• Cristiane Rogério
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Criança ouvindo música (Foto: Getty Images)

Criança ouvindo música (Foto: Getty Images)

As lembranças que eu tenho da minha infância em relação a repertório musical giram ao redor do objeto redondo altamente desejado da época: o disco de vinil. Era uma vitrola apenas, mas vários artistas se revezavam na convivência com seis pessoas – meus pais e meus irmãos. Íamos de Deep Purple a Altemar Dutra, passando por Zé Keti, The Commodores e os que mais se destacaram: Beatles e Chico Buarque. Cresci assim, chorando com a pedra atirada na Geni, inventando uma coreografia para Come together e sambando Beth Carvalho.

Agora, toda vez que abro a lista do Spotify da minha filha Clarice, 7 anos, tem algo de muito parecido: Beatles, Bruno Mars e Maroon 5 se misturam à trilha sonora do filme Moana e da série dos Detetives do prédio azul. Sem contar Os saltimbancos, da minha infância, e o Palavra Cantada, dos meus primeiros anos como repórter, que nós apresentamos a ela com muito prazer. O pop atual vem do pai, que tem gosto musical variado e adora cantar.
Resultado? Nos divertimos muito, dançamos sempre, e o trânsito fica menos estressante regado a tantas playlists. Seja qual for a mídia, uma lista das músicas preferidas é parte da história das nossas vidas. Veja, a seguir, toques e afetos para você ficar de olho, ao ajudar o seu filho a preencher essa trilha tão especial.

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TROCA DE REPERTÓRIOS

Você, o seu filho, o pai dele... Cada um tem um gosto, a partir das próprias vivências. “Penso nas minhas experiências sociais, que tinham a ver com o que meus amigos ouviam”, diz o músico, escritor e contador de histórias Cristiano Gouveia, pai de Joaquim, 11 anos. “Por isso, me preocupo em ampliar o repertório musical, não só o dele, mas também o meu. Conheço várias coisas que, se não fosse por ele, talvez não tivesse acesso, e não importa se eu aprecio ou não.” Para Cristiano, essa aproximação é um jeito de a criança saber que o que ela pensa ou sente nos interessa. “Meu filho percebe essa troca de músicas e fica atento também ao que eu gosto. Prefiro trocar dicas do que simplesmente dizer ‘você tem de ouvir isso’.”

CF309-SOL-CULTURA (Foto: Mariana Weber*)

DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO

Há muitas maneiras de trazer a história musical da família para a conversa. Um dos grupos que mais simbolizam isso no Brasil é o Beatles Para Crianças, que há cinco anos leva pessoas de todas as idades aos seus shows com o repertório do quarteto inglês. Além das canções, os músicos expõem sua paixão pela banda. Experiências comoventes na plateia não faltam. “Sempre tem um monte de pais se abraçando no final das músicas. Houve uma vez em que uma família inteira foi ver o show junto, porque o avô tinha falecido uma semana antes e ele amava Beatles. Imagina a nossa cara!”, conta o educador musical Fábio Freire, um dos idealizadores do BPC, e pai de Guilherme, 7 anos.

SEM PRECONCEITO

É no nosso coração musical que podemos lidar com a mistura da cultura popular com a erudita. Fábio Freire defende que é papel do adulto estar aberto, sem preconceitos, para apresentar diferentes estilos de sons aos pequenos. “Não dá para colocar a criança numa bolha”, diz. Segundo Fábio, ela vai aprendendo que as músicas podem variar conforme o contexto. “A gente também é assim. Na roda com meus amigos, o que eu mais gosto de tocar são os sertanejos antigos. Já Milton Nascimento, prefiro ouvir sozinho”, diz. “Cabe aos pais a função de mostrar o novo, mas forçar o filho a curtir é ruim.”

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CF309-SOL-CULTURA (Foto: Mariana Weber*)

SHOW COM OS FILHOS, SIM!

O educador musical Fábio Freire conta que os adultos se surpreendem com a reação das crianças e deles mesmos, porque todos curtem o show da mesma forma. “Talvez porque nós não tratamos as crianças de maneira diferente. É show de rock!”, diz. Para a atriz e compositora Júlia Medeiros, do grupo de teatro musical Ponto de Partida, seja no palco com sua trupe e o coral de crianças Meninos de Araçuaí, seja na plateia, com o marido, o músico Pablo Bertola, e os filhos Theo, 7 anos, e Tomé, 3, um show ao vivo é sempre um programa positivo. “A experiência faz com que as crianças tenham uma relação muito afetuosa com a música”, diz.

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O PAPEL DA ESCOLA

Esse é um ambiente poderoso para falar sobre o assunto. É papel da escola apontar a história da música e da humanidade, abordar o fortalecimento da cultura e dos povos. “Pode-se ouvir ações e pesquisas como as da educadora e musicóloga Lydia Hortélio, com gravações incríveis de descobertas musicais”, diz o músico Cristiano Gouveia. Com certeza, só temos a ganhar. “Uma chance de olhar junto para a nossa música e a do mundo, de onde ela veio e para onde está indo. E isso vai chegar à família inteira”, afirma Cristiano.

CF309-SOL-CULTURA (Foto: Mariana Weber*)

TRILHAS DE CINEMA

Para Júlia Medeiros, as crianças se interessam bastante por músicas que sugerem imagens ou aquelas com histórias contadas. Daí o sucesso de grupos que narram enredos interessantes, emotivos ou engraçados, como o repertório de Palavra Cantada, Tiquequê, Grupo Trii ou até mesmo os trabalhos de Adriana Calcanhoto com a Partimpim. Ela também fica de olho nos filmes e espetáculos. “O Theo foi assistir a Aladdin e amou, então, fomos escutar a trilha sonora juntos.”

PARA FAZER SEMPRE QUE PUDER

• Ouvir um disco inteiro – deixe  rolando...

• Dançar livremente no meio da sala.

• Conversar sobre o que a música fala.

• Tentar identificar com o seu filho os instrumentos naquela música.

• Apresentar a ele uma música especial da sua infância ou adolescência.

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