cidade onde eu moro, aqui no Rio Grande do Sul, é supermachista, meninos só brincam de ‘coisas de menino’, ou seja, só de carrinho e bola. Eu sempre deixei meu filho à vontade, não dava ouvidos ao pai dele. Me separei, casei de novo e dei à luz mais dois meninos. Fiz questão de que essa cultura machista não fosse incorporada por eles. Meus filhos arrumam as camas, lavam e estendem as roupas no varal. Meu atual marido também é assim. Todos aqui têm as mesmas obrigações com a casa. Estou com a consciência tranquila porque sei que estou entregando três homens não machistas para o mundo.”
Cláudia Dias, 36, supervisora de relacionamento com o cliente, mãe de Júnior, 18 anos, Isaac, 11, e Lucas, 8

7. MÃE E PROFISSIONAL, SIM!

“Pedi demissão grávida, porque fiquei sem função e fui transferida para um escritório muito longe. Depois que minha filha nasceu, fiquei com ela por um tempo. Ao procurar emprego, notei o preconceito da maioria dos entrevistadores quando eu contava que era mãe de criança pequena e tinha ficado dois anos fora do mercado. Eles queriam saber o motivo, então contei que pedi demissão para cuidar da minha mãe doente. Também não conto que me separei, porque as empresas veem uma mãe solo como alguém que vai faltar quando o filho precisar. Outro dia, uma recrutadora me disse: ‘Tudo bem ter filho, mas saiba que, quando ele ficar doente, não será você que irá levá-lo ao médico.”
Shirlley Padia Lopes (SP), 32, secretária em busca de emprego, mãe de Naomi, 2 anos
 

 (Foto: Raoni Maddalena / Editora Globo)

(Foto: Raoni Maddalena / Editora Globo)

“Fui chamada para participar de um processo seletivo quando ainda estava em licença-maternidade. Era para a vaga dos meus sonhos, então decidi ir. Passei por cinco entrevistas, com quatro mulheres e um homem e, em todas elas, contei que tinha uma filha recém-nascida e que estava de licença. Cada vez que eu falava da bebê, só me perguntavam como ela era e se estava bem. Ninguém nunca insinuou se eu daria conta ou não da responsabilidade do trabalho por causa da rotina com ela, o que me encantou, sabe? Fui escolhida e me senti valorizada. Ser boa mãe não exclui a possibilidade de também ser uma boa profissional.”
Adriana Cechetti, 38, jornalista, diretora de conteúdo de canal de tv a cabo, mãe de Alice, 9 meses

8. HORÁRIOS FLEXÍVEIS


“Eu liderava uma equipe de 90 pessoas na empresa onde trabalhava cerca de 14 horas por dia quando engravidei da Nina. Sabia que, quando minha filha nascesse, teria de ter um ritmo diferente de trabalho e, por isso, além de pesquisar sobre parto e puerpério, estudei as políticas relacionadas à maternidade de outras empresas e até de outros países. Queria entender também como a empresa onde eu trabalhava pensava a maternidade, para propor uma mudança de paradigma não só para mim, mas para todas as mães e pais que trabalhavam lá. Afinal, eu precisava ser coerente com meu papel de líder em inovação e fazer a empresa repensar seus formatos e história. Depois do estudo pronto, marquei uma reunião com a minha chefe e sugeri que todas as equipes tivessem mais autonomia e menos hierarquia, que as mães pudessem fazer um retorno gradual ao trabalho, com a possibilidade de home office, e que o escritório adequasse um espaço para que as mulheres que amamentavam tirassem o leite. Quando voltei da licença, já trabalhei nesse novo formato: três dias em casa e apenas dois no escritório, onde nunca permanecia por mais de cinco horas para não ficar muito longe da minha filha. Deu certo, eu faria de tudo para que desse certo e me senti até mais eficiente como profissional. Mudei de cidade e continuo trabalhando para a mesma empresa, sempre em home office porque decidi que não quero estar presente para a Nina enquanto ela for um bebê, quero estar presente para ela sempre!”
Renata Magliocca, 34, psicóloga e especialista em carreira, mãe de Nina, 2 anos

9. ENTRE MULHERES

“Quando comecei a namorar o meu marido, descobri que ele tinha uma filha e que a ex-mulher dele era uma colega de escola. Eles tinham se separado apenas três meses antes. Queria sair correndo e fugir, mas logo fomos morar juntos e casamos. Tinha tudo para dar errado, mas ser inimiga da Lívia, a ex dele, nunca foi uma opção. Havia uma criança de 5 anos envolvida e não havia cabimento ficarmos brigando. Logo, me apeguei à Malu, filha do meu marido, e fui bem recebida tanto por ela quanto pela mãe. A nossa relação sempre foi boa, a gente se ajudava, eu cuidava da filha dela quando estava com a gente. Depois que minhas filhas nasceram, viramos amigas, estamos sempre juntas nas festas de família.”
Carolina Darcie, 35, socióloga, mãe de Helena, 5 anos, Tereza, 3, e Cecília, 1

“Quando vi que meu ex-marido estava namorando alguém que eu conhecia [no caso Carolina, do depoimento logo acima] fiquei tranquila. Nosso casamento acabou e estava tudo bem resolvido. Além do que, briga sempre me deu uma preguiça danada. Para mim, empatia não é opção, é um dever. Eu queria que minha filha vivesse em um bom ambiente, que fosse feliz. E uma mãe nunca fica triste quando o filho está feliz. Carolina sempre fez bem à minha filha, sempre cuidou da Malu, e depois deu à luz as irmãs que ela tanto ama. Não tem como a gente não se dar bem.”
Lívia Gusmão, 35, publicitária, mãe de Maria Luiza, 13 anos

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