• Amanda Oliveira, do home office
Atualizado em
Max começou a escrever seu livro com seis anos  (Foto: Arquivo Pessoal )

Max começou a escrever seu livro com seis anos (Foto: Arquivo Pessoal)

"As pessoas são coloridas: Rosa, Preto, Marrom, Laranja... Podem ser altas, baixas, gordas, magras, carecas, cabeludas, ter olhos grandes e puxados. Tudo bem ter rodas na cadeira! Eu tenho rodas na bicicleta, no skate, no carro, no caminhão. O bebê tem rodas no carrinho". É assim que Max, um menino de 9 anos que tem síndrome de Down, enxerga o mundo ao seu redor. A partir desse olhar sensível diante da nossa sociedade, o pequeno decidiu escrever um livro sozinho, contando sobre suas experiências e conquistas, além de sua forte relação de amizade com seu cachorro: Maui. 

Publicado pela editora Escrita Fina e com ilustrações de Cris Eich, o livro Eu sou o Max! nasceu da vontade do pequeno de se tornar um escritor. Ele se alfabetizou com 6 anos e teve sua infância rodeada de livros, principalmente da escritora Ruth Rocha, uma das suas autoras favoritas. "Nós nunca o limitamos. Ele sempre teve uma educação como qualquer outra criança, pois eu sou totalmente anticapacitista [confira a definição no final da matéria]", disse a mãe do autor mirim, a veterinária Melissa Dalarme, que mora no Rio de Janeiro. 

A inspiração para escrever surgiu quando Max, com 6 anos, estava lendo o livro As aventuras de uma criança downadinha, que é escrito pela autora Alessandra Almeida e conta o dia a dia de sua filha, Clarice, que tem síndrome de Down. Enquanto estava lendo com sua mãe, Max questionou o porquê ele não tinha livro seu, então foi para o quarto, fez uma ilustração e escreveu "Eu sou o Max", surgiu assim a primeira sementinha do seu livro. 

Por 10 meses, o filho de Melissa relatou seu cotidiano e experiências que vivia no dia a dia. Ele escreveu mais de 50  páginas de história. Contou sobre sua relação com seus pais, avós, amigos e professores, mas também de sua parceria com seu cachorro: "Eu adoro o Maui, meu amigo. Ele é meu filho! Cuido dele, dou ração, aguinha, limpo o xixi e o cocô que ele faz no jornal sozinho", diz o pequeno. 

Max com seu cachorro Maui (Foto: Arquivo Pessoal )

Max com seu cachorro Maui (Foto: Arquivo Pessoal )

Além disso, Max contou sobre as inúmeras atividades que faz, como nadar, surfar, fazer capoeira, equitação, teatro e até mesmo sobre seu trabalho de modelo, que em suas palavras é para ganhar um "dinheirinho" para comprar livros e brinquedos! Mas, o estudante também toca em assuntos profundos: "Um menino me imita não gosto, é bullying". Segundo Melissa, o filho fala de maneira simples de temas muito importantes.

Em novembro de 2019, Max chegou para sua mãe e disse que seu livro estava pronto e então Melissa começou sua busca para encontrar uma editora para publicar a obra do pequeno. "Eu demorei um pouco para achar e ele sempre me perguntava quando seu "livro de verdade" iria sair". Foi então que a família encontrou a editora Escrita Fina e o livro foi lançado em dezembro de 2020. "Ele mostra o protagonismo de Max", diz a mãe orgulhosa do trabalho do filho.

Agora, o pequeno está empenhado em um novo projeto: "Não temos nenhuma previsão, mas acredito que ele está relatando esse momento de pandemia", diz a mãe, acrescentando que o filho sente falta dos amigos e de fazer suas atividades. "Quando as aulas presenciais voltaram, ele não foi para a escola, devido as suas condições de saúde, mas ficou muito aborrecido, porque queria ir ". Para Melissa, o projeto do filho é uma ferramenta de inclusão, que mostra a beleza da diversidade tanto para crianças com deficiência como para crianças típicas.

Você sabe o que é capacitismo?

Segundo Ciça Melo, mestra em Psicologia Comportamental e fundadora do Movimento Paratodos, essa é uma atitude de preconceito e discriminação que vê a pessoa com deficiência como incapaz de cuidar da sua própria vida e inapta para a escola e trabalho. A especialista explica que certos conceitos acabam carregando a noção que uma pessoa com uma deficiência é incapaz. O termo “especial”, por exemplo, remete a ideia de segregação, quando as crianças precisavam ficar em classes separadas. Por isso, a terminologia correta é pessoa com deficiência. “Primeiro vem o indivíduo, depois a sua característica”.