• Fernanda Montano
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Onde você estava em março de 2020, quando soube que iria começar a quarentena no Brasil? Com certeza nem nos seus maiores sonhos – ou pesadelos – imaginaria tudo o que viria pela frente. Mas cá estamos nós, um ano depois. Muita coisa já melhorou, temos um processo de vacinação em curso e novas perspectivas, ainda que a passos lentos.

Fato é que essa vida diferente a que fomos expostos de uma hora para a outra  teve efeitos positivos e negativos para adultos e crianças. “Para elas, o impacto de estarem isoladas, com os pais tensos e ansiosos, é grande e profundo, porém, é fundamental que possamos olhar para esse momento e aprender. Aprender a valorizar quando pudermos nos abraçar; valorizar a simples rotina de ir para a escola; de conviver mais intensamente em família”, reflete a psicóloga Camila Cury, fundadora do Programa de Educação Socioemocional da Escola da Inteligência (SP). É importante enxergar o momento também como uma oportunidade que gerou possibilidades: de filhos e pais estarem mais próximos, por exemplo. Quem aí teve a chance de acompanhar de perto os primeiros passinhos do bebê?

É certo que não somos os mesmos de um ano atrás – muito menos nossos pequenos. E isso traz consquências, algumas boas e outras, nem tanto. “Um ano na vida de uma criança é muito diferente de um ano na vida de um adulto. O cérebro dela tem janelas de oportunidade, está ávido por adquirir novas habilidades. O desenvolvimento infantil é altamente dependente do meio externo. Se ela fica limitada ao ambiente da casa, interagindo apenas com poucos adultos – que, muitas vezes, precisam trabalhar e não conseguem se dedicar integralmente a ela –, será privada de estímulos. E essa privação pode levar, em casos extremos, claro, a um atraso no desenvolvimento”, afirma a neuropediatra Luciane Baratelli, da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro.

Mudanças reais
Vimos isso na prática. Um estudo das Faculdades Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR), feito com mais de 1,9 mil famílias, com crianças entre 2 e 12 anos (de todos os estados do Brasil), mostrou que 100% delas tiveram ao menos uma mudança de comportamento durante o isolamento social, seja referente à alimentação, à interação social, ao comportamento, seja ligada ao sono. “As crianças ainda sentirão por algum tempo o impacto da pandemia, do afastamento escolar e da falta de convivência. Pais e educadores devem estar atentos a alterações de comportamento. Precisamos acreditar que a saúde mental delas pode estar em sofrimento e precisando de ajuda, para intervir o mais precocemente possível”, diz a pediatra Juliana Loyola Presa, uma das pesquisadoras à frente do estudo.

Então, como estar atentos a essas mudanças? Um estudo do hospital pediátrico da Escola de Medicina da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, com mais de 2 mil famílias, de crianças e jovens de 0 a 18 anos, revelou os principais medos dos pais em relação aos filhos na pandemia: o excesso de tempo na frente das telas e das redes sociais, o aumento de hábitos não saudáveis de alimentação, falta de atividades físicas, estresse, ansiedade e risco de depressão.

"Em 2020, minha filha fez 4 anos, e foi para a escola pela primeira vez. Nem um mês de aula, e o mundo parou. A rotina voltou a ser o que era para mim, com a diferença que meu trabalho e o do marido pararam também. E nos vimos os três em casa. Doze anos de casamento e nunca passamos mais do que 30 dias inteiros juntos. Mudamos nossos hábitos, nos aproximamos mais e percebemos nossas falhas como pais, questões que não víamos. Estamos mais próximos como casal, como família.”"

Pricila Fontoura, 32 anos, fotógrafa, mãe de Alice, 5 anos

Isso mostra que diversos pontos merecem atenção e variam de família para família. Cada um deve buscar formas criativas de aliviar a tensão emocional o máximo possível. “Comece desligando os noticiários e sintonizando as ideias com algo mais positivo. Diminua o estímulo eletrônico em casa, pois a exposição às telas intensifica o estresse e a falta de concentração da criança. O movimento livre é uma excelente forma de fazer com que pensamentos negativos se reorganizem. Então, que tal todos fazerem uma aula de dança em casa? Desenhar uma amarelinha com fita adesiva no chão para o pequeno gastar a energia quando precisar?”, sugere a educadora parental Aline De Rosa, criadora do programa Acolhedora de Mães (SP).

A pandemia tem, sim, consequências ruins, infelizmente. A própria covid-19 é terrível em muitos casos. Mas, quando falamos de educação e vida em família, percebemos tantas questões valiosas... Precisamos decidir qual é a lente que usamos para enxergar a vida, o quanto de energia colocamos nos pontos positivos e nos negativos. Então, a proposta aqui é fazer um balanço das lições dessa pandemia e enfrentar o saldo disso. A seguir, um material para nos provocar reflexões e planejar nossas próximas ações.



MAIORES LEGADOS
 

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Para as crianças
- Ter autonomia e independência
- Ser mais participativa em casa
- Ganhar mais presença dos pais
- Aprender novas regras
- Entender a importância do coletivo

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Para os pais
- Perceber que vínculo é mais do que morar junto
- Estar mais presente na rotina das crianças
- Entender melhor a metodologia da escola do filho
- Ter a consciência clara de que são o maior exemplo para os pequenos
- Compreender que não podemos controlar tudo, mas controlamos nossas próprias escolhas

Agora nos conte: e para você, o que vem pesando mais depois de ler sobre esses impactos que a pandemia nos impôs? Uma coisa é certa: reconhecer as mudanças e seus efeitos na nossa vida facilita traçar estratégias para enfrentar os desafios que ainda temos pela frente. Com clareza, força e esperança. Vamos nessa?