• Juliana Malacarne
Atualizado em
Dicas para amamentar (Foto: Getty Images/Monashee Alonso)

Mães que amamentam podem praticar um ato de solidariedade: ajudar a salvar vidas de crianças que precisam de leite materno. Segundo o Ministério da Saúde, a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano não consegue suprir toda a demanda dos bebês prematuros internados no país: 40% deles não chegam a receber leite materno, pois faltam doações. O que pouca gente sabe é que, com apenas 1 litro, é possível alimentar até dez recém-nascidos em um dia. Por isso, toda doação é importante, independente da quantidade.

Vale ressaltar que, para se tornar doadora, basta estar amamentando e ser saudável. E não precisa ter medo: a doação não faz o leite secar – pelo contrário, só estimula ainda mais sua produção.

Atualmente, o país conta com 126 postos de coleta e 217 bancos de leite humano. Para mais orientações, procure o mais próximo de sua casa ou telefone para o Disque Saúde, no número 136.

A seguir, confira três depoimentos de mães que passaram pela experiência da doação - seja alimentando outros bebês ou recebendo o leite para os seus filhos.

Alessandra e Enzo (Foto: Arquivo Pessoal)

Alessandra e Enzo (Foto: Arquivo Pessoal)

“Doar leite sempre me trouxe uma satisfação enorme, um orgulho de poder fazer a minha parte. Descobri sobre a doação quando comecei a trabalhar com isso há dez anos no Banco de Leite Humano do Hospital Regional de Taguatinga (BLH-HRT) como fonoaudióloga. Antes disso, eu não sabia direito como funcionava. Depois que conheci o processo, adquiri a consciência sobre a necessidade da doação. Oferecer o leite materno para os bebês que estão na UTI ou em outras situações especiais pode fazer toda a diferença para a saúde e desenvolvimento deles. Quando percebi a importância deste ato de amor, tive a certeza de que, quando tivesse meus filhos, faria questão de doar.

Meu primeiro filho, o Enzo, nasceu há três anos, no tempo normal. Sempre tive muito leite e ele não conseguia mamar tudo, então fiquei muito feliz em perceber que poderia doar. Além de ajudar as outras crianças, fazer a ordenha foi bom para mim porque aliviava a mama. Dava um alívio quase imediato. É incrível perceber que o leite acumulado, que pode incomodar, causar uma mastite ou até ser jogado fora, salva vidas. A sensação é de dever cumprido por saber que você está contribuindo para a saúde de outras crianças com um alimento tão essencial. Sabendo disso, acho que é impossível jogar fora algo tão precioso quanto o leite.

Já meu segundo filho, Luca, nasceu prematuro, com 34 semanas e 5 dias, há um mês. Continuava tendo muito leite, então, logo depois que ele nasceu, entrei em contato com o banco e comecei a doar. Eu ficava no hospital ao lado do meu filho, que passou 15 dias na UTI Neonatal, e ordenhava o leite de 3h em 3h. No começo, eles davam o leite ao Luca através de uma sonda e depois, conforme a saúde dele foi melhorando, pude dar o peito.

Durante esse período na UTI, conheci mães que não produziam leite suficiente, o que me fez perceber ainda mais a importância da doação. Saber que aquele leite que meu filho poderia estar mamando, mas não conseguiria tomar todo, estava ajudando outros bebês, me trouxe um conforto a mais em um momento complicado. Uma alegria em poder ajudar.

Sempre fiz a ordenha de forma manual. Quanto mais ordenhava, mais leite tinha. O processo é bem simples. A recomendação é colocar uma touca e lavar bem as mãos. Primeiro, você faz uma massagem ao redor da mama e da aréola. E depois, com a mão em forma de ‘C’, faz o movimento de ordenha. O primeiro jato é desprezado e o resto deve ser colocado em um frasco esterilizado. Assim que tive o Enzo, um profissional capacitado do hospital em que dei à luz me orientou sobre o processo. Depois de uma demonstração, entendi como funcionava e não tive problemas com a extração”.
Alessandra Aline Silvestre, de 34 anos, fonoaudióloga, mãe de Enzo, de 3 anos e Luca, de 1 mês

Suzane Furtado e Morgana (Foto: Arquivo Pessoal)

Suzane e Morgana (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu percebia que muitas mulheres recorriam ao leite artificial para alimentar os filhos, mas achava que aquilo não era o ideal. Ouvia dizer que amamentar doía e tinha medo que, quando chegasse a minha hora, meu leite empedrasse ou que os bicos dos seios ficassem muito machucados. Então, comecei a me preparar para a amamentação desde a gravidez. Fui orientada a tomar sol nos seios, mas, como moro em prédio, isso não era possível. A solução foi ficar exposta 10 minutos por dia à luz incandescente, a partir do quinto mês. Também li bastante sobre amamentação para aprender sobre a pega.

