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Nesta quinta-feira (8), o mundo foi surpreendido com a notícia da morte da Rainha Elizabeth II, aos 96 anos. Depois de passar sete décadas à frente da Coroa Britânica, a monarca deixa quatro filhos, oito netos e doze bisnetos, entre eles os pequenos George, 9, Charlotte, 7, Louis, 4, Archie, 3, e Lilibet, 1. 

O falecimento da rainha traz uma reflexão: como falar sobre a perda de um ente querido com as crianças? Existe uma forma adequada de tratar um assunto tão delicado, como a morte de um dos avós? 

No aniversário da  avó, a rainha Elizabeth II, príncipe George já usava o cardigã azul marinho (Foto: Reprodução Instagram)

(Foto: Reprodução Instagram)

Sinceridade em primeiro lugar

Falar de morte não é mesmo nada fácil, ainda mais com crianças pequenas. Como a gente pode tentar explicar uma coisa que é tão difícil e tão dolorida até mesmo para nós, adultos? Por mais que os pequenos não tenham clareza sobre o que o falecimento de um ente querido significa na prática, eles percebem o que está acontecendo e sentem que há algo de errado na família.

Por isso mesmo, o conselho da psicanalista Mônica Pessanha (SP) é que os pais e os cuidadores sempre sejam honestos com a criança e falem a verdade — usando o bom senso e adequando a explicação para cada faixa etária, é claro. Esconder o fato dos pequenos pode mais atrapalhar do que ajudar. “É importante ser transparente e dizer a verdade sempre que a criança perguntar. Assim, ela pode passar pelo processo de luto com a ajuda da família, evitando que ela sofra em silêncio”, explicou em entrevista à CRESCER. 

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Porém, segundo a psicóloga Rita Calegari (SP), é preciso tomar cuidado com a forma como essa notícia será repassada. Isso porque, até os 6 anos de idade, a criança não entende que a morte é irreversível. “Para as crianças menores, pode ser difícil entender que aquela pessoa nunca mais vai voltar. É recomendado não utilizar frases como ‘foi viajar’ ou ‘está dormindo’, porque isso faz com que a criança fique esperando o retorno dessa pessoa”, disse. O melhor é, então, ressaltar que o ente querido realmente se foi, para que o pequeno não se fruste ainda mais e crie a ilusão de que a pessoa voltará um dia.

Rainha Elizabeth II com o mais novo bisneto (Foto: Chris Allerton ©️SussexRoyal)

Rainha Elizabeth II com o mais novo bisneto, Archie (Foto: Chris Allerton ©️SussexRoyal)


E isso pode ser feito de muitas formas, respeitando a cultura e as crenças de cada família. “Se a família for religiosa, é possível utilizar conceitos da própria religião para explicar a perda, dizendo, por exemplo, que a pessoa foi morar com Deus”, aconselhou. É preciso apenas deixar claro que a criança não tem responsabilidade nenhuma sobre a morte e nem é culpada pelo que aconteceu. “Se a vovó morreu, por exemplo, precisamos explicar que ela não vai mais voltar, mas ressaltando que ela não foi embora por estar brava com a criança. Não é raro que ela crie a ilusão de que é responsável por aquela morte, então é essencial explicar que a criança não tem culpa de nada”, disse a psicóloga.

Todos devem viver o luto

Antes de transmistir a notícia à criança, é importante que os adultos se acalmem primeiro. Na hora H, use uma linguagem simples e espere pelas dúvidas. Num primeiro momento, não é preciso dar respostas que a criança não solicitou. “Deixe que ela chore e ponha para fora esse sentimento de tristeza, isso é esperado”, explicou Rita. 

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Se o ambiente estiver carregado de muita emoção, com pessoas chorando e demonstrando desespero, o melhor é realmente poupar os pequenos, para que não se assustem. Mas isso não significa que a família precise esconder todos os momentos de choro e tristeza. É importante que ela compartilhe também esses sentimentos com outras pessoas. Quando os adultos também expressam sua emoções, seu filho pode se sentir encorajado a compartilhar o que está sentindo. “Sem sobrecarregar a criança, é legal compartilhar a dor com ele ou ela”, aconselhou a psicanalista Mônica Pessanha. 

A rainha Elizabeth II elogiou a vitória da seleção feminina de futebol da Inglaterra (Foto: Reprodução/ Instagram)

A rainha Elizabeth II elogiou a vitória da seleção feminina de futebol da Inglaterra (Foto: Reprodução/ Instagram)

A participação dos pequenos nos rituais de velório, enterro e cremação é uma questão muito particular. A decisão vai variar de acordo com os valores de cada família. De novo, o que é importante é avaliar a atmosfera do ambiente e explicar de forma aberta e honesta o que a criança pode esperar e o que verá em cada uma dessas situações. Se possível, depois de explicar, deixe ela decidir se quer ir ou não.

A importância da rede de apoio

Mesmo em situações em que o ente querido já estava doente e a morte era "esperada", como no caso da Rainha Elizabeth II, a criança precisa ser amparada e receber um suporte acolhedor e carinhoso. “Forneça muito carinho e tranquilize a criança com frequência, ressaltando que ele ou ela continuará a ser amado e cuidado. Incentive a falar sobre suas emoções. Sugira outras maneiras de expressar sentimentos, como escrever em um diário ou desenhar um quadro”, afirmou Mônica Pessanha.

Passada a tensão inicial, o ideal é, dentro do possível, manter a programação normal, sem grandes mudanças na rotina da criança, para que ela não sinta um impacto tão grande após a despedida. Para isso, poder contar com uma rede de apoio sólida, com familiares, amigos e escola, é fundamental. "Nós sempre indicamos tentar manter a rotina. E quando já há uma estrutura organizada para cuidar dessa criança, sua rotina pode ficar melhor preservada. É importante tentar manter o máximo possível do dia a dia que ela já estava habituada, para que essa criança não precise lidar com muitas mudanças ao mesmo tempo”, recomendou Rita Calegari. 

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