• Nathália Armendro, do home office
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Pais devem tratar a ereção infantil de forma natural, sem broncas e punições (Foto: Pexels)

Pais devem tratar a ereção infantil de forma natural, sem broncas e punições (Foto: Pexels)

O assunto pode ser tabu e até constrangedor para alguns pais, mas a ereção infantil é, na verdade, um acontecimento fisiológico, normal e esperado. A forma como os pais tratam o assunto, essa sim, pode contribuir para traumas. Por isso é tão importante saber como abordar e tratar o episódio em casa.

“Uma forma simples de explicar a ereção infantil é você imaginar que está sentada e, se eu bater em seu joelho com um martelo, a perna vai subir independentemente da sua vontade. Isso se chama arco reflexo simples. Uma reação que ocorre sem a necessidade de um comando do cérebro. E a ereção infantil é um arco reflexo até os 7, 8, 9 anos de idade”, explica o pediatra Tadeu Fernandes, presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

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Segundo o especialista, essa reação pode acontecer por estímulos diversos, como a vontade de fazer xixi (a bexiga cheia pode estimular o pênis a ficar duro), a constipação intestinal (também por estímulo do bolo fecal), ou até por estímulos físicos de toque. “A criança é curiosa por natureza, e o menino aprende que mexer na região do testículo ou no próprio pênis, o deixa duro. Então ele faz isso por curiosidade, para experimentar essas novas sensações. Não tem nada a ver com intenção sexual”, explica.

A pedagoga Angélica Camargo trabalhou por 2 anos em uma creche pública no ABC paulista e conta que, todos os dias, na hora da soneca, um aluno de 3 anos tinha ereção. “O que nos chamava a atenção é que ele friccionava o pênis até dormir. Eu me perguntava se essa criança tinha presenciado alguma coisa, assistido alguma pornografia”, lembra.

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Para a psicóloga Leiliane Rocha, especialista em Sexualidade e autora do livro digital Sexualidade Infantil Sem Segredos e do Programa PAS - Prevenção ao Abuso Sexual, é importante tratar o assunto com naturalidade. “A maioria dos adultos se incomoda com a ereção infantil porque nossa geração recebeu uma educação sexual repressora e inadequada, resultando em uma percepção somente sexualizada e erótica dos órgãos genitais. Assim, facilmente, relacionamos ereção do pênis a sexo, não importa a idade. Isso é um equívoco”, afirma.

Uma mãe que preferiu não se identificar relatou à CRESCER que o filho de 3 anos tinha ereção quando ela o acariciava nas costas, por exemplo. A família chegou a procurar um médico, que explicou que a ocorrência era bastante normal.

“É importante os pais entenderem que há uma diferença enorme entre a sexualidade infantil e a sexualidade após a puberdade e fase adulta. Para começo de conversa, a criança não tem hormônios sexuais, não tem fantasias e nem repertório sexual. Assim, quando uma criança tem uma ereção, é simplesmente uma resposta natural do corpo: vontade de fazer xixi, o toque dos pais ou cuidadores na troca de fraldas ou porque a própria criança tocou. Não há desejo sexual como ocorre a partir da adolescência. Se trata de uma resposta a estímulos físicos, assim como a criança sente cócegas quando brincamos tocando em sua barriga”, diz Leiliane Rocha.

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Como agir?

Depois dos 2 ou 3 anos de idade, pode ser comum que a criança vá mostrar aos pais a sua ereção. Neste momento, é importante não reprimir o comportamento, tampouco rir ou ridicularizar o episódio. “Quando isso acontecer, jamais reaja negativamente, seja em expressão facial ou tom de voz. Não brigue com a criança ou diga que é feio ela vir te mostrar. Ela só quer entender como funciona seu corpo e suas sensações”, reforça a psicóloga.

O pediatra Tadeu Fernandes concorda: “Não diga que é feio, que é sujo, ‘tire a mão daí’ ou ‘vá lavar as mãos’. Isso pode, no futuro, levar a traumas sexuais. Não se deve castigar, nem ter nenhuma reação punitiva. Os pais devem apenas explicar que isso faz parte da intimidade de cada um, e que não deve, por exemplo, ser feito na frente dos outros".

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E quanto aos mais velhos, quando a intenção começa a ser sexual? “É importante deixar a natureza seguir o seu curso. Não é saudável proibir o toque. O mais importante é manter um canal de diálogo aberto, para ter a confiança desse pré-adolescente, e informá-lo sobre as mudanças de cada fase. Os pais precisam aceitar que o filho cresceu e que isso faz parte”, afirma o médico.

“Quando os pais conversam sobre o corpo e suas sensações desde muito cedo com a criança, ao chegar a puberdade e adolescência, a conversa se tornará muito mais tranquila e fluida. Nesta fase é fundamental esclarecer para o menino que ele continuará tendo suas ereções, que se poderá acordar com a cueca molhada por causa da polução noturna, abordando também outras transformações corporais e emocionais”, reforça a psicóloga Leiliane Rocha.

Quando se preocupar?

As ereções consideradas normais e fisiológicas acontecem, segundo Tadeu, esporadicamente. “Vale ficar em alerta se a ereção passar a ser um estado constante. Neste caso, pode se tratar de uma doença raríssima chamada Priapismo – um estado de ereção constante causado por pequenos tumores benignos na saída do nervo da medula espinhal. Neste caso, é indicado procurar um médico para iniciar um tratamento”, explica. A psicóloga Leiliane Rocha também sugere procurar a ajuda de um especialista se a criança se tocar excessivamente, podendo se tratar de um quadro de masturbação compulsiva.