Quando minha filha nasceu, ela veio direto das mãos do obstetra para o meu seio. Ficamos em contato pele a pele e ela pegou de primeira, mamou o colostro. Quatro dias depois, quando o leite desceu, mesmo, o meu peito ficou bem cheio e endurecido. Comentei com minha doula e ela me ensinou a fazer a extração manual. Foi aí que decidi que queria doar o leite. Minha avó e minha mãe haviam doado e eu também tinha essa vontade. Como sentia dificuldade em fazer a retirada manualmente, procurei ajuda no banco de leite humano próximo à minha casa e, lá, me ensinaram a usar a bombinha.

Comprei o equipamento e comecei a fazer a extração em casa. Minha produção inicial era bastante alta: eu doava 15 potes por semana. O próprio banco de leite passava na minha casa, semanalmente, para fazer a retirada e me trazer recipientes novos. Um episódio que me comoveu bastante foi quando, em um feriado no final do ano passado, eu dormi até mais tarde e perdi a hora. Liguei para avisar que tinha leite para doar e eles me falaram que eu era a única doadora da região – todas as outras mulheres haviam viajado. Por conta disso, o estoque de leite humano estava zerado, enquanto muitos bebês internados precisavam do alimento. Comecei a chorar de emoção. O leite não faz falta nem para mim, nem para a minha filha. Quanto mais eu tiro, mais produzo.

Voltei a trabalhar, minha filha já está com 8 meses e eu continuo doando. Não é mais a quantidade de antes e eu sofro no trabalho, porque não gostam que eu me ausente  alguns minutos para fazer a coleta. Mesmo assim, não vou parar.

Às vezes, é cansativo parar o trabalho para tirar o leite, mas penso que preciso ter força, porque estou ajudando outras crianças e isso é muito gratificante. O banco de leite me informou que já doei quase 10 litros, desde dezembro. Saber disso me dá muita paz. Estou doando um pouco de vida”.
Suzane Furtado, economista, 30 anos, mãe de Morgana, 8 meses

Nádia e Lavínia (Foto: Arquivo Pessoal)

Nádia e Lavínia (Foto: Arquivo Pessoal)

“Recebi leite materno para o meu filho e depois me tornei uma doadora. Antes de ter minha filha, Lavínia, estudei muito sobre parto, mas deixei a amamentação de lado porque achei que era algo que fluiria naturalmente. Pensei que ela nasceria sabendo mamar, mas não foi isso o que aconteceu.

Ela tinha uma pega incorreta e não mamava direito, mas, como mãe de primeira viagem, não percebi. Quando Lavínia completou sete dias de vida, ela parou de mamar completamente. Eu ainda tinha muito leite, mas ela simplesmente não pegou mais o peito. Então, começou a perder peso, ficou apática e começou a dormir muito.

Foi então que Lavínia foi diagnosticada com desidratação e precisou ser internada na UTI Neonatal. Foi muito ruim vê-la em uma incubadora e não poder amamentá-la, ainda mais porque eu tinha leite. Durante a internação, eu retirava a cada três horas, com o auxílio de uma bombinha, e eles davam meu leite para ela.

Mas, sem o estímulo de sucção do bebê, ele acabou secando. Foi então que decidi ir até o banco de leite e pedi ajuda a todas as mães que conhecia. Pedi que doassem. Lavínia recebeu leite materno doado ao longo dos 12 dias que precisou ficar internada.

Em sete dias, o peso dela voltou a uma faixa normal e, nos outros cinco dias, ela aprendeu a mamar no peito com a ajuda de uma fonoaudióloga. Eu fazia muita questão de amamentar e, depois que ela acertou a pega, não tivemos mais problemas—até hoje.

Mas, só depois de passar pela experiência de não poder amamentar, percebi a real importância da doação do leite materno. Descobrir que os bancos de leite têm uma grande carência é muito preocupante. Isso me fez ter certeza de que queria doar também – e fiz isso até Lavínia completar quatro meses. Só parei porque a produção do meu corpo se adequou à demanda da Lavínia e eu não tinha mais tanto leite a ponto de doar.

Sou muito grata às mães que doaram leite para minha filha e espero ter ajudado outras mães, também. Ver o filho internado no hospital, precisando de leite, desperta um sentimento que eu não desejo para ninguém. Não tenho nem palavras para agradecer o que fizeram por mim. Até hoje, converso com algumas mulheres que doaram e agradeço, porque elas beneficiaram não só minha filha, mas também os prematuros e outros bebês que estavam internados. O leite materno é um alimento rico não só em nutriente, mas em amor. É só pensar nisso para perceber que a doação vale muito a pena.”
Nádia Vieira, 28 anos, professora, mãe de Lavínia, 1 ano e 3 meses

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