• Texto: Aryane Cararo | Vídeo: Amanda Filippi | Edição: Vitor Bernardes
Atualizado em
           (Foto: Divulgação)

Nada do que Rampazo faz é aleatório. Seu trabalho é fruto  de muita reflexão e discussão em torno de um tema (Foto: Divulgação)

Tudo aconteceu muito cedo na vida do menino da Zona Leste de São Paulo, que revendia geladinho para ajudar a mãe. Tinha 12 anos quando seus pais se separaram, e decidiu contribuir com dinheiro em casa. Foi também guardador de sacola no mercadinho e empacotador de figurinhas em uma gráfica. Aos 14, era office boy. Aos 17, conheceu Eva, a mulher com quem se casou dois anos depois. Aos 20, foi pai de Gabriela e aos 25, de Giulia – que têm hoje 28 e 23 anos. As exigências da vida poderiam ter lhe tirado os sonhos. Mas o escritor e ilustrador Alexandre Rampazo, 48, pelo visto, gosta do realismo mágico e de espalhar fantasia por aí – desde que, também muito cedo, teve contato com o mundo das histórias em quadrinhos.

Assista à entrevista com Alexandre Rampazo, no dia da entrega do prêmio: 

Foi durante uma visita à prima de sua mãe que ele se deparou com uma caixa repleta de gibis. O encontro foi tão marcante que Alexandre passou a criar seus super-heróis. “Um dia, até costurou seu próprio disfarce de Homem Aranha com os restos de tecidos que seu pai trazia do trabalho”, conta Eva, que nos presenteou com as histórias de infância aqui relatadas. Mas foi na adolescência que ele começou a ir a feiras de trocas de HQs. E foi por ali que descobriu sua vocação para o mundo da ilustração e do faz de conta.

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Certo dia, visitou uma editora para saber como era o ofício de um ilustrador. Se tivesse seguido o conselho de quem o atendeu, jamais conheceríamos seu talento. Pouco tempo depois, partiu para um curso técnico de publicidade, onde conheceu Eva.

Um ano mais tarde, já trabalhava para uma pequena editora como assistente de arte. Foi mais ou menos nessa época, aos 20, que virou pai – ou “um pai muito mãe”, como diz Eva. A grana sempre curta quase o tirou de seu propósito, quando pensou em trabalhar em banco.

Mas Eva foi taxativa: preferia viver com pouco dinheiro do que com um marido infeliz. E lá foi ele montar seu portfólio. Com a pasta embaixo do braço, bateu de porta em porta, até um dia ser contratado por uma rede de lojas como ilustrador de livros infantis. Depois de muito suor, a magia começava a acontecer.

CF307-PREMIO-MONTEIRO-LOBATO (Foto: Divulgação)

 (Fotos: Reprodução)

SOBRE ESCOLHAS E SUCESSO

A este trabalho, seguiram-se algumas capas de livros para as editoras Saraiva e Paulinas e, em 1997, o emprego em uma agência de publicidade. Só então conseguiu comprar um computador e fazer um curso de Design Gráfico, na Faculdade de Belas Artes (SP). A loucura do mercado publicitário, no entanto, com entregas que viravam as madrugadas, fez com que, dez anos depois, ele decidisse se dedicar apenas aos livros infantis. 
Rampazo já havia ilustrado para muitos autores, mas sentia vontade de ter um trabalho autoral e, assim, nasceu A Menina que Procurava (Larousse), sobre uma garota que sempre estava em busca de algo, mas nunca encontrava. No caso de Alexandre, essa história encontrou seu caminho no dia do seu aniversário de 37 anos, em 8 de abril de 2008, quando assinou contrato com a editora Larousse.

Os sonhos e o universo mágico, presentes em outras obras do autor, são algumas de suas paixões. Não por acaso, a magia é o mote de Um Universo Numa Caixa de Fósforos (Panda Books), a respeito de um menino que guarda as coisas mais extraordinárias dentro de uma caixinha só para ele.

Alexandre também é apaixonado por astronomia, tempo e relatividade das coisas e das pessoas. Nessa relação espaço-tempo encaixa-se Me Encontre no Sexto Andar (Hedra, 2012), sobre um menino que encontra uma caixa preta capaz de prever o futuro. Não à toa, o autor adora o filme De Volta Para o Futuro – tem até uma miniatura do carro DeLorean no escritório.

Ela divide espaço com um calendário, um bloco de anotações e post-its colados no computador, que servem para lembrar dos prazos e deixar à vista ideias e referências. “Bem diferente do que acena o senso comum, de que todo artista é louco, distraído e desorganizado”, diz Eva, referindo-se à forma ordeira e comprometida com que Alexandre costuma trabalhar. 

Ler, pesquisar, fazer e refazer, assim é o seu trabalho. Foi para se reciclar e ter contato com outros ilustradores que Alexandre trabalhou na Maurício de Sousa Produções de 2012 a 2015. Saiu de lá para se dedicar somente aos livros.

Assim, em 2016, lançou o premiado Este é o Lobo (DCL), que entrou na 12ª edição dos Melhores Livros Infantis do Ano da CRESCER. Em 2017, outro sucesso, indicado na 13ª edição de nossa lista: A Cor de Coraline (Rocco), no qual a menina fica confusa ao ter de emprestar um lápis cor de pele – da pele de quem?

Os dois lançamentos de 2018 entraram na seleção deste ano: Se Eu Abrir Esta Porta Agora... (Sesi-SP Editora) e Aqui, Bem Perto (Moderna). Tanta produção não passou despercebida pelos jurados, que o consideraram o autor de maior destaque para ganhar o Troféu Monteiro Lobato de Literatura Infantojuvenil deste ano. Recentemente, ele lançou A História do Pássaro e o Realejo (Trioleca), e outros dois em parceria. E, pela ascendente de seu trabalho, parece que ainda teremos muitas obras-primas – produzidas enquanto ele também cozinha, cuida dos gatos, prepara suas falas em eventos, responde e-mails e mergulha no universo literário que tanto aprecia.

